A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) está participando de um projeto que vai profissionalizar e ampliar a escolaridade de 275 trabalhadores indígenas da região do Alto Rio Negro, no Amazonas. Essa empreitada, que começou em outubro do ano passado, teve uma nova fase agora, entre os dias 17 e 21 de março, quando três professores-pesquisadores da EPSJV participaram, em Manaus, de uma reunião de trabalho e de uma assembléia com a presença de todos os futuros alunos do curso, que atuam como Agentes Indígenas de Saúde (AIS).
A iniciativa partiu da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), que procurou ajuda da unidade da Fiocruz no Amazonas (Centro de Pesquisa Leônidas e Maria Deane) que, por sua vez, convidou a EPSJV para participar do projeto. A idéia é estruturar um currículo que dê conta da formação desses trabalhadores como Técnicos de Agentes Comunitários Indígenas de Saúde. Como boa parte deles ainda não tem o ensino médio completo, foi preciso contato com as Secretarias de Educação do estado e do município para garantir turmas específicas para a ampliação da escolaridade desses AIS, já que a proposta original, de oferecer o ensino médio integrado à educação profissional, não vingou.
A próxima reunião, prevista para acontecer em maio, discutirá a estruturação curricular com ‘atores’ mapeados pela Fiocruz Amazonas. Os planos de curso do Técnico de Agente Comunitário de Saúde e do Técnico em Vigilância em Saúde da EPSJV estão sendo a base da discussão.A idéia é aproveitar conteúdos dos dois, acrescentando-se questões que interessam diretamente às populações indígenas, como medicina tradicional e temas relacionados à ‘antropologia da saúde’, como etnia e organização do território em terras indígenas. O currículo deve ser concluído ainda no primeiro semestre deste ano.
Segundo os pesquisadores da EPSJV envolvidos no projeto, Anakeila Stauffer, da vice-direção de ensino, Ana Lucia Pontes, do Laboratório de Atenção à Saúde (Laborat) e Paulo Peiter, do Laboratório de Vigilância em Saúde (Lavsa), existe uma demanda específica para que o curso trate de temas relacionados à promoção da saúde, como nutrição, poluição ambiental e saneamento, em função do diagnóstico de que os índios da região estão morrendo, cada vez mais, das chamadas doenças ‘evitáveis’, dentre as quais estão os problemas respiratórios.
A Foirn defende a formação técnica como prioridade porque entende que ela vai contribuir para um maior reconhecimento e fortalecimento dessa categoria profissional, além de ajudar na definição mais exata das atividades desses trabalhadores e ampliar a autonomia desses profissionais junto às suas comunidades. Além disso, a Fundação lembra que, segundo o Ministério da Saúde, todo trabalhador da saúde deveria ter, no mínimo, o nível técnico.
O curso que vai resultar dessa parceria deve ter 1200 horas, distribuídas em três etapas de formação e divididas entre momentos de concentração, com aulas ‘teóricas’, e de dispersão, com aulas ‘práticas’. O projeto prevê ainda formação docente, já que a idéia é dar prioridade aos professores do próprio estado, embora possa haver a participação de professores da EPSJV também.