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Educação Popular, Direito e Saúde: EPSJV/Fiocruz inicia curso em Cachoeiras de Macacu

Formação destinada a trabalhadores rurais e da saúde e lideranças locais visa fortalecer as políticas públicas de saúde no território que convive com a ameaça de construção de barragem
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 16/04/2019 10h31 - Atualizado em 01/07/2022 09h44

Enfraquecimento da aplicação de políticas públicas e desmobilização econômica marcam a região do Vale do Guapiaçu, localizada no município de Cachoeiras de Macacu (RJ), face a um projeto de construção de uma barragem que se autorizada irá alagar, aproximadamente, 20 km² da localidade e desapropriar cerca de três mil pessoas. O governo do estado do Rio de Janeiro alega que a barragem serviria para incrementar o fornecimento de água para o Sistema Imunana-Laranjal, que atende a demanda hídrica dos municípios de Itaboraí, São Gonçalo, Niterói e Ilha de Paquetá, que já sofrem com a escassez de água. Moradores e movimentos sociais, como o Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), denunciam que além de desabrigar cerca de centenas de família, a barragem poderia causar uma crise de abastecimento de alimentos na região.

Para fazer frente a esse preocupante cenário, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e o MAB, em parceria com a Rede de Médicas e Médicos Populares e a prefeitura de Cachoeiras de Macacu, deram início no dia 10 abril ao curso de Educação Popular, Direito e Participação Social: Bordando a Saúde das Mulheres Atingidas por Barragens. O objetivo da iniciativa é discutir a luta por direitos e, em especial, o direito à saúde em áreas atingidas por barragens, por meio da formação de 35 trabalhadores rurais e da saúde, entre eles agentes comunitários de saúde e técnicos de enfermagem, além de lideranças locais. “Nossa ideia é trabalhar com a educação popular e com o princípio do diálogo, pensando sempre a produção do conhecimento de forma compartilhada e tendo como referência a experiência prévia dos educandos, que são em sua maioria mulheres”, ressalta a professora-pesquisadora da EPSJV/Fiocruz, Grasiele Nespoli, que divide a coordenação do curso com o Ronaldo Travassos, também da EPSJV/Fiocruz.

Com carga horária total de 114 horas, o curso é dividido em momentos de concentração e dispersão. Segundo Grasiele, esse primeiro encontro consistiu numa preparação para o ponto de partida do curso, que é a produção de um Diagnóstico Rápido Participativo (DRP) – técnica da saúde pública usada para fazer um levantamento dos condicionantes e determinantes da saúde de uma população. “Fizemos um momento de concentração, no qual ouvimos bastante sobre a realidade dos nossos alunos, e agora eles farão um trabalho de leitura dessa realidade durante a dispersão. Nosso objetivo é provocar um primeiro olhar sobre o território que eles vivem, buscando a identificação de elementos que são importantes para compreender os problemas que atravessam esse espaço”, afirma a professora-pesquisadora, que explica que os alunos irão até os territórios para fazer um levantamento dos recursos sociais, além de identificar fragilidades e potencialidades locais: “Eles irão observar o que tem no território - como igreja, escola -, além das áreas de riscos e situações que podem agravar os problemas de saúde. Também vão entrevistar anciões, lideranças e farão rodas de conversa com a população”, explica Grasiele.

O DRP ainda acontecerá em mais dois momentos de concentração, que irão sistematizar as experiências do campo durante o mês de maio. “Com isso, teremos seminário de apresentação no fim de maio, e em junho começaremos a segunda etapa do curso, que consiste em rodas de conversa para aprofundar a discussão sobre os problemas trazidos pelos educandos no DRP”, aponta Grasiele.

Paralelamente, os educandos estão sendo formadas na técnica da Arpillaria – metodologia latina de educação popular realizada através de uma técnica de bordado originária do Chile, na qual as mulheres contavam suas histórias em bordados no tecido mostrando a situação de repressão durante a ditadura militar de Augusto Pinochet. “Ao final do curso em agosto, faremos uma mostra com exposição dos trabalhos produzidos no âmbito do curso, através dessa técnica. A ideia é trazer essa exposição para a EPSJV/Fiocruz em setembro”, finaliza Grasiele.

Luta contra a barragem

Para Travassos, a ameaça de construção da barragem afeta bastante a vida dos moradores do Vale do Guapiaçu. E eles, em sua grande maioria, são engajados com essa causa, junto ao MAB. “A luta já está presente no território, viemos apenas para fortalecê-la”, destaca. “A região sofre com a falta de médicos, as estradas não têm manutenção, não têm transporte coletivo. Tem um desinvestimento muito claro, um esvaziamento das políticas públicas. Os moradores vivem ansiosos, inseguros das suas formas de vida com essa ameaça de todo o seu modo de existência”, lamenta Grasiele.

Saúde ambiental

No mesmo território, a EPSJV/Fiocruz também começará, em breve, o curso de Educação Popular em Saúde Ambiental em Comunidades: Pedagogia das Águas em Movimento. O curso, com previsão de início em maio, objetiva realizar estudos e práticas coletivas de manejo das águas que visem à promoção de territórios saudáveis e sustentáveis para as comunidades localizadas no Vale do Rio Guapiaçu. O curso tem como público-alvo agricultores familiares e atores sociais locais que serão formados em agentes populares em saúde. Como resultado da formação, será construído um material pedagógico territorializado sobre o manejo das águas e as ameaças à saúde ambiental e humana.

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Livros produzidos pela EPSJV para a formação de educadores populares em saúde serão utilizados como material didático pelo Projeto Itinerário do Saber