O 9° Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde (CSHS), promovido pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e o Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco), começou oficialmente na noite de terça-feira, 31 de outubro, com uma cerimônia realizada na Concha Acústica Paulo Freire, localizada dentro do campus da UFPE, em Recife (PE).
A nona edição do CSHS, também conhecido como “Abrasquinho”, conta com mais de dois mil inscritos e uma programação completa com atividades acadêmicas, culturais, políticas e terapêuticas que se estende até sexta-feira, 3 de novembro. Com o tema “Emancipação e Saúde: Decolonialidade, reparação e (re)construção crítica”, o Congresso traz para o centro do debate sobre Saúde Coletiva, a importância da interdisciplinaridade entre os saberes para a construção do conhecimento na área da saúde.
Preenchendo o auditório lotado de congressistas com música, alegria e danças carregadas de expressão popular, a apresentação da banda de Maracatu Rural Águia Misteriosa deu início oficialmente à cerimônia de abertura, que teve a participação de autoridades públicas, representantes de diversas entidades, movimentos sociais e organizações da sociedade civil.
Na mesa de abertura estiveram presentes a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, do Ministério da Saúde (MS), Isabela Pinto; o presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Fernando Pigatto; o presidente do Conselho Regional de Enfermagem de Pernambuco e deputado estadual Gilmar Júnior (PV-PE); o diretor da Fiocruz Pernambuco (Instituto Aggeu Magalhães), Pedro Miguel Neto; a secretária de Saúde da Prefeitura de Recife (PE), Luciana Albuquerque; o reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Alfredo Gomes; o coordenador de Sistemas e Serviços de Saúde da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS/Peru), Julio Pedroza; a presidente da Abrasco, Rosana Onocko; a presidente do 9º CSHS, Mônica Nunes; e a presidente da Comissão Organizadora Local de Pernambuco, Keila Silene.
Mas, afinal, por que é preciso falar sobre reparação histórica e reconstrução crítica?
“Este congresso quer apontar para a esperança do fazer, das descobertas, da invenção, da vida, da grande beleza que se forja a partir dos movimentos, gestos, pensamentos, saberes, ciências e atos decolonizadores”, explicou a presidente do 9º CSHS, Mônica Nunes, durante a sua fala na mesa de abertura. Segundo ela, os caminhos para a reparação histórica por tantas desigualdades só são possíveis de serem feitos através da escuta, de mãos dadas com os movimentos sociais, seguindo de forma engajada o cerne do projeto ético-político das Ciências Sociais e Humanas em Saúde em busca de respostas e estratégias para uma transformação social e da promoção da saúde e da vida.
“Não é fácil sanar essa dívida histórica”, acrescentou a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), do Ministério da Saúde, Isabela Pinto. “Construir todas as estratégias que precisamos de superação das diversas formas de violência e o enfrentamento das desigualdades exigem de nós intensos movimentos de integração unidos em diferentes frentes para a implementação de políticas que combatam todas as formas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerâncias”, completou Isabela.
A secretária destacou como foram importantes as proposições encaminhadas a partir do 13º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, realizado pela Abrasco, em novembro de 2022, que vêm sendo incorporadas às práticas de atuação do Ministério da Saúde em articulação e integração com outros ministérios.
Isabela Pinto citou ações, programas e políticas públicas que buscam promover equidade, dignidade, garantia de direitos e justiça social que estão sendo implementados pelo Governo Federal, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); as campanhas de vacinação; a Política Nacional de Atenção Especializada em Saúde; a Política Nacional de Saúde da População Negra; e o Programa Nacional de Equidade de Gênero, Raça, Etnia e Valorização das Trabalhadoras e dos Trabalhadores do SUS.
“A saúde não é apenas uma política social, mas uma política de desenvolvimento”, ainda frisou Isabela, contando que a ministra da Saúde, Nísia Trindade, sempre lembra como a saúde é uma prioridade no Governo Federal. “O esperançar como verbo, que é levantar, ir atrás, construir e não desistir, fazer de outro modo, depende dessa grande rede colaborativa que se une ao Ministério da Saúde e eu tenho certeza que juntos produziremos políticas potentes cujo reflexo é no bem-estar, na saúde e na vida da população brasileira”, concluiu a secretária.
Já o presidente do CNS, Fernando Pigatto, relembrou a importância do papel que a Abrasco desempenhou durante a 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, para que fosse possível a construção do Sistema Único de Saúde, que completou 35 anos em outubro de 2023. “Para reconstruir e construir para além do que queremos que seja o SUS sonhado, só vamos conseguir fazer com muita participação popular”, indicou Pigatto.
Representando o presidente da Fiocruz (Mário Moreira), o diretor do Instituto Aggeu Magalhães (IAM/Fiocruz Pernambuco), Pedro Miguel Neto, ressaltou a responsabilidade do papel de instituições, como a Fiocruz, na promoção de uma construção prática da democracia. “O que está sendo resgatado neste congresso é lembrar que temos uma tarefa que não é nossa. É de gerações e gerações que se vão e que se foram. Fomos luta, somos luta e teremos muita luta. Esse é o espírito deste congresso e deste país. Quem não quiser lutar, não tem muita opção”, disse ele, provocando a reflexão.
Por considerar que a Saúde Coletiva nasceu do encontro da Saúde Pública com as Ciências Sociais, a presidente da Abrasco, Rosana Onocko, fez o encerramento da cerimônia indicando que as Ciências Sociais e Humanas em Saúde podem ser o carro chefe de mudanças e transformações sociais no cenário brasileiro. “As mudanças de uma sociedade segregada para uma sociedade tolerante às diferenças e razoavelmente integrada não se darão naturalmente. Muito esforço concreto deverá ser empregado pelas políticas públicas para a superação do status quo. A Saúde Coletiva brasileira está comprometida com essa causa”, assumiu Rosana.
No encerramento da mesa de abertura, ainda aconteceram homenagens póstumas para trabalhadoras que desempenharam papéis importantes para a Saúde Coletiva e faleceram recentemente: Clélia Maria de Souza; Liu Leal; Neusa Santos e Marta Almeida. Fechando a noite, um show com a banda “Em Cantos e Poesia” animou os presentes.
A cerimônia de abertura completa está disponível no canal do YouTube da Abrasco. Para assistir, acesse a TV Abrasco.