A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) concluiu a formação, no dia 14 de maio, da primeira turma da habilitação em Biotecnologia integrada ao Ensino Médio. O curso é oferecido em parceria com outra unidade da Fiocruz - o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos). Ao todo, 28 alunos de Biotecnologia participaram da cerimônia de formatura, que foi realizada virtualmente e contou também com os 51 estudantes formandos das habilitações de Análises Clínicas e Gerência em Saúde. “A formatura da primeira turma de Biotecnologia é o coroamento de um processo que se iniciou em 2014. Desde a sua concepção, esse curso demonstra a potência da solidariedade e de se trabalhar institucionalmente de forma articulada e integrada dentro da Fiocruz. É importante ressaltar também a parceria da Presidência da Fiocruz, que sempre nos apoiou nesse processo, e a participação do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS)”, destacou a diretora da Escola Politécnica, Anakeila Stauffer.
Anakeila ressaltou que todo esse processo formativo teve por base a formação politécnica do trabalhador, compreendendo o seu papel na sociedade e na construção cotidiana do Sistema Único de Saúde (SUS). “Um SUS que deve estar ancorado nos conhecimentos científicos, na inovação tecnológica e na dimensão do cuidado e da promoção da saúde. É uma alegria ver a juventude poder sair dessa Escola tendo uma formação humana integral”, comemorou a diretora da EPSJV.
A professora-pesquisadora da EPSJV, Tainah Galdino, que divide a coordenação da habilitação em Biotecnologia com a também professora-pesquisadora, Flávia Ribeiro, destacou o perfil da turma: “Eles eram bastante participativos, questionadores, estudiosos e dedicados, o que permitiu um diálogo frequente entre coordenação, professores e estudantes nesse processo de construção”.
Segundo Tainah, a formatura foi digna de um encerramento de ciclo repleto de novidades, com um pouco de insegurança, mas com a certeza de que a EPSJV formou profissionais aptos a entrarem no mundo do trabalho com consciência do seu papel na sociedade. “Muitos desses alunos passaram nas grandes universidades públicas do país, nos fazendo transbordar ainda mais de orgulho”, comemorou. E acrescentou dizendo que a perspectiva para o futuro desses jovens profissionais é promissora, uma vez que o técnico em Biotecnologia pode atuar de forma ampla e eficiente executando atividades laboratoriais e industriais relativas aos processos biotecnológicos, tais como produção de vacinas, elaboração de kits para diagnóstico, biofármacos, dentre outros. “Essa formação é essencial para o SUS, especialmente considerando o cenário atual”, destacou.
Tainah lamentou apenas o fato de que, por causa da pandemia de Covid-19, esses estudantes não puderam realizar o estágio presencialmente. “Com a suspensão das atividades presenciais, as coordenações e docentes se viram novamente desafiados a construírem espaços pedagógicos virtuais com o mesmo afinco e acolhimento a fim de não deixarem nenhum estudante para trás”, disse.
Na visão do estudante Júlio Moraes, que representou a turma na formatura, o evento representou a conquista de ter passado pelos quatro anos vivenciando muitas experiências novas, que outras turmas ainda não tinham vivido pela escola. “Construímos juntos com a Escola adaptações para melhorar a experiência de outros anos de Biotecnologia, através das sugestões na ementa, por exemplo”, afirmou. Para Júlio, ser a primeira turma de Biotecnologia ficou ainda mais especial dentro do cenário da pandemia e com o avanço das tecnologias e práticas de biotecnologia para a sociedade.
Outro formando que representou a turma, Wallace Nogueira, concordou: “A formação de técnicos em Biotecnologia é muito importante, principalmente agora. São formandos que estão preparados para trabalhar e ajudar nesse momento tão crítico, seja na produção de vacinas, diagnóstico ou novos medicamentos contra a Covid-19".
Outro fator importante para Wallace foi o aprendizado com matérias diferentes de outras escolas, como, por exemplo, a Iniciação à Educação Politécnica (IEP) que, segundo ele, pode proporcionar aos alunos uma nova visão sobre diversos aspectos do mundo. “Inclusive o IEP - Eixo Saúde ainda me ajudou a escolher e desenvolver o tema de minha monografia que foi sobre ‘Como os mecanismo e respostas biológicas podem se relacionar com os processos espirituais de cura?’, contou.
Uma longa trajetória...
Segundo Flávia, a habilitação técnica em Biotecnologia começou a ser pensada após um estudo sobre os egressos da especialização pós-técnica em Biotecnologia na EPSJV, denominado “Curso de especialização em biotecnologia em saúde: análise e percepção de egressos”, publicado em 2014 na revista Práxis. “Nesse trabalho, buscamos analisar as características curriculares e percepções dos egressos do curso, que teve início em Bio-Manguinhos, em 2004, e que, posteriormente, passou a ser ministrado pela Escola Politécnica, de 2004 a 2008”, relembrou. Como conclusão desse estudo, Flávia disse que foi observado pelo coletivo que seria importante a manutenção dessa formação técnica, mas em um formato integrado ao Ensino Médio. “Observamos dificuldades relacionadas à formação básica desses profissionais técnicos para a obtenção dos conhecimentos teóricos, necessários para embasar as práticas que realizam rotineiramente”, destacou.
A partir dessa pesquisa, foram realizadas diversas reuniões entre a direção de Bio-Manguinhos e da EPSJV para a inclusão desse formato na escola. Dessa forma, em 22 de dezembro de 2016, foi firmado um compromisso entre as unidades de Bio-Manguinhos, EPSJV e o Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS) por meio de uma carta assinada pelos seus respectivos diretores à época. “Esse documento teve a finalidade de formalizar o compromisso entre as instituições Bio-Manguinhos, EPSJV, CDTS e a Vice- Presidência de Gestão em Saúde da Fiocruz para a implantação do Curso técnico em nível médio em Biotecnologia na modalidade integrado, que teve início em 2017”, contou Flávia.
Antes de o curso ser iniciado, ocorreram reuniões de um Grupo de Trabalho para a elaboração das demandas formativas de um profissional técnico em Biotecnologia. O objetivo dessas reuniões, de acordo com Flávia, era realizar discussões e proposições de Bio-Manguinhos para o perfil do egresso e demandas formativas necessárias para a formação desses técnicos. “Foi acordado que os professores de áreas específicas do curso seriam alguns profissionais de Bio-Manguinhos, especialistas nas áreas para serem responsáveis por essas disciplinas. Além disso, esses profissionais foram convidados a participarem dos processos de orientação das monografias dos nossos alunos que se interessassem por esses temas. Esses professores participam ativamente desse curso com muita dedicação”, destacou a professora-pesquisadora.
Flávia explicou que, após o início do curso, em 2017, a grade curricular sofreu algumas alterações e ajustes relacionadas às questões pedagógicas do curso, de forma a buscar os melhores formatos nessa distribuição de disciplinas.
De acordo com Tainah, os desafios enfrentados ao longo do curso foram muitos, como a ausência de veteranos para apontarem os caminhos e servirem de mentores para os alunos novatos; a coordenação, por sua vez, recebendo as demandas e tentando se espelhar nos cursos coirmãos mais antigos, mas buscando um jeito próprio e um olhar específico mediante ao novo. “Foram anos tentando ajustar a grade frente às demandas pedagógicas de modo a deixá-la satisfatória para o profissional em Biotecnologia em formação. Disciplinas foram rearranjadas, pois elas precisavam ser oferecidas pelo olhar da Biotecnologia, que é um olhar multifacetado, amplo e fascinante”, concluiu.