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Callinicos debate crise mundial em evento na Escola Politécnica

Efeitos da crise na classe trabalhadora foi um dos assuntos da mesa-redonda, que também teve a participação do sociólogo Maurício Martins.
Talita Rodrigues - EPSJV/Fiocruz | 23/07/2009 08h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h47


 Uma crise longa, com efeitos desiguais. Essa foi uma das definições feitas pelo inglês Alex Callinicos, da Universidade de York, durante a mesa-redonda ‘Trabalho, Crise e Conhecimento’, realizada na Escola Politécnica Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), no dia 22 de julho. O evento também teve a participação do sociólogo brasileiro Maurício Vieira Martins, da Universidade Federal Fluminense (UFF).



“Os efeitos da crise são desiguais, pois a crise que afeta as grandes economias mundiais não é a mesma que atinge os países periféricos. As economias que dependem muito da exportação, por exemplo, sofrem mais efeitos que as dos países que não têm essa dependência”, disse Callinicos.



A financeirização da economia, principalmente nos países mais desenvolvidos, é apontada por Callinicos como uma das principais causas da crise atual, que ele considera a pior desde a década de 1930. “Houve um aumento dos empréstimos e as pessoas começaram a gastar. Quando esse sistema começou a entrar em colapso, todos tiveram grandes perdas”, observou o professor, completando: “A economia americana, por exemplo, sofreu uma grave crise de rentabilidade e a classe trabalhadora foi esmagada nesse processo. Com a diminuição dos salários, os trabalhadores não têm dinheiro para gastar e a economia fica estagnada”.



Ao debater os efeitos da crise sobre a classe trabalhadora, Maurício Martins questionou se os momentos de crise podem trazer um aumento da consciência dos trabalhadores. Para o sociólogo, isso não acontece. “Para haver essa mudança, são levados em conta fatores históricos, que não dependem só das condições econômicas. Nem sempre de uma crise profunda, emerge uma classe trabalhadora mais revolucionária. Na Alemanha, na década de 1920, houve uma fortalecimento da extrema direita”, disse Maurício, referindo-se ao surgimento do Nazismo, após uma profunda crise econômica enfrentada pela Alemanha.



Para Maurício, em momentos de perda de empregos e insolvências das famílias, podem ser encontradas percepções mais nítidas da contrariedade do modelo econômico capitalista. “O processo de mercantilização de uma economia é também um processo de ocultação de certas relações sociais. Se numa economia fortemente mercantilizada determinadas relações de expropriação ficam encobertas, num momento de crise é como se as relações dos agentes econômicos se tornassem momentaneamente mais nítidas”, afirmou.



Callinicos, que usa a filosofia da ciência para o estudo do capital, destacou que essa é também uma crise ideológica porque está sob o abrigo do neoliberalismo. “Estamos apenas no início dessa crise. Ainda não sabemos qual será o seu impacto e como ela vai se desdobrar ao longo dos anos. O que podemos dizer é que não há limites para o capital e que depois da queda, é possível que o capitalismo se expanda”, ressaltou o professor, que está finalizando um livro sobre a crise.



Maurício também falou sobre o darwinismo social, segundo o qual as sociedades também estariam sujeitas à lei da seleção natural, em que só as mais fortes podem sobreviver. “Caracteriza-se o mundo social como uma selva darwinista. Essas imagens são recorrentes em tempos de crise. Nos meios de comunicação, temos programas e reality shows nos quais a competição entre humanos é exaltada e apresentada como modelo a ser seguido”.



A mesa-redonda foi organizada pelo grupo de pesquisa ‘Epistemologia: Ciência, Política, Educação e Saúde’, da EPSJV, que estuda a produção do conhecimento relacionada ao trabalho, às políticas e à educação em saúde, a partir da investigação das bases teórico-epistemológicas e sociopolíticas da ciência contemporânea.