Os espaços com menor índice de imunização contra a covid-19 no município do Rio de Janeiro correspondem aos bairros com maior percentual de população negra, segundo a 12º edição do Mapa Social do Corona, produzido pelo Observatório de Favelas.
Na Zona Sul e na grande Tijuca, o índice de vacinação contra a doença com a primeira dose chegou a 96% e 97%, respectivamente. Nesses locais, a população negra não passa de 38%, de acordo com o mapa. Enquanto isso, nas regiões da Zona Norte e da Zona Oeste, a taxa de imunização com a primeira dose não ultrapassou os 78%. Nesses locais, a população negra varia entre 38% e 82,63%.
Os piores índices foram registrados no extremo da Zona Oeste do município, mais próximo da região de Santa Cruz. Lá, apenas 72% da população foi imunizada com a primeira dose, 47% com a primeira dose de reforço e somente 21% com a segunda dose de reforço. Nessa região, a população negra varia entre 64,1% e 82,63%.
Em comparação à Zona Sul, que abarca bairros como Ipanema, Leblon e Leme, 96% da população foi imunizada com a primeira dose, 70% recebeu a primeira dose de reforço e 35%, a segunda dose de reforço. Nesses locais, a população negra não passa de 25%.
De acordo com o relatório, os dados mostram que “a dimensão racial é indissociável da explicação sobre a distinção corpórea e territorial de direitos na cidade do Rio de Janeiro, evidenciada, novamente, durante a fase de vacinação contra a Covid-19".
Lino Teixeira, pesquisador do eixo de políticas urbanas do Observatório de Favelas, afirma que o objetivo do estudo foi “lançar um olhar sobre o processo de vacinação e tentar entender quais são as diferenças presentes nas favelas e periferias da cidade, compreendendo a desigualdade também nessa etapa de reta final de pandemia”, ou seja, de imunização.
Depois, observadores foram a outros locais da cidade a fim de procurar comparações no processo de vacinação. “A gente foi produzindo mapas e cartografias, espacializando os dados encontrados nos mapas, cruzando com as áreas de favela na cidade e os perfis raciais por bairro”, explica.
“Conseguimos ter um mapa sobrepondo perfil racial, localização das favelas e os graus de vacinação em cada uma das doses. A gente conseguiu verificar uma desigualdade entre a Zona Sul e a Grande Tijuca com as demais áreas da cidade”, explica Teixeira.
Uma das explicações é a redução do investimento em recursos humanos destinados às estruturas de políticas de saúde pública, como os postos de saúde. Outra, é o aumento do movimento antivacina que vem circulando pelo país.
“Por fim, quando a gente olha para os territórios periféricos e para as favelas, [a imunização] tem de ser feita num processo acompanhado entre sociedade civil, poder público e as lideranças locais. Tem que ser feita por uma mobilização maior, não só de um olhar de fora, porque senão os resultados são pouco efetivos”, afirma Teixeira citando o exemplo do Complexo da Maré.
“O caso da Maré nos ajuda a entender como que uma grande articulação, compreendendo o território, com diagnósticos aproximados do território, conversando com as lideranças, e essas lideranças protagonizando esse processo, fazem com que os resultados sejam muito superiores.”
Na Favela da Maré, as campanhas e o processo de imunização são capitaneados por uma série de parceiros, entre eles a Fiocruz, universidades e o próprio Observatório. Tais parceiros estiveram “à frente de ações contra a pandemia, de redução do impacto e do processo de vacinação em massa, com uma série de postos de vacinação, uma estratégia específica, se aproximando dos moradores”, explica o pesquisador. A Favela da Maré, portanto, “é uma exceção”.
Edição: Rodrigo Durão Coelho
Por: Redação EPSJV e Caroline Oliveira, do Brasil