Em comemoração aos 27 anos da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e em apoio à greve dos servidores federais, a Representação dos Trabalhadores da Escola Politécnica e a Associação dos Servidores da Fundação Oswaldo Cruz (Asfoc-SN) realizaram no dia 23 de agosto um debate que teve como tema "Os desafios históricos da organização dos trabalhadores: a greve de 2012" com o doutor em Sociologia, professor- adjunto da Escola de Serviço Social da UFRJ e presidente da Associação de Docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ADUFRJ), Mauro Iasi, no auditório da EPSJV.
Com a presença de cerca de 100 trabalhadores da Fiocruz, Mauro situou historicamente o movimento sindical no Brasil, além de contextualizar a greve atual que chegou a reunir mais de 40 categorias. O professor apontou ainda a maneira com que o governo tratou a negociação e as perspectivas atuais dos movimentos. "Os servidores estão sendo represados há muito tempo e isso explica a adesão rápida e consistente de diferentes áreas. Esta greve não é para discutir apenas o índice do aumento salarial, mas o de recuperação das perdas destas últimas décadas, além de colocar na pauta as inúmeras desigualdades entre servidores", explicou. Entre as perdas, Mauro apontou a precarização do trabalho, as parcerias público-privadas e a questão da previdência.
Mauro relembrou a última greve geral ocorrida em 2001 e avaliou que a intransigência do governo atual dificulta o acordo das demandas reprimidas há mais de uma década. "O que chama a atenção da negociação do governo é a falta de diálogo e as justificativas. Antes as limitações ficavam por conta das crises internacionais e agora o impedimento são as prioridades do governo nas quais as políticas públicas e sociais nunca estão incluídas". Além disso, de acordo com o professor, a data limite de negociação por conta da Lei Orçamentária Anual (LOA) para o dia 31 de agosto deixou o processo amarrado.
Parceria público-privada
Mauro relembrou que, em diversos momentos da história recente, os servidores vêm perdendo batalhas como nas ondas de privatização e, atualmente, as parcerias público-privada que englobam questões como as Organizações Sociais e das Fundações e das agências de fomento que recebem verbas de iniciativa privada para projetos desenvolvidos dentro da universidade. "Estamos em um momento de hibridismo, que não é uma privatização clássica do Estado, mas é uma forma de precarização por tratar carreiras de forma diferenciada dentro do serviço público", defendeu. O professor lembrou ainda que recentemente o Governo Federal negociou com cerca de 500 universidades privadas uma forma de perdoar as dívidas destas instituições adquiridas por meio de Imposto de Renda, INSS e cota patronal em troca de 560 mil bolsas no Programa Universidade para Todos (ProUni) a serem oferecidas ao longo de 15 anos. No total, as dívidas somam cerca de R$17 bilhões.
Resultados positivos e negativos
Questionado pelos trabalhadores presentes, Mauro ponderou alguns ganhos e perdas do movimento atual e ressaltou que, embora muitas reivindicações não tenham sido atendidas, a proporção que a greve tomou nacionalmente foi uma vitória política. Para ele, a greve atual está sendo um marco na luta dos servidores federais. No entanto, Mauro apontou como pontos negativos iniciativas de resposta ao movimento, como o projeto de lei que regulamenta os limites do direito de greve dos servidores públicos, previsto para ser votado nos dias 11 e 12 de setembro no Congresso."Estas ações mostram como a negociação durante estes três meses tem sido antidemocrática. Em vez de discutir a lei de greve, deveríamos fazer uma discussão do conjunto do fundo público e como este recurso está sendo gasto", comentou.
Outra questão apontada pelos presentes e avaliada por Mauro foi a cobertura da mídia em relação aos servidores. "A estratégia da mídia em relação ao movimento de greve sempre foi o de culpabilizar os servidores por problemas que estão acontecendo em consequência da paralisação e nunca o de discutir as questões que motivaram a greve. A imprensa mostra a proposta de aumento de 45% oferecida aos professores e não explica que é apenas para uma pequena categoria", exemplifica Mauro. A proposta do governo para a maioria das categorias foi negociada em 15%, parcelada para os próximos três anos.
Greve na EPSJV
Durante a atividade de greve em comemoração ao aniversário da Escola Politécnica, foi exibido o filme "História do Movimento Operário Sindical no Brasil" e o evento foi encerrado com um almoço coletivo. "A comemoração de aniversário da EPSJV não poderia ser diferente, já que um dos objetivos defendidos pela escola é a articulação política no campo da Educação Profissional em Saúde no Brasil. Estamos muito orgulhosos por esta ação", comentou o diretor da Escola, Mauro Gomes.
Os trabalhadores da EPSJV, em acordo com a decisão da Asfoc, aderiram à greve desde o dia 29 de junho com paralisação progressiva no mês de julho e de parada definitiva das atividades no mês de agosto. No total, foram 21 dias de paralisação. Os trabalhadores voltaram ao trabalho nesta segunda-feira, dia 27 de agosto, quando foi assinado o acordo proposto pelo Ministério do Planejamento.