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Novos formatos, mesmas consequências

Cigarros eletrônicos e artesanais ganham preferência dos usuários e preocupam especialistas
Juliana Passos - EPSJV/Fiocruz | 29/08/2023 11h13 - Atualizado em 29/08/2023 11h25

Quem já passou dos 30 anos provavelmente presenciou uma mudança importante no comportamento social em relação ao cigarro. Se, no passado, era possível tragá-los em espaços fechados, seja no trabalho seja em festas, hoje, os fumantes estão cada vez mais limitados a espaços abertos – pelo menos quando se trata do cigarro convencional. O cigarro tradicional vem perdendo espaço para o cigarro eletrônico, também chamado de vape porque, diferentemente do comum, na versão eletrônica o processo de combustão é por meio da vaporização. Outra modalidade que vem ganhando adeptos é o cigarro artesanal, também conhecido como “tabaquinho” e que, assim como o vape, também pode ser aromatizado. Essa aromatização é um dos principais atrativos desses cigarros para seus usuários, como é o caso da gerente de relacionamento Monica de Santini. Há três anos, ela decidiu parar de fumar o cigarro convencional por questões de saúde, mas não resistiu aos cigarros eletrônicos. Começou pedindo emprestado aos amigos em festas e depois passou a ter o seu próprio dispositivo. “Os vapes têm a vantagem de não deixar cheiro, têm gosto bom e eu posso fumar em quase todo lugar. Com certeza, o sabor é um dos maiores atrativos e o torna bem mais sociável”, comenta. Já a respiração pesada e a sensação de vácuo entre o nariz e a garganta, a tal ressaca do cigarro, se mantém. “Hoje fumo muito menos e pretendo parar, mas quando fumava mais, a sensação no dia seguinte era horrível”, conta ela.

De variados formatos, parecidos com canetas, pen drives ou até telefones celulares, os dispositivos eletrônicos para fumar funcionam com uma pequena bateria interna, responsável por aquecer o líquido inserido no dispositivo, que será aspirado pelo usuário e vaporizado. Apesar da venda e da produção serem proibidas no Brasil, em uma rápida busca pela internet é possível encontrar uma grande variedade de dispositivos eletrônicos disponíveis com diversos sabores, desde os mais fortes, como do próprio tabaco e charutos, até chocolate e baunilha. A composição variada e o cheiro mais suave também são vantagens do cigarro artesanal, na opinião da professora de história Gabriela da Fonseca, fumante de tabaco artesanal há dez anos. “Sem dúvida, socialmente o cigarro artesanal é mais aceito. Posso fumar mesmo dentro de casa e recebo elogios como ‘esse cigarro não cheira’, ‘essa fumaça é agradável, quase como se fosse um incenso mesmo’”, diz. Ela acrescenta que passou a fumar menos por montar o próprio cigarro e assim tem reduzido a ressaca e aliviado o bolso.

A coordenadora do Centro de Estudos sobre Tabaco e Saúde (Cetab) da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), Silvana Turci, explica que o cheiro não tem relação com a toxicidade do produto e faz um paralelo com o gás de cozinha. “O gás natural não tem cheiro, o que sentimos é um cheiro artificial para identificarmos um vazamento, do contrário, poderíamos morrer sem entender que era preciso fechar o gás ou chamar socorro”, exemplifica, acrescentando que, mesmo sem ter o cheiro, a toxicidade dos derivados de tabaco permanece alta.

Em maio de 2023, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu uma nova nota técnica em que proíbe fumar cigarros eletrônicos em locais fechados. A determinação está em vigor desde 2009, mas o órgão precisou reafirmar sua decisão diante de novos elementos trazidos pela indústria do cigarro que pareciam indicar uma capacidade menos nociva desses produtos. “É preciso rever a legislação quando novos indícios são apresentados, e a Fiocruz tem participado dessas discussões, ao lado de pesquisadores do mundo inteiro, com relatos e evidências científicas de que os elementos apresentados não se sustentavam. E isso gerou a nota técnica que manteve a resolução de 2009”, relata Silvana Turci.

Para o pesquisador do Instituto Nacional do Câncer (Inca), André Szklo, os fabricantes de cigarros fazem uma pressão constante para que essas normas sejam revisadas. “Existe uma forte pressão da indústria para liberar os dispositivos eletrônicos para fumar. Graças ao corpo técnico da Anvisa e à pressão da sociedade civil organizada, o Brasil continua resistindo, porque não há evidência científica que justifique a liberação desses dispositivos, nem a comprovação da sua segurança ou de que sejam capazes de operar como redutores de danos”, defende.

O Brasil é exemplo no combate ao fumo e, desde 1986, conta com o Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT). Na última década, o país alcançou uma redução significativa no número de fumantes, quando a taxa de adultos fumantes caiu de 18% para 12,6% no período de 2008 a 2019, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS). Agora, o que tem preocupado os especialistas é a estagnação dessa queda e a atração por novas modalidades de cigarro, como o eletrônico e o artesanal, principalmente entre os mais jovens. A redução de fumantes vista entre os adultos não ocorreu entre os adolescentes brasileiros, que de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE) variou de 6,6% para 6,8% no período de 2015 a 2019.

O que já se sabe sobre esses produtos

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), há mais de sete mil substâncias tóxicas no cigarro, dessas, pelo menos 70 estão no grupo de maior risco de provocarem câncer. Neste grupo está o alcatrão, composto de substâncias cancerígenas formado após a combustão dos derivados do tabaco. Por não haver queima, mas aquecimento, o cigarro eletrônico não contém alcatrão, mas contém algumas substâncias cancerígenas já conhecidas, apesar de ser um produto ainda pouco estudado em relação às décadas de trabalhos sobre o tabaco convencional. Entre as substâncias cancerígenas já mapeadas está o propilenoglicol que, quando aquecido, divide-se em outras substâncias: formaldeído, acetaldeído, acroleína e acetona, classificadas como cancerígenas. Em relação ao tabaco artesanal, Silvana lembra que a queima de qualquer substância orgânica produz alcatrão. “No caso da queima da folha de tabaco, isso significa gerar pelo menos 60 compostos cancerígenos diferentes”, diz. Ela acrescenta que o filtro vai fazer pouca diferença na proteção do organismo diante dessas substâncias, embora proteja a garganta da irritação. “Não existe nenhum nível seguro de exposição à substância cancerígena. Algumas pessoas podem desenvolver câncer em uma pequena exposição e outras podem ter uma maior resistência”, explica.

Em resposta enviada por meio da assessoria de imprensa, a Anvisa esclarece que o nível de toxicidade de determinado produto depende de diversos fatores. “A toxicidade de um produto ou de uma substância depende de diversos fatores, entre eles, a quantidade ingerida, a forma de consumo, a população atingida, os fatores biológicos, entre outros. O melhor indicador de impacto é o risco, que indica a probabilidade da ocorrência de um evento adverso. Além da toxicidade de uma substância, considera a exposição da população, sua forma de uso, a susceptibilidade, entre outros fatores”, diz a Agência.
A entidade explica ainda que a toxicidade pode limitar a análise, uma vez que alguns produtos se tornam tóxicos quando ingeridos em alta quantidade, como sal e açúcar, e produzem impacto na saúde pública como o aumento de casos de hipertensão e diabetes. Em relação às novas formas de tabaco, em comparação à tradicional, a posição da Anvisa é que não existe um produto que possa ser considerado “melhor” ou “pior”, pois todos são capazes de causar danos à saúde, e ainda que os efeitos estejam sendo estudados, a dependência à nicotina é um fator comum. “A nicotina é uma substância altamente viciante encontrada em todas as formas de tabaco, incluindo cigarros convencionais, vapes e ‘tabaquinho’. Ela é responsável pela dependência ao tabaco e está associada a uma série de efeitos adversos à saúde, como aumento da pressão arterial, doenças cardiovasculares e distúrbios respiratórios”, explica Diogo Alves, Oficial de Controle do Tabaco e Impostos de Saúde da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e da OMS. De acordo com a Organização, desde 2009, a produção e a venda de cigarros eletrônicos são proibidos no Brasil e em oito países da região das Américas com base no princípio da precaução, embora o consumo seja permitido. Ainda segundo a OMS, o tabagismo causa cerca de um milhão de mortes por ano na região das Américas. Dessas, mais de 93 mil mortes são causadas pela exposição ao fumo passivo. Quase metade das mortes por doenças pulmonares crônicas são atribuíveis ao consumo de tabaco e 5% ao fumo passivo. Além disso, 15% das mortes por tuberculose e 12% das mortes por asma são atribuíveis ao tabagismo.

A pesquisadora do Cetab alerta para a forte relação entre o tabagismo e o desenvolvimento de câncer. De acordo com a pesquisadora, 30% dos casos de câncer no Brasil estão relacionados ao consumo de tabaco. No caso de câncer no pulmão, essa taxa sobe para 90 a cada 100 pessoas. Em 2019, pesquisadores dos Estados Unidos identificaram uma doença, chamada de Evali (sigla em inglês para lesão pulmonar induzida pelo uso de cigarro eletrônico). provocada especificamente pelo consumo da versão eletrônica. Em fevereiro de 2020, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos divulgou um comunicado de que havia identificado 2.807 casos de hospitalizações e mortes decorrentes da doença. Em nota divulgada em abril de 2022, sobre o uso de cigarros eletrônicos, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) enfatiza o potencial danoso desses equipamentos e entende que é preciso uma maior difusão dessas informações entre os usuários. “Estudos científicos mostram que o uso dos DEFs [dispositivos eletrônicos para fumar], tanto agudo como crônico [ocasional ou frequente], está diretamente ligado ao surgimento de várias doenças respiratórias, gastrointestinais, orais, entre outras, além de causar dependência e estimular o uso dos cigarros convencionais”, diz o documento, que alerta para pouca difusão do conhecimento sobre esses malefícios.

Auxílio no combate ao fumo?
UnplashEm abril de 2023, o governo da Inglaterra divulgou o lançamento da campanha Swap to stop [Trocar para Parar] em que está prevista a distribuição de cigarros eletrônicos para os fumantes, em especial os de maior risco, como gestantes. Embora proíba a distribuição desses dispositivos para crianças e adolescentes, a decisão da Inglaterra é contrária ao que recomenda a OMS. “Não há evidências que apontem o uso dos cigarros eletrônicos como auxiliar na cessação. O que se tem notado é o uso dual de produtos. Muitas vezes, o fumante de cigarros convencionais, a partir da desinformação sobre uma menor toxicidade desses produtos, acaba utilizando-o no intuito de parar de fumar. O que acontece é que muitas vezes o produto não entrega a nicotina a que o indivíduo está acostumado e, por isso, ele acaba utilizando os dois produtos de uma vez”, disse Alves.

Para a pesquisadora da Ensp, usar cigarro eletrônico para combater o consumo de tabaco é “trocar seis por meia dúzia”, além de não considerar o aspecto da saúde pública. “Você acaba aumentando muito o acesso de pessoas e, principalmente, de jovens que nunca teriam pensado em fumar. Então, acaba acontecendo um aumento no consumo, contato e dependência da nicotina, que não haveria em uma outra situação. Porque quando falamos de saúde pública, temos que pensar no bem-estar de toda a comunidade”, avalia. Em contrapartida, ela cita os tratamentos oferecidos pelo SUS para quem quer parar de fumar, que vão desde a distribuição de balas de mascar e adesivos de nicotina, até medicamentos e grupos terapêuticos. Ela explica que, diferentemente dos cigarros eletrônicos, em que a quantidade de nicotina é desconhecida, o uso das balas de mascar e adesivos oferecem uma quantidade controlada da substância e auxiliam na redução gradual da dependência.

A posição de Silvana é a mesma defendida pela SBPT. Em comunicado sobre o tema, a entidade mostrou preocupação com a decisão do Ministério da Saúde inglês e pontuou que essa não é uma estratégia de saúde comprovada, enquanto há tratamentos eficazes contra a dependência. “A melhor maneira de parar de fumar é uma combinação de aconselhamento comportamental e farmacoterapia”, diz a nota, que cita ainda um estudo de 2016, publicado na revista The Lancet Respiratory Medicine, que diz que o sucesso do tratamento das pessoas que tentaram parar de fumar cigarro tradicional com o uso de cigarros eletrônicos foi 28% menor do que entre aquelas que não usaram o dispositivo.

Preocupação com os adolescentes

Uma preocupação frequente levantada pelos pesquisadores ouvidos por esta reportagem é a capacidade de os novos dispositivos atraírem o público adolescente. Em artigo de André Szklo e Neilane Bertoni, ambos pesquisadores do Inca, os autores destacam os dados da PeNSE sobre a quantidade de estudantes de 13 a 17 anos que experimentaram cigarros eletrônicos. A média nacional é de 16,8%, com destaque para a região Centro-Oeste, onde a proporção chega a 23,7%.

André explica que a adição do mentol, por exemplo, aumenta a rapidez com que a nicotina é absorvida pelo corpo e o poder viciante do tabaco. “Os aromas e sabores também têm uma outra função, de tornar esse primeiro contato com o produto mais aceitável. Se você tem um produto que é cheiroso, perfumado, que dá uma certa sensação de ser mais macio na garganta, isso vai facilitar esse contato inicial com a substância”. E a questão do sabor não é exclusiva do cigarro eletrônico, o cigarro artesanal também tem apresentado novas opções. Ao longo das décadas, foram diversas transformações para incentivar o consumo do cigarro e derivados. Silvana conta que os cigarros convencionais com filtro começaram a ser amplamente comercializados após a Segunda Guerra Mundial, mas que eles têm pouco efeito na filtragem de substâncias cancerígenas, embora ofereçam um alívio para a irritação na garganta. Outra mudança ao longo dos anos foi a adição da amônia para aumentar o efeito da nicotina no cérebro. “A amônia em contato com aquecimento do cigarro gera uma quantidade maior de nicotina que chega mais rápido ao cérebro e assim vai fazendo com que essa pessoa fique dependente mais rapidamente ou que consiga ficar menos tempo sem fumar”, detalha.

Para a coordenadora do Cetab, a forma como esses produtos são apresentados, em diversos formatos e sabores, são um atrativo para novos consumidores, principalmente os mais jovens. “Crianças e adolescentes que não teriam interesse no cigarro, por ver esse produto tão atraente, tão interessante do ponto de vista eletrônico, do cheiro, do aspecto, acabam usando”. A OMS lembra que a estratégia de oferecer versões mais leves de tabaco não é nova. “No passado, a indústria do tabaco desenvolveu produtos ‘light’ que, por meio de estratégias de marketing, passavam a ideia de que eram menos prejudiciais”, alerta. Mais recentemente, os esforços da entidade estão voltados para a implementação de políticas de controle do tabaco, como embalagens padronizadas e sem atrativos, restrições à publicidade e à promoção de produtos de tabaco, proibição de substâncias saborizantes, aumento de impostos, acesso limitado a produtos de tabaco e educação sobre os riscos do consumo de tabaco.

O poder da nicotina e as novas propagandas

A nicotina é classificada como uma substância psicoativa por estimular o Sistema Nervoso Central (SNC), acionar neurotransmissores como o glutamato e a dopamina – que trazem a sensação de prazer, melhoram do desempenho cognitivo e o controle sobre as emoções negativas, o que leva a diminuição da ansiedade e do apetite. “Quanto mais rápido for o pico de ação de uma substância psicoativa, maior será o risco de dependência”, explica a publicação “Cigarros eletrônicos: o que sabemos? Estudo sobre a composição do vapor e danos à saúde, o papel na redução de danos e no tratamento da dependência de nicotina”, publicada em 2016 pelo Inca, com organização de Stella Regina Martins.

O pesquisador do Inca lembra que essa sensação é temporária e as consequências são opostas ao bem-estar inicialmente provocado. Muitas vezes, associado a momentos de aventura, liberdade e virilidade nas propagandas, o tabaco produz, na verdade, o efeito contrário. “O uso de produtos derivados de tabaco está relacionado à impotência sexual, falta de ar, doenças pulmonares e aumento da gordura visceral, associada a um maior risco do desenvolvimento de doenças cardiovasculares”, explica André. Ele acrescenta que a transformação dos produtos também está acompanhada de um novo discurso para atrair usuários, como a tecnologia associada aos cigarros eletrônicos, assim como o cigarro artesanal está associado a um produto mais natural, orgânico, o que, em nenhum dos casos, torna os produtos menos nocivos, de acordo com o pesquisador. “É a história se repetindo com o dispositivo eletrônico, com o cigarro artesanal, mas é a mesma indústria da nicotina”, acrescenta.

Gabriela, hoje fumante do cigarro artesanal, ainda tem na memória as propagandas de cigarro mais antigas, em que as personagens eram relacionadas a algum esporte radical ou ao momento do flerte. “Também sou da época em que muitas figuras femininas apareciam nos filmes fumando em pose de interesse e foco, nunca passivas diante da vida”, diz. Sua vontade de fumar ainda é estimulada por algumas séries de televisão, mas em geral, está associada a momentos de estresse e de necessidade de relaxamento. E a história da sua família também reflete a oposição entre o prazer, a angústia e as doenças trazidas pelo hábito. “Eu tenho imagens muito bonitas da minha mãe tragando um cigarro, mas ela parou um pouco depois do meu pai morrer em decorrência de um câncer, justamente por conta do cigarro”, conta.

BOX: Produção de tabaco e custo para a saúde

Afif RamdhasumaAo mesmo tempo em que possui uma política ampla de acompanhamento do tabagismo, o Brasil é o maior exportador e o terceiro maior produtor de tabaco do mundo, atrás de China e Índia, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). A produção brasileira corresponde a 12,6% do total mundial. Os dados estão presentes no relatório da ONG ACT Promoção da Saúde, lançado em maio de 2023, para chamar a atenção para o tamanho da área destinada ao plantio de fumo, hectares que poderiam estar produzindo alimentos. O relatório foi estimulado pelo tema da campanha lançada pela OMS no Dia Mundial de Combate ao Tabaco – 31 de maio – intitulada “Plante comida, não plante tabaco”.

De acordo com a pesquisa, o país tem 357.230 hectares destinados ao tabaco, uma área cinco vezes menor do que a destinada ao plantio de arroz. Uma proporção considerada alta em comparação a outros países, uma vez que o arroz é um alimento de consumo básico para boa parte dos brasileiros. “Se houvesse uma redução maior da quantidade de terras de produção de tabaco para a produção de comida diversa e de verdade, teríamos ganhos no enfrentamento da insegurança alimentar. Além disso, a diminuição da produção de tabaco representaria em si algo benéfico para o conjunto da sociedade, uma vez que, se a produção diminui, o preço é encarecido, contribuindo para a diminuição do consumo de algo tão prejudicial para a saúde pública”, diz o documento.

Cálculos feitos em 2020 pelo Instituto de Efetividade Clínica e Sanitária (IECS), instituto independente da Argentina, estimaram que o custo do tratamento das doenças provocadas pelo consumo de tabaco é de R$ 125.148 bilhões ao ano no Brasil. O valor equivale a 23% do gasto do país para enfrentar a pandemia de Covid-19 no mesmo ano – R$ 524 bilhões. O Instituto considera que os valores podem estar subestimados por não incluírem ações de prevenção e tratamento para interromper o consumo.

 

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