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Inteligência Artificial na Educação

Inovações recentes acendem alertas sobre possibilidades e desafios na aliança de novas tecnologias com o processo de ensino-aprendizagem formal.
Erika Farias - EPSJV/Fiocruz | 05/09/2023 14h35 - Atualizado em 06/09/2023 10h42

O futuro chegou. Em meio à fascinação e receio do desconhecido, uma Inteligência Artificial ainda mais criativa, ousada – e, aparentemente, ilimitada – tem sido tema de estudos, discussões e embates. No dia 7 de julho de 2023, no painel The AI for Good Global Summit, realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU), robôs humanoides disseram ter potencial para liderar com maior eficiência e eficácia que humanos, mas reiteraram que o trabalho em conjunto é ainda mais forte: “A Inteligência Artificial pode fornecer dados imparciais, enquanto os humanos oferecem a inteligência emocional e a criatividade”, disse Sophia, um dos robôs. Essa união, segundo especialistas entrevistados pela Revista Poli, parece ser a única forma de lidar com a concretude de avanços tecnológicos como os chatbots [ferramentas de computador que simulam conversas com usuários humanos], especialmente quando se pensa nas possibilidades de ensino-aprendizagem no âmbito da Educação.

Inteligência Artificial: qual a novidade?

Inteligência Artificial (IA) é uma tecnologia com capacidade de raciocinar, aprender e agir de forma independente. E, embora o assunto tenha aparecido com mais frequência na mídia no último ano, não é algo novo. O pesquisador da área de Educação com ênfase em Inteligência Artificial nas Linguagens e na Educação, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Paulo Roberto Boa Sorte Silva, explica que a IA oferece às máquinas e aos computadores a possibilidade de imitar os recursos que temos na mente humana para, de forma mais rápida e até instantânea, solucionar problemas, estabelecer relações, tomar decisões, fazer resumos, traduções e outras inúmeras possibilidades. O professor conta que, em 2015, 16 grandes empresas de tecnologia e mídias, como o Twitter, IBM, Amazon e Microsoft adquiriram empresas focadas em inteligência artificial. “Mas, antes disso, já tínhamos o Waze, por exemplo, para traçar itinerário com GPS nos nossos smartphones e circularmos pelas cidades. E a IA também está presente quando, por exemplo, pedimos um Uber por aplicativo, quando fazemos pesquisa no Google e logo depois recebemos sugestões de filmes na Netflix sobre essa pesquisa, recebemos sugestões de música no Spotify e de anúncio no Instagram”, diz. Outro ponto destacado pelo pesquisador é que a Inteligência Artificial não se refere só à computação e à matemática. Existem contribuições relevantes de outras áreas, como economia, neurociência, psicologia, linguística, engenharia elétrica e filosofia. Por isso, é vista como um campo interdisciplinar.

O professor do Departamento de Informática Aplicada da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Mariano Pimentel, explica que a Inteligência Artificial é a continuação desse propósito de automatizar. E que ela está no Brasil desde seus primórdios. “É claro que nós vimos um grande salto da inteligência artificial na década passada com a técnica de deep learning [uma forma de aprendizado de máquina que permite aos computadores “aprender” de forma semelhante ao cérebro humano]. Hoje, falamos até em deep fake [uso da IA para mudar rostos, simular movimentos labiais e expressões, entre outras possibilidades]. Estamos em uma encruzilhada”, alerta o professor. Outra forma de IA que tem sido falada recentemente é o machine learning, tecnologia que permite aos computadores irem aprendendo, a partir de dados ou padrões, e utilizarem esse conhecimento para fazer previsões ou tomar decisões.

Assim como Paulo, Mariano também relembra ferramentas de IA que já faziam parte do cotidiano de pessoas que acessam às redes. “Nós já tínhamos os algoritmos inteligentes, por exemplo, quando se mandava uma foto para o Facebook e ele identificava quem eram os amigos que estavam na foto. Ou na década de 1990, por exemplo, quando eu escaneava uma página de texto e ela convertia em texto manipulável pelo computador. A IA não é algo que ‘chegou’ aqui, ela está aqui. Não está batendo à nossa porta com o lançamento do ChatGPT ou Google Bard, ou com qualquer outra coisa desse tipo. Inclusive, o Google é um outro bom exemplo de inteligência artificial. Há quantos anos o mecanismo de recomendação está no Brasil e a gente usa?”, questiona.

Mais conhecido atualmente, o ChatGPT, desenvolvido pela empresa OpenAI, foi lançado em 2022, e é capaz de produzir textos, traduzir idiomas, além de gerar conteúdos criativos, a partir de perguntas feitas pelos usuários. Já o Google Bard, lançado no Brasil em 13 de julho de 2023, três meses após seu lançamento nos Estados Unidos e Reino Unido, traz consigo funcionalidades semelhantes, mas, segundo o próprio site, enquanto o ChatGPT é melhor em gerar textos criativos, o Bard é melhor em responder a perguntas de maneira informativa, visto que, além de ser treinado com dados de texto e código, utiliza também como dados as respostas de pesquisa do Google. Apesar das funcionalidades, há outros pontos a serem levados em conta. O ChatGPT, por exemplo, que já está em sua quarta versão, oferece acesso gratuito somente até sua terceira versão, que recebeu atualizações até setembro de 2021. Além disso, por utilizarem dados com informações oriundas da internet e não possuírem capacidade de discernimento, os chatbots podem gerar respostas imprecisas, conteúdos falsos, entre outros graves problemas.

Para a professora-pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), que integra o Grupo de Pesquisa Interdisciplinar Linguagem, Sociedade e Saúde (Liss), Carolina Dantas, é importante pensar o que se entende por tecnologia. Ela cita o verbete ‘tecnologia’ no Dicionário da Educação Profissional em Saúde (EPSJV, 2008), escrito por Gaudêncio Frigotto, que diz que não há como compreender a tecnologia sem entendê-la como uma prática inserida no contexto econômico, político, social, cultural, educacional, definida a partir de relações de poder e relações de classe. “A tecnologia não está descolada disso, muito pelo contrário. Então, a gente tem que se perguntar quais são as condições de produção dos chatbots, já que, como qualquer tecnologia, podem ser usados para libertar ou para oprimir, para aprofundar desigualdades ou para combatê-las”, afirma. A também professora-pesquisadora da EPSJV/Fiocruz e integrante do Liss, Viviane Soares, complementa que é preciso entender o modo como a sociedade acolhe essas ferramentas e as incorpora em suas práticas para que se possa enfrentar o desafio de não “cultuar as maravilhas tecnológicas”. “Esse funcionamento pode estar a serviço da manutenção do racismo, por exemplo, quando pensamos em prisões feitas exclusivamente através de reconhecimento facial a partir de um banco de dados que inclui pessoas negras que nunca tiveram passagem pela polícia”, reflete.

Regulação

Até o momento, não há políticas públicas no Brasil que contemplem diretrizes para regulação da IA, mas já há bastante movimentação nesse campo.  Em 2018, por exemplo, foi aprovada pelo Decreto nº 9.319/2018 e pela Portaria MCTIC nº 1.556/2018, a Estratégia Brasileira para a Transformação Digital, com objetivo de dar prioridade aos debates em torno da IA. Em 2020, foi proposto o Projeto de Lei nº 21/2020, que cria o marco legal do desenvolvimento e uso da IA pelo poder público, por empresas, entidades diversas e pessoas físicas. A partir desse PL, foi formada, em 2022, uma Comissão de Juristas para analisar projetos sobre IA que estavam em discussão no Senado. Com esta finalidade, o grupo realizou audiências públicas com mais de 50 especialistas de diferentes áreas, entre poder público, da área empresarial, além de sociedade civil e comunidade acadêmica. Em maio de 2023, a Comissão elaborou um relatório final, incluindo um anteprojeto de lei, que foi convertido no PL 2338/2023. O projeto dispõe sobre o desenvolvimento, a implementação e uso responsável de sistemas de IA no Brasil, com o objetivo de “proteger os direitos fundamentais e garantir a implementação de sistemas seguros e confiáveis, em benefício da pessoa humana, do regime democrático e do desenvolvimento científico e tecnológico”.

Sobre o tema, Paulo Boa Sorte diz que, a partir dessas discussões, o Brasil pode, inclusive, liderar a regulamentação da Inteligência Artificial no mundo. “Estou acompanhando de perto esses debates sobre o PL. A IA traz muitos riscos, a depender da forma como ela é desenvolvida, principalmente se não houver ética. A gente fala muito em discriminação algorítmica e até em problemas na corrida armamentista que podem vir a ser grandes problemas. Eu acredito que aqui no Brasil se nós garantirmos, via legislação, o avanço da proteção na implementação da inteligência artificial, vamos nos beneficiar protegendo os nossos direitos fundamentais, valores democráticos, a proteção do meio ambiente, a não discriminação, a proteção dos nossos dados.  A gente precisa debater, e precisa ser rápido”, afirma.

Novas tecnologias na educação

Não é de hoje que as tecnologias têm adentrado o espaço das salas de aula.  Autorizada em 1996, a partir da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), a Educação a Distância (EaD), por exemplo, foi crescendo ao longo do tempo, até que hoje a modalidade de ensino é hegemônica. Somente entre 2011 e 2021, o número de alunos que ingressou em cursos de ensino superior na modalidade EaD cresceu 474%, apontando sinais evidentes de uma inovação que deve ser debatida e aprimorada. Dados do Censo da Educação Superior, divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e pelo Ministério da Educação (MEC), demonstram que, em 2021, os ingressos por meio de EaD chegaram a 62,8%; sendo que, nas instituições privadas esse percentual chega a 70,5%. “Eu acredito que seja um número assustador, principalmente porque esses cursos são ofertados em sua maioria por instituições privadas. Não é um crescimento da oferta de EaD para todos, e sim, para quem pode pagar. Outra preocupação é que a EAD ocorre, em geral, apenas para cursos entendidos como de menor prestígio social e econômico. E o que tem acontecido agora, nesse contexto pós pandemia é o aumento da oferta de disciplinas híbridas ou totalmente online nas universidades. Acredito que seja um caminho sem volta e que seja algo problemático também”, contextualiza Paulo.

A educação sempre esteve na mira da computação e andou junto das tecnologias para educação. O professor Mariano explica que, na década de 1960, a computação já vinha sendo usada para a educação, com todas as suas técnicas, inclusive das inteligências artificiais. “Havia tutores inteligentes, sistemas para tentar ensinar alguma coisa a alguém. E eles eram inteligentes no sentido de entender o que a pessoa diz, de mapear o que a pessoa respondeu de certo e errado e com isso ele deduzia”, conta ele.

No final da década de 1990, o Google e o Yahoo, entre outras plataformas de busca causaram uma mudança de paradigmas no formato de pesquisas e realização de trabalhos escolares. E, assim como no passado, a tecnofobia voltou a assombrar. O professor dá como exemplo uma situação que ocorreu no início de 2023, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, quando o Departamento de Educação da cidade bloqueou o acesso ao
ChatGPT em todos os dispositivos e redes escolares ligadas ao órgão. Na ocasião, a porta-voz do departamento, Jenna Lyle, explicou que o bloqueio se dava por preocupações com os impactos negativos no aprendizado, com a segurança e ainda, com a precisão do conteúdo. “Não é uma questão de proibir um dispositivo tecnológico, mas de rever as nossas práticas na sala de aula, de nos atualizar, de encarar os desafios que o lançamento de tecnologias novas traz para a educação. Quando nós nos informamos, descobrimos que o inimigo na verdade não é a inteligência artificial, mas, as grandes corporações que controlam a inteligência artificial”, frisa Paulo.

O professor também comenta que qualquer dispositivo tecnológico, ainda que seja proibido em sala, acaba interferindo nos hábitos cotidianos, já que o acesso vai acontecer em algum outro espaço. E tudo o que acontece na sociedade chega às salas de aula, impactando alunos e professores de alguma forma. Para ele, a solução seria pensar em como solicitar aos alunos que desenvolvam tarefas utilizando a IA. “Nós temos o papel de formar alunos para entender que agora, mais do que nunca, é preciso checar fontes de informação. Nós já fazíamos isso antes do ChatGPT. Mas agora precisamos ter cuidado redobrado para não espalhar notícias falsas. A escola precisa formar essa nova geração para entender as implicações éticas de uso de dispositivos como esses, porque eles podem tanto ajudar, quanto atrapalhar bastante no desempenho das tarefas cotidianas”, afirma.

Carolina Dantas, traz à tona perguntas que devem ser feitas ao se discutir sobre quaisquer tecnologias. “Estamos pensando nessa inovação de modo utilitarista ou queremos compreender e dialogar com ela a partir de suas estruturas e engrenagens? Quando se tem uma nova tecnologia, que tem muitos desafios e riscos de muitos impactos na educação e na pesquisa, essas são perguntas essenciais”, reflete. Para ela, não é um movimento de como a tecnologia será incorporada, e sim, como a educação pensa sua incorporação a partir de determinados princípios, como o que se quer construir como sociedade, e o que se acredita ser o papel da escola.

Há também diferentes formas de pensar os chatbots na educação. É o que diz o professor Mariano, ao explicar que uma possibilidade é entender o ChatGPT, por exemplo, como uma espécie de professor, disponível 24 horas por dia, para o aluno que quer interagir ou conversar. “É muito mais potente que os mecanismos de busca nos quais você faz a pergunta e precisa procurar entre as milhares de respostas que ele apresenta. Eu entendo que educação é relação, autoria, criatividade, conversa, coletivo e convívio com a diferença. A formação não é só memorização de conteúdo. Meus colegas também estão repensando as suas disciplinas para que os alunos possam fazer trabalhos em parceria com o ChatGPT e para que não sejam trabalhos que essa tecnologia possa fazer pelos alunos”, observa Mariano, acrescentando que há muitos professores mobilizados em tentar entender esse fenômeno, os impactos e os efeitos dele nos processos formativos, nos processos de aprendizagem, nos processos de ensino, nos sistemas educacionais do ensino Superior, Médio, e na Educação a Distância, por exemplo. Ele conta sobre um teste que fizeram recentemente com o ChatGPT, colocando o chatbot para realizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Com uma pontuação de 612,3 nas provas objetivas, o sistema se sairia melhor que 78,9% dos candidatos. Segundo o DataFolha, do Jornal Folha de São Paulo, em abril de 2023, o ChatGPT se sairia melhor que 98,9% dos estudantes em Ciências Humanas, e que 95,3% daqueles que optaram pela área de Linguagens e Códigos. Seu maior desafio seria melhorar a performance na área de Exatas, já que, na Matemática, a inteligência artificial superaria apenas 27% dos participantes. “Não é porque eu sou da área de computação, mas é um tema que está mobilizando diversos pesquisadores no campo da educação para olhar para os efeitos dessa tecnologia no contexto da formação e da educação em nosso país”, diz.

Debates

E será que é possível encarar o futuro sem se pensar nas tecnologias digitais? Os entrevistados pela Poli pensam que não, mas é necessário que se leve em conta aspectos amplos. “Acho que não dá para ter esse caráter muito mistificador, acreditar completamente na propaganda, no marketing em torno dessas ferramentas, assim como não dá para se negar a dialogar com elas, entender o que elas trazem e rechaçá-las. Mas é preciso saber que tecnologia hoje é cada vez mais privatizada pelo capital e cada vez mais trabalhada pela exclusão e o aprofundamento de desigualdades. É preciso que os estudantes compreendam como funcionam essas ferramentas, suas engrenagens, seu contexto de produção e o que podemos com elas e além delas. Não dá para debater essas questões sem pontuar isso”, reforça Carolina.

Já para Paulo Boa Sorte, não há como correr das novas invenções porque elas, inevitavelmente, serão incorporadas ao cotidiano. “Um dia desses mandaram para mim, no Instagram, uma reportagem do Jornal Hoje, de 1983, falando sobre o surgimento dos caixas eletrônicos, como iriam funcionar os cartões dos bancos, que o dinheiro de papel não ia mais ser possível. Tem esse tom extremista nessa reportagem”, conta. “Alguns colegas temem, outros resistem às tecnologias. Isso não quer dizer que sejam profissionais ruins, mas de forma geral, o desconhecido tende a assustar. Isso não só na profissão de professor. O caminho, sem dúvidas, é entender as possibilidades desse novo. Buscar dialogar com os pares, fazer curso de formação continuada, ler a respeito. Se inteirar das discussões, porque, sem dúvida, essas tecnologias vieram para ficar”, reflete o professor da UFS.

Mariano Pimentel reforça que, quando se fala em Inteligência Artificial, deve haver um investimento na capacidade de reflexão, na crítica, na capacidade de duvidar da resposta, de fundamentar uma informação, de procurar várias fontes. Segundo ele, o desafio que está posto é da educação, inicialmente, repensar as práticas, mas também mudar a concepção que se tem dos alunos. “Os nossos alunos eram vistos até então como tábulas rasas para os professores preencherem de conteúdo. Claro que esta é uma visão, nem todo professor pensa isso dos alunos, mas é uma denúncia já feita por Paulo Freire, há 50 anos. Ele chamava isso de educação bancária, aquela em que você nem conversava com os alunos. Hoje, penso que o ChatGPT nos instiga a pensar numa educação que valorize a autoria dos alunos, o ato de conversação e diálogo, o ato de pesquisa e outras formas de se pensar o aluno, não como uma tábula rasa, mas como um ser que tem história de vida e formação, que tem interesses e que é um sujeito, um autor que escreve junto com inteligências artificiais, inclusive”, diz.

O professor da UFS, Paulo Boa Sorte, afirma que a Educação a Distância tem sido evidenciada com a criação de videoaulas, exercícios de fixação e testes de avaliação, que podem, até mesmo, ser corrigidos de forma automática por múltipla escolha. “Mas essa não é a maneira como eu entendo a educação. Eu acho que a educação é muito, muito mais complexa do que assimilar conteúdo. Ela é uma oportunidade de conviver com a diferença, de formar as identidades, aprender a conviver e aprender a ser quem você é. Uma chance para aprender a trabalhar com os outros, se posicionar, desenvolver o pensamento crítico, criar coisas, se expressar. São processos autorais que também exigem que sejam compartilhados, tensionados, negociados no contexto de uma turma. Portanto, a educação é muito mais ampla”, diz. “Na minha concepção de educação, a inteligência artificial entra como um dos elementos dessa gama de coisas que acontecem em uma sala de aula, de sistemas, de atividades, de currículos, de sujeitos e de processos formativos”, frisa.

A professora-pesquisadora Viviane Soares reitera que cabe ao professor pautar a tecnologia, e não o contrário, e que a prática docente não pode se distanciar das lutas sociais e dos efeitos dessas lutas nas disputas de sentido entre diferentes valores civilizatórios e projetos societários. “Uma formação humana consiste em nos fazer todos – estudantes e professores – compreender a relevância de processos discursivos, históricos, sociais para nosso modo de significar. É importante deixar claro, por fim, que a tecnologia não deve ser excluída das discussões numa perspectiva emancipatória. Também não devemos estabelecer com ela uma relação de competição”, afirma. Carolina complementa que a suposta defasagem de algumas escolas na questão de estruturas que deem conta das novas tecnologias não chega a ser sua maior preocupação. “Minha maior questão é a defasagem em torno de uma formação que, de fato, forme sujeitos de conhecimento capazes de produzir e não apenas de reproduzir conhecimento.  Os chatbots não criam conhecimento, eles juntam o conhecimento. Neste ponto, a gente pode pensar na questão do plágio, da autoria, e na repetição baseada em critérios obscuros para a seleção de fontes de informação, que vão alimentar essa ferramenta. Então, na verdade, a preocupação é para não formarmos repetidores de informação a partir dos chatbots e sim, produtores de conhecimento. Esse é o principal ponto”, conclui.

 

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