Teve início na noite de quinta-feira, 14 de novembro, a sexta edição do Congresso de Ciências Sociais em Saúde, promovido pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Na mesa de abertura, além dos agradecimentos e lembranças de praxe, ganharam espaço, principalmente, o papel da saúde na luta contra o preconceito racial e a relação entre saúde e desenvolvimento.
Além da presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Maria do Socorro de Souza, que elogiou o fato de ela não ser a única mulher nem a única negra na mesa, Monica Alves, diretora de programas da Secretaria de Ações Afirmativas do Ministério da Igualdade Racial, representando a Ministra Luiza Bairros, disse esperar que o congresso aponte como esse diálogo entre práticas e saberes – tema do evento – pode ajudar o campo da saúde a valorizar práticas tradicionais, como as de origem africanas, e superar práticas de racismo. Na fala do presidente da Abrasco, Luis Eugênio Souza, também teve destaque a questão indígena, lembrando que essa população, que cultiva o bem-viver, contrário ao utilitarismo que hoje domina na nossa sociedade, está sendo dizimada.
Já o tema da saúde como integrante de uma pauta de desenvolvimento veio principalmente na fala do secretário de ciência, tecnologia e inovação do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha, que representava o ministro Alexandre Padilha. Segundo ele, as ciências sociais e humanas são o espaço privilegiado para se estabelecer essa associação, que ele julga imprescindível para as lutas do campo da saúde. Ele destacou como elementos principais para esse tema a retomada do debate sobre a importância do Estado nacional, a despeito do processo de descentralização que caracteriza o SUS, e a prioridade da área de ciência e tecnologia. No contexto, anunciou o lançamento de um edital para a criação de uma rede nacional de política de saúde, resultado de uma demanda da Abrasco e da parceria entre os ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia. Lembrando a 8ª Conferência Nacional de Saúde, em que, segundo ele, o movimento sanitário estabelecia pactos com todo mundo, Carlos Gadelha defendeu ainda a necessidade de se negociar mais com os adversários. “Precisamos sujar um pouco as mãos”, disse, para “deixar a nossa consciência mais limpa”.
Na sua fala, a presidente do CNS lamentou que a política econômica do governo esteja prevalecendo sobre as políticas sociais, o que se reflete, por exemplo, na falta de financiamento da saúde. Socorro destacou ainda a importância do enfoque sobre os trabalhadores do SUS, com discussões, por exemplo, sobre um necessário plano de carreira. Ela reconheceu a importância do programa Mais Médicos, mas ressaltou que ele não pode ignorar a existência da equipe multiprofissional.
As recentes manifestações ocorridas no país desde junho, que integram um dos grandes debates do evento, estiveram presentes na fala de Socorro e do presidente da Abrasco, Luis Eugênio Souza. Em ambos os casos, com mais ressalvas do que comemoração. Para a presidente do Conselho Nacional de Saúde, a saúde foi para a rua de forma “desqualificada”. “Não éramos nós que estávamos lá”, disse, para depois reconhecer que esse não era o problema. Já o presidente da Abrasco disse que o ascenso das massas é sempre bem-vindo, mas que é preciso refletir. E ele deu um exemplo do que, a seu ver, merece reflexão, informando que um integrante do Movimento Passe Livre (MPL) que tinha sido convidado para o evento disse que não viria por medo de sofrer agressões dos Black blocs. Convocando os cientistas sociais para esse debate, ele questionou: “Que mobilização é essa?”.
Compuseram ainda a mesa de abertura o diretor do Instituto de Medicina Social da UERJ, Cid Manso; o presidente e a vice-presidente do congresso, Kenneth Camargo e Roseni Pinheiro; a presidente da comissão científica do evento, Leni Trad,; o presidente da Fundação Oswaldo Cruz, Paulo Gadelha; o representante da Rede Unida, Marcio Archman; o diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde Antonio Carlos Campos de Carvalho; e Marilia Louvison.