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Cenário atual dos trabalhadores: pressão e individualismo

Novas formas de organização do trabalho enfraquecem o poder dos sindicatos e adoecem trabalhadores.
Viviane Tavares - EPSJV/Fiocruz | 16/11/2013 09h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h46

‘A precarização do trabalho e deterioração das relações sociais no contexto da crise: implicações para a saúde humana' foi o tema da sessão Grande Debate,no dia 16 de novembro, no VI Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, que aconteceu na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), no Rio de Janeiro. Com a presença dos pesquisadores Rosa Maria Marques, da PUC-SP e presidente da Associação Brasileira de Economia da Saúde (ABrES); Giovanni Alves, da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (Unesp); e Henrique Nardi, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o debate mostrou o cenário vivido por trabalhadores em todo o mundo.

A participação de Rosa Maria Marques pontuou um fator de extrema relevância hoje entre os trabalhadores. Segunda a professora, pela primeira vez os trabalhadores estão com uma concorrência no plano mundial. "Isso é gravíssimo, porque se algum país que tem uma classe trabalhadora mais organizada não aceita as condições e tenta negociar, corre o risco de os trabalhadores ficarem sem emprego. É o que vem acontecendo na Europa, onde as multinacionais tem migrado para países como a China, onde a mão de obra é mais barata e a legislação trabalhista mais frouxa", observou.

Para o professor Giovanni Alves, as implicações da crise estão diretamente ligadas à saúde humana e hoje há carência de dados sobre o que está acontecendo no plano da subjetividade. "As estatísticas dos economistas são brilhantes, mas não mostram o lado humano. Temos que resgatar o humanismo radical. Ninguém está mostrando o que estes trabalhadores estão passando, o que eles estão sofrendo e como suas famílias estão sentindo", ressaltou o professor.

Para Giovanni, o cenário atual de mudanças no campo do trabalho passando para um modelo toyotista de produção, representado por mais flexibilidade no trabalho, se reflete em sujeitos mais individualistas. "Não é por acaso que tem crescido a teologia da prosperidade, o empreendedorismo e o número de problemas individualizados. Hoje, o trabalhador que se sente pressionado ou assediado no trabalho procura um analista tentando buscar qual é o seu problema, no lugar de compreender que ele tem relações de trabalho precarizadas que resultam em diversas enfermidades", pontuou Giovanni.

O professor Henrique Nardi contextualizou este momento de crise apontando que a forma de gestão do trabalho optada pelo Governo de Estado, e que ela representa uma camisa de força aos trabalhadores. "O cenário hoje é o da globalização, que reflete em reestruturação produtiva, abertura dos mercados, transformações tecnológicas e, em consequência, desarticulação sindical", disse.

Perfil do trabalhador atual

Henrique Nardi apresentou as características dos trabalhadores atuais. Para ele, este trabalhador deve ser competente tanto tecnicamente como emocionalmente, competitivo, flexível, individualista e aceitar trabalhar com autogestão. "As exigências a este trabalhador acabam reproduzindo uma lógica que quebra a solidariedade entre as classes e produz uma certa hierarquia e competição entre eles", refletiu o professor.

Como consequência destas cobranças e deste cenário, afirma o professor da UFRGS, a saúde passa a ser uma mercadoria a ser comprada e os trabalhadores passam a ter a responsabilidade de ter empreendedorismo de si, com ações relacionadas ao bem-estar e qualidade de vida. "Nos deparamos também com a lógica da medicalização e terapias de toda sorte; além do excesso de doenças do excesso, como as lesões por esforços repetitivos (LER) e distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT), além daquelas oriundas da invasão do trabalho em todos os espaços da vida", informou Henrique Nardi, que completou: "Vi uma frase em um programa de recrutamento de profissionais que falava: ‘Você é o seu pior inimigo!'. Isso mostra claramente a pressão que os trabalhadores têm sofrido com as metas cada vez mais altas e a competição cada vez mais acirrada. Não é à toa que a depressão é a principal causa de afastamento atual", explicou.