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EPSJV participa de atividade no Fórum Social Temático

Impacto dos grandes empreendimentos e dos agrotóxicos na saúde foi o tema das discussões no espaço de saúde e cultura Frida Khalo
Raquel Júnia - EPSJV/Fiocruz | 27/01/2012 09h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h46

No segundo dia do Fórum Social Temático Crise Capitalista, Justiça Social e Ambiental, em Porto Alegre, os participantes do evento conheceram os problemas de saúde e socioambientais que a siderúrgica TKCSA tem causado à população de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. O professor-pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) Alexandre Pessoa falou sobre as irregularidades no processo de licenciamento da empresa que fizeram com que os impactos fossem ainda maiores do que o previsto. Ele integra um Grupo de Trabalho da Fiocruz criado para acompanhar e avaliar os problemas socioambientais e para a saúde das populações do entorno da TKCSA, que conta com pesquisadores da EPSJV e da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz). Pessoa destacou a forte atuação da comunidade e dos movimentos sociais na luta contra a instalação da TKCSA e as várias evidências constatadas por ele e outros pesquisadores da ENSP e da Universidade do Estado do Rio (Uerj) dos agravos à saúde da população de Santa Cruz com o funcionamento da siderúrgica. “Desde o início a empresa dizia que o material particulado que ela despeja no ar não faz mal à saúde. Não é a empresa que tem que dizer se o ar que as pessoas estão respirando está ou não prejudicando sua saúde, quem tem que dizer é o SUS. Então, com as pesquisas, foram detectados 14 elementos no ar que essas pessoas estão respirando, muitos deles prejudiciais”, contou. E completou, mostrando a concepção ampliada de saúde que tem orientado o trabalho da Fiocruz nesse caso: “Para nós os problemas de saúde ali estão muito claros, desde o início do projeto. Se o pescador que tem essa atividade desde criança e perde as condições de continuar exercendo seu trabalho, não consegue outra atividade, vai para o alcoolismo ou é forçado a ir embora de Santa Cruz, para nós isso é um grave problema de saúde”, completou Alexandre.

A atividade foi realizada no Espaço de Saúde e Cultura Frida Khalo, uma grande tenda montada no Parque Harmonia, onde tradicionalmente é instalado, durante todos os Fóruns Sociais Mundiais realizados em Porto Alegre, o acampamento intercontinental da juventude. Durante o evento, foi transmitido o filme Desenvolvimento a Ferro e Fogo , sobre a TKCSA.

Agrotóxicos e saúde

 Os altos índices de consumo de venenos na agricultura brasileira e os riscos desse consumo para todo o país foi o segundo tema debatido na atividade. O também professor-pesquisador da EPSJV André Burigo falou sobre a Campanha permanente contra o uso de agrotóxicos e em defesa da vida, organizada por uma série de movimentos e entidades. Trechos do filme O veneno está na mesa, de Silvio Tendler, foram assistidos e debatidos pelos participantes.

Daniela Jorge, da Gerência de Toxicologia da Anvisa, e Rosangela Cordeiro, da coordenação nacional do Movimento de Mulheres Camponesas e da Via Campesina Brasil também participaram como facilitadoras do debate. Daniela destacou que há em comercialização hoje no Brasil mais de 400 tipos de agrotóxicos. A bióloga mostrou os resultados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), realizado pela Anvisa, que já chegou a constatar, em um única amostra de alimentos, 14 tipos de veneno. Alguns dos agrotóxicos encontrados eram proibidos para o tipo de alimento analisado. E, além disso, entre as substâncias permitidas para cada alimento, identificaram-se índices acima dos liberados pela Anvisa. Daniela divulgou o telefone do disque-intoxicação (0800 722 6001) e reforçou a importância da notificação dos casos de contaminação.

Rosângela chamou a atenção para projetos de lei na Câmara que pioram a situação do consumo de agrotóxicos no país. Um deles libera a comercialização de venenos genéricos, que podem ser vendidos a preços mais baixos, o que, segundo ela, fará com que aumente ainda mais o consumo dessas substâncias. O outro projeto de lei libera o comércio dos agrotóxicos no Mercosul. “Se já existe muito contrabando de veneno do Paraguai e Argentina, imagine se esse trânsito for livre, o quanto o consumo não irá aumentar”, problematizou.

Uma participante do Fórum perguntou se seria possível minimizar os impactos dos agrotóxicos nos alimentos, adotando alguma prática diferenciada de lavagem. André Burigo explicou que um método mais adequado de lavagem pode retirar algum resíduo existente na casca das frutas, mas que os agrotóxicos penetram nos alimentos, sendo impossível, portanto, que a população se resguarde deles dessa maneira. O professor apontou que, embora não existam níveis seguros de consumo no modelo agrícola que utiliza agrotóxicos, algumas posturas podem minimizar os impactos na saúde, como a busca por frutas da estação, que são cultivadas mais facilmente — e em tese, sem a utilização exagerada de veneno — e a compra dos alimentos diretamente com os produtores, de forma a estabelecer relações de confiança e certificar-se sobre a forma como os alimentos estão sendo produzidos.  Todos os debatedores concordaram, entretanto, que o caminho para a solução desse problema de saúde é o fim da utilização dos agrotóxicos e a mudança do modelo agrícola brasileiro, com a potencialização da agroecologia.