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EPSJV abre inscrições para o curso de formação profissional “Respiro: sentidos do trabalho em saúde no cotidiano da pandemia”

Em parceria com a ENSP/Fiocruz, formação será oferecida para 30 trabalhadores com ensino médio ou graduação
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 01/07/2021 15h54 - Atualizado em 01/07/2022 09h42

A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) está com inscrições abertas para o curso de formação profissional “Respiro: sentidos do trabalho em saúde no cotidiano da pandemia”. Trabalhadores com diploma de ensino médio podem se inscrever de 1º a 13 de julho. Já os trabalhadores com graduação devem se inscrever até dia 2 de julho. Em uma parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz), o curso é um dos desdobramentos do “Respiro – Projeto de investigação e apoio aos Trabalhadores de Saúde na pandemia: (co)movendo a vida entre (ultra)penosidades e (re)existências”, um estudo aprovado, em 2020, no edital “Geração de Conhecimento – Covid-19 – Encomendas Estratégicas”, do Programa Inova Fiocruz. As aulas serão ministradas de 5 de agosto a 9 de dezembro de 2021, de forma online, por meio do Ambiente Moodle e da Plataforma Zoom.

Segundo o professor-pesquisador da EPSJV, Carlos Batistella, que coordena o curso em conjunto com a pesquisadora da ENSP/Fiocruz, Eliane Vianna, a formação busca discutir as penosidades e (re)existências do trabalhador da saúde, construindo um espaço de diálogo, reflexão e troca entre os trabalhadores, que poderão compartilhar seus conhecimentos, sentimentos e vivências do mundo do trabalho em tempos de Covid-19. “As penosidades com as condições inadequadas, a precarização e a intensificação do trabalho, tudo isso já existia no contexto pré-pandemia. Mas o nosso pressuposto é de que essas penosidades vêm sendo atualizadas na pandemia e o contexto dramático tem colocado uma sobrecarga maior agora, não somente de responsabilidade, mas também de sofrimento psíquico para esses trabalhadores”, explica.

Dessa forma, o curso foi pensado para trabalhadores da saúde com ensino médio ou graduados, que atuam ou atuaram no cuidado durante a pandemia, como recepcionistas, fisioterapeutas, maqueiros, enfermeiros, técnicos, médicos, entre outros que, alocados em Unidades Básica de Saúde, hospitais e UPAs, tiveram o seu cotidiano de trabalho transformados pelo novo coronavírus. Ao todo, serão disponibilizadas 30 vagas, sendo 15 para trabalhadores com ensino médio e 15 para trabalhadores com graduação. Para Batistella, esse é um dos maiores diferenciais do curso. “São profissionais que têm uma fronteira muito grande entre eles, de saber e poder que distingue e hierarquiza o nível médio e superior. Além disso, o curso não está voltado para a instrumentalização, ‘um saber fazer’. Ele se propõe a se constituir num espaço de escuta e trocas, onde esses trabalhadores possam trazer essa expressão das penosidades num âmbito coletivo e discutir as perspectivas de forma a valorizar alguns saberes que não são valorizados na formação”, aponta.

Batistella conta que o curso será dividido em sete eixos. Segundo ele, no primeiro, será discutido os sentidos e valores do trabalho. No segundo, as políticas de gestão e como elas reconfiguram e têm reconfigurado as práticas de trabalho. Já o terceiro eixo vai discutir as próprias condições de trabalho, que são colocadas em perspectiva. No quarto, os saberes e as práticas dos trabalhadores, ou seja, de que modo eles também são agentes importantes de produção de conhecimento no cotidiano. O eixo cinco, trata das experiências e trajetórias dos trabalhadores, no qual Batistella explica que a rememoração vai ser colocada em foco.

No eixo seis, o foco será na saúde do trabalhador e, por fim, no eixo sete estão previstas algumas conversas sobre saberes ancestrais, tradicionais e uso de outras práticas de cuidado que não aquelas que se encontram no saber biomédico. “A gente espera que esses sete eixos permitam aos estudantes trabalhadores uma reflexão e uma rememoração da sua prática, dos sentidos e valores do seu trabalho”, antecipa. 

Com carga horária de 72 horas, o curso terá momentos síncronos, nos quais os estudantes estarão juntos na sala virtual, e momentos assíncronos, com atividades que os estudantes irão realizar sozinhos ou em grupo. Os encontros virtuais ocorrerão às quintas-feiras, das 18h30 às 20h30. Os docentes são da EPSJV, da ENSP/Fiocruz, da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade do Minho, em Portugal. 

“A gente pretende partir da experiência de vida e trabalho deles na pandemia e propõe com isso uma pausa, que a gente chama de uma pausa consciente e acolhedora para reflexão e compartilhamento desse conhecimento, dos sentimentos e das vivências deles”, destaca, explicando: “Das mais diferentes vivências, desde aqueles que estão atuando diretamente na assistência à Covid-19, ou seja, atuando em nível hospitalar e ambulatorial, até aqueles que, aparentemente, não estão atuando de forma direta na assistência, mas que estão envolvidos no conjunto de ações do sistema de saúde para o enfrentamento”.

Projeto Respiro

“Respiro – Projeto de investigação e apoio aos Trabalhadores de Saúde na pandemia: (co)movendo a vida entre (ultra)penosidades e (re)existências”, é um projeto coordenado pela professora-pesquisadora da EPSJV, Monica Vieira, e pela pesquisadora da ENSP/Fiocruz, Eliane Vianna. Ele é desenvolvido em parceria com outros setores e laboratórios da Escola Politécnica e outras unidades da Fiocruz, como a Coordenação de Saúde do Trabalhador e o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz). O estudo conta ainda com parceiros externos para investigar também as repercussões da Covid-19 em Portugal, Canadá e aspectos que se destacam em países da América Latina.

De acordo com Monica, o estudo enfoca o sofrimento no trabalho em saúde e a atualização das penosidades por meio da análise das políticas de gestão e organização do trabalho; das condições de proteção e segurança do trabalhador; dos saberes e práticas ofertados e acionados; dos dispositivos de apoio; e das estratégias de enfrentamento acionados pela pandemia. “O projeto busca compreender os sentidos de vida e trabalho do profissional que atua na atenção básica e na assistência hospitalar, pelo mapeamento de suas narrativas e denúncias na mídia e redes sociais; o acompanhamento de seus processos de sofrimento e (re)existência; e a promoção de encontros para a construção de caminhos de escuta e intervenção”, explica.

Monica conta que, desde a aprovação do projeto, a intenção de elaboração do curso já estava prevista, mas a ideia era oferecê-lo no primeiro semestre de 2022. Porém, ela afirma que no desenrolar do processo, a equipe considerou antecipar o início da formação. “Decidimos pela antecipação por acharmos pertinente considerar esse trabalho com os trabalhadores e não para os trabalhadores”, disse, e falou sobre os outros desdobramentos do projeto: “Temos ainda outras quatro atividades de campo como as entrevistas de profundidade, rodas de conversa, rodas de cuidado e fóruns de debate temáticos de acordo com as demandas dos trabalhadores, que estão acontecendo simultaneamente”.

Sobre outras ações do projeto, segundo a coordenadora, há ainda em andamento as lives promovidas através da página @projetorespiro no Instagram e uma disciplina do Mestrado Profissional da EPSJV, que será finalizada em julho de 2021, na qual foram discutidos os fundamentos e os pressupostos teóricos do projeto. Além disso, o projeto conta ainda com um grupo de estudos ampliado realizado desde setembro de 2020, que, inicialmente, era mais restrito aos pesquisadores e alunos do projeto e depois ampliado aos trabalhadores da saúde interessados em refletir sobre as dimensões que afetam o trabalho durante a pandemia. “Por fim, já estamos colocando as tendas em algumas unidades da Fiocruz, que servirão de apoio aos trabalhadores. Será um local de descanso, de rodas de conversa e práticas de ioga e meditação”, adianta.

Para mais informações, siga @projetorespiro no Instagram ou envie uma mensagem para o e-mail: projetorespiro.epsjv@fiocruz.br

Inscreva-se aqui.