Na madrugada de 26 de abril deste ano, dez morreram e 15 ficaram feridos em um incêndio que atingiu uma pousada onde pessoas em situação de rua e vulnerabilidade se abrigavam em Porto Alegre. A Pousada Garoa, apesar de não ser conveniada com o Sistema Único de Assistência Social (Suas), tinha contratos assinados com a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), órgão da prefeitura, que custeava a estadia. O jornal Boca de Rua, produzido e vendido por pessoas em situação ou com trajetória de rua, denunciou em 2022 as precárias condições do local, como a infestação de baratas, ratos, além de fios elétricos expostos.
Poucas horas depois, as águas começaram a subir. As fortes chuvas sobre o estado, de 26 de abril a 5 de maio, acompanhadas por enchentes, inundações e deslizamentos, afetaram mais de 2,3 milhões de gaúchos em 478 dos 497 municípios. Até o dia 10 de julho foram contabilizados 182 mortos e 29 desaparecidos pela Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul. Diante a inundação história, que afetou a vida de muitos, como fica a vida daqueles que já vivam em situação de extrema vulnerabilidade nas ruas?
A pesquisadora da UFRGS, Caroline Sarmento, conta que em Porto Alegre, apesar de muitos viverem uma situação de perda de suas casas e pertences, foram poucos os abrigos que aceitaram pessoas em situação de rua. “Há centenas de abrigos na cidade, mas são para as pessoas que tiveram as casas inundadas”, expõe. O militante do Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR), Nilson Lopes, denuncia que apenas “três ou quatro abrigos aceitavam a população de rua, mas eram distantes e não eram divulgados”. Além disso, diversas pessoas da Pousada Garoa, que tinham passado pelo incêndio, ficaram sem ter para onde ir.
Das três unidades do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) da capital gaúcha, duas fecharam por conta da enchente, restando apenas uma em funcionamento. Com a retirada da lama e início da temporada de frio na região, a Prefeitura de Porto Alegre, até o dia 2 de julho, oferecia 272 vagas para pernoite voltadas a pessoas em situação de vulnerabilidade social na cidade. No entanto, de acordo com o último censo feito pela prefeitura, havia cerca de 4,8 mil pessoas em situação de rua na capital. Diante do cenário atual do sistema de assistência social, essa população deve aumentar.