Feminista, LGBTQI+, Negrxs, Política, Religião e Saúde Mental. Esses são os seis coletivos criados pelos estudantes do ensino médio integrado à educação profissional da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz). Em um espaço que se pretende livre de preconceitos e intolerância, os jovens se reúnem cerca de duas vezes por mês para debater questões sociais de forma democrática. A ideia de construir coletivos surgiu há alguns anos, em face da necessidade de espaços para o diálogo sobre temas polêmicos na sociedade. “Estamos em uma escola politécnica que, assim como a sociedade como um todo, é plural. Portanto, valorizamos e precisamos falar sobre esses temas ‘tabus’ no espaço escolar”, afirma Giovanna Lemos, aluna do 3º do ensino médio, da habilitação de Biotecnologia.
Giovanna é uma das coordenadoras do coletivo de Religião que, através de encontros interativos, discute diversidade religiosa e intolerância. “Tentamos diversificar e falar sobre várias religiões, porque acreditamos na pluralidade e na curiosidade dos estudantes a respeito delas. Ainda estamos planejando, mas pensamos em fazer ações dentro e fora da escola. Cada um precisa se expressar na sua religiosidade e todos precisam respeitar”, explica a estudante.
Para fazer frente ao machismo e fortalecer a luta pelos direitos das mulheres e pelo fim das desigualdades de gênero, o coletivo feminista trouxe para o espaço escolar a discussão sobre o lugar da mulher na sociedade. “Discutimos questões relacionadas ao assédio, ao corpo feminino, às violências contra a mulher, à cultura do estupro, isso tudo englobando uma temática política de pensar como é o direito das mulheres no sistema capitalista, no patriarcado”, afirma Maria Luíza Seabra, aluna do 3º ano ensino médio, da habilitação de Análises Clínicas. Como estratégia para combater condutas machistas especificamente dentro da EPSJV/Fiocruz, em 2018, o coletivo espalhou cartazes com frases como: ‘Eu não mereço ser estuprada’ e ‘Não quero o seu elogio, mas sim o seu respeito’. Além disso, Maria Luíza ressalta que o grupo está aberto a participar de eventos institucionais e pensar em atividades integradas com outros coletivos: “Vamos mostrar que essas temáticas estão todas interligadas na sociedade. É muito bom ter essa autonomia de planejar e discutir esses temas dentro da escola”, diz.
No coletivo LGBTQI+, os participantes trabalham vertentes como autoaceitação, com foco na promoção da liberdade e no rompimento de estereótipos, e LGBTfobia. “Falamos sobre como podemos romper com o padrão heteronormativo que foi estabelecido por nossa sociedade, e que reprime todos e todas da comunidade LGBTQ+ há séculos, discutimos a criminalização e a saúde dessas pessoas na nossa sociedade”, ressalta Julio Moraes, aluno do 3º ano do ensino médio, da habilitação de Biotecnologia, e coordenador do coletivo. Nos próximos encontros, Julio aponta que o coletivo discutirá diversidade, resistência e políticas públicas: “Vamos trazer para o debate de que forma a comunidade LGBTQ+ resiste diante de uma sociedade muito preconceituosa e como podemos obter informações sobre as políticas públicas das pessoas LGBTQ+”.
Como forma de mobilizar a escola como um todo, o coletivo LGBTQI+ tem em mente alguns projetos que, segundo Julio, serão colocados em prática em breve: “Queremos realizar um grande projeto com o Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz para celebrar o mês da Diversidade, em junho. Com isso, nós queremos produzir uma exposição na EPSJV para falar sobre a diversidade de gênero. Vamos seguir na luta contra a LGBTfobia”.
De forma crítica, o coletivo negrxs também se reúne para fazer análises da sociedade e discutir assuntos como racismo, branquitude, negritude, cultura afro, colorismo, aceitação negra, dentre outros. “É um bate-papo sobre muitos assuntos. Os coordenadores levantam algumas temáticas, mas elas vão mudando em diálogo com os participantes”, afirma a coordenadora do coletivo, Joyce Rodrigues, aluna do 3° de Análises Clínicas, ressaltando a importância dessa mobilização estudantil: “Temos a finalidade de unir as pessoas da Escola para pensar em formas de combate ao racismo e problematizar a temática racial no currículo escolar. Próximo do dia Internacional contra a Discriminação Racial, comemorado dia 21 de março, fizemos um mural na sala expondo discursos racistas feitos em redes sociais bem atuais. Foi bem legal nesse dia pela discussão que gerou”, conta.
Da necessidade de partilhar momentos de angústia e de felicidade em um espaço de acolhimento surgiu o coletivo de saúde mental. Segundo Eduarda Motta, uma das coordenadoras e estudante do ensino médio, da habilitação de Gerência em Saúde, o grupo trata de questões do campo emocional que atingem os adolescentes. “A gente conversa, por exemplo, sobre como estudar em uma escola integral [como a EPSJV] impacta as nossas vidas. Procuramos deixar o ambiente o mais acolhedor possível para que todos possam se abrir”, destaca Eduarda, que fala também dos planos do coletivo: “Queremos contar com profissionais como psicólogos que possam falar sobre a importância do cuidado com a saúde mental”.
Para desmistificar a ideia de que “política não se discute”, um grupo de etudantes se uniu também para falar sobre como a sociedade se organiza, fatos históricos, ideologias e acontecimentos recentes da vida política nacional e internacional. “Por sermos jovens, nossas opiniões e posicionamentos políticos costumam ser deslegitimados na sociedade. Queremos acabar com essa ideia. Nosso coletivo trabalha com os acontecimentos atuais e tenta traduzi-los da forma mais simples possível para que todos possam entender a conjuntura atual”, conta Ana Carolina Kobe, estudante do 2º ano do ensino médio, da habilitação de Análises Clínicas.
Coletivos
Em 2016, os alunos do Grêmio Estudantil da EPSJV/Fiocruz deram o ponta pé inicial na criação dos coletivos. Desde então, os encontros acontecem uma ou duas vezes por mês no horário das Atividades Diversas.