Entre os dias 14 e 17 de abril, o Rio de Janeiro sedia a Oficina de Atualização Pedagógica para Tutores de Apoio à Docência (TAD). Promovido pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) em parceria com Escolas de Saúde Pública, Escolas Técnicas do Sistema Único de Saúde (SUS) e Instituições de Ensino Superior, o evento reúne representantes da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES/MS), do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e especialistas da Atenção Primária à Saúde (APS) e da Vigilância em Saúde (VS).
A mesa de abertura contou com a participação de Edilene Menezes, coordenadora do Laboratório de Educação Profissional em Vigilância em Saúde (Lavsa), Grácia Gondim, coordenadora geral do Projeto Fortalecimento da Educação Profissional Técnica em Saúde no SUS (EdProfSUS); Ingrid D’ávilla, vice-diretora de Ensino e Informação da EPSJV; Kelly Santana, coordenadora pedagógica do Conasems; e Luis Carlos Vieira, consultor técnico da SGETS/MS.
Com o objetivo de consolidar a estrutura pedagógica do Curso de Especialização em Preceptoria na Educação Profissional em Saúde, com foco na APS e na VS, a oficina teve como objetivo preparar especialistas que irão capacitar 1.184 docentes, denominados Tutores de Apoio à Aprendizagem (TAA), que acompanharão nove mil preceptores do Programa Mais Saúde com Agente (PMSA/MS), realizado pelo Ministério da Saúde, por meio da SGTES, em parceria com o Conasems e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
A oficina tem formato híbrido: além dessa etapa presencial, haverá uma segunda etapa online, via Zoom, nos dias 28 e 29 de abril. A programação da etapa presencial incluiu painéis temáticos com docentes especialistas, leituras e discussões de textos em pequenos grupos, atividades de campo em três Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município do Rio de Janeiro (RJ), planejamento da territorialização e análise de estudos de caso.
Qualificação na prática
Durante os quatro dias de oficina, 93 especialistas, selecionados pelas Escolas Técnicas do SUS de 26 estados brasileiros e do Distrito Federal, se reuniram com o objetivo de se tornarem Tutores de Apoio à Docência.
Isabela Virgínia Oliveira, enfermeira em uma Unidade de Estratégia de Saúde da Família de Araraquara (SP) e uma das profissionais selecionadas pelo Centro de Formação de Recursos Humanos para o Sistema Único de Saúde de São Paulo (CEFORSUS-SP), destacou que a formação irá aprimorar seu trabalho: “Por exemplo, a aula que tivemos sobre território faz surgir ideias de como podemos aplicar a teoria na prática. Era algo que já fazíamos, mas, quando escutamos pessoas que trabalham e estudam sobre o tema, conseguimos levar isso de forma mais qualificada para o nosso território e trabalhar diretamente com a equipe”, relatou.
Para Grácia, esse é um dos impactos que a oficina pretende causar: “Na medida em que esses conhecimentos são construídos e ressignificados nos territórios, eles fortalecem e empoderam essas pessoas no sentido de refletirem sobre o seu processo de trabalho e suas práticas. Para isso, o curso foi estruturado a partir de uma matriz curricular com elementos que, normalmente, os cursos da saúde coletiva não têm, destacou Grácia.
EdProfSus
A oficina, que tem como meta especializar trabalhadores do SUS para desenvolver atividades docentes — com foco no ensino, na pesquisa e na extensão no território — integra o Projeto Fortalecimento da Educação Profissional Técnica em Saúde no SUS (EdProfSUS), coordenado pela EPSJV.
“O EdProfSUS é um projeto de fortalecimento da educação profissional, com ênfase na Atenção Primária e na Vigilância em Saúde para o SUS. É voltado para fortalecer estruturas locorregionais nos municípios e estados, por isso, há uma parceria com uma rede de instituições de ensino do SUS”, explicou Grácia.
Com abrangência nacional, o Programa é cooperativo e horizontal, envolvendo uma rede de instituições de ensino do SUS. A proposta é construir conhecimento de forma coletiva e articulada entre os territórios. “É um projeto que possibilita qualificar um conjunto de profissionais do SUS. Os especialistas formados na primeira etapa do curso poderão retornar às suas unidades e desenvolver processos formativos locais. Essa é a relevância: fortalecer estruturas locais com base em suas próprias necessidades”, destaca a coordenadora do EsProfSUS.
Tornar o SUS um espaço educativo é uma das heranças que o curso pretende deixar, aponta Luis Carlos Vieira, consultor técnico da SGETS/MS. “Sabemos que o SUS já é um espaço educativo, mas queremos transformá-lo, fazer com que também tenha essa intenção de formar os seus trabalhadores para a especificidade dos problemas de saúde, tanto do Brasil como um todo, mas também das suas regiões, dos seus municípios”, observou.
“Ouvir as vozes do território é realizar a pedagogia do território”
A noção de território foi um dos eixos centrais debatidos no primeiro módulo do curso. Durante a aula, o professor-pesquisador da EPSJV, Maurício Monken, destacou a importância de escutar e compreender o território onde se desenvolvem as ações em saúde, inspirado pelas reflexões do geógrafo Milton Santos.
“O território forma as condições sócio-históricas que determinam a saúde”, afirmou Monken. Nesse sentido, a pedagogia do território na construção da saúde, conceito elaborada pelo pesquisador em parceria com Grácia, foi apresentada como um processo educativo que articula experiências vividas, conhecimentos locais e conteúdos técnico-científicos. A perspectiva, segundo os pesquisadores, é fundamental para que profissionais da APS e da VS compreendam e atuem de forma integrada com os contextos em que estão inseridos.
A territorialização é um dos principais articuladores dos conteúdos apresentados no curso. “Essa formação crítico-reflexiva, que parte do pressuposto de que cada trabalhador é um sujeito singular, portador de conhecimentos e experiências, oferece a oportunidade de acessar novos saberes que, somados aos que já possui, permitem a construção de conhecimentos que vão além dos seus próprios e do que é oferecido pelo curso. E essa é uma maneira de fortalecer o SUS”, disse Grácia.
Pensar as especificidades das políticas públicas e dos problemas de saúde em regiões e municípios diferentes é um dos legados que o curso pode deixar. “Sabemos que as questões de saúde variam significativamente entre os diferentes territórios. Com este curso, um conjunto de trabalhadores se especializará em educação técnica e profissional, o que contribuirá para ampliar os espaços de formação dentro do SUS, com mais qualidade. Assim, o SUS poderá se consolidar não apenas como uma política pública de saúde, mas também como uma grande escola para seus trabalhadores”, afirmou Luis Carlos.