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Plano de Imunização negligencia vacinação de cuidadores de idosos, diz pesquisador

Estima-se que no Brasil 4,2 milhões de familiares cuidam de idosos e apenas 1 milhão de cuidadores sejam contratados ou remunerados, segundo uma nota técnica do Comitê de Saúde da Pessoa Idosa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Apesar de a população idosa dos estados brasileiros já ter sido vacinada em sua maior parte, ainda não houve uma campanha de vacinação em massa de seus cuidadores.

O comitê destaca que os cuidadores de idosos foram incluídos no grupo prioritário de profissionais da saúde do Plano Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde. Foram incluídos, no entanto, somente os trabalhadores remunerados, excluindo os familiares que são cuidadores de seus parentes idosos.

Uma outra pesquisa da Fiocruz, realizada entre agosto e novembro de 2020, mostrou que 91,4% dos familiares cuidadores de idosos são mulheres; 60% têm 50 anos ou mais; e quase 40% sofrem de alguma doença crônica considerada de risco para a covid-19, como hipertensão, diabetes, doença respiratório, de coração ou câncer.

Segundo Daniel Groisman, professor e pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fiocruz (EPSJV/Fiocruz), em alguns municípios, a vacinação dos cuidadores de idosos ocorreu, mas foi pouco divulgada. Em outros, como Campinas e Salvador, estão iniciando a vacinação somente agora. Há ainda, aqueles locais nos quais a imunização sequer aconteceu.

“Apenas para citar um exemplo, em São Paulo, a cidade com maior número de cuidadores de idosos do país, os cuidadores não podem se vacinar até o momento. Das principais capitais, apenas o Rio de Janeiro e Belo Horizonte estão fazendo essa vacinação”, afirma Groisman.

Nas palavras do professor, a imunização, longe de ser um processo individual, precisa ser coletiva, para que o avanço da pandemia e, consequentemente, do número de mortes e infectados, seja contido. Por isso a necessidade de os familiares que são cuidadores se vacinarem também.

Segundo Groisman, o poder público precisa investir nas campanhas de divulgação da imunização. “Muitas vezes a informação não chega até essas pessoas. Não existe um esforço de divulgação, um cartaz divulgado nas redes sociais. E isso também diminui a cobertura vacinal”, afirma.

“As prioridades precisam ser definidas de acordo com os critérios epidemiológicos e, nesse sentido, a vacinação dos cuidadores é fundamental.”

A pandemia não é a mesma para todos

Para Groisman, “essas pessoas estão arriscando as suas vidas para” cuidar de idosos. Sem levar em consideração que, frequentemente, fazem parte de “segmentos da sociedade que são mais afligidos pela chance de morrer na pandemia, porque são das classes mais pobres”.

Negros – pretos e pardos, de acordo com a denominação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – morrem mais do que brancos em decorrência da covid-19 no Brasil. A assertiva pode ser verificada a partir de dois estudos realizados neste um ano de pandemia, um do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde, grupo da PUC-Rio e outro do Instituto Pólis.

No primeiro, ficou demonstrado que, enquanto 55% de negros morreram por covid, a proporção entre brancos foi de 38%. Na segunda pesquisa, o Instituto Polis mostrou que a taxa de óbitos por covid-19 entre negros na capital paulista foi de 172/100 mil habitantes, enquanto para brancos foi de 115 óbitos/100 mil habitantes.

O acesso desigual à saúde também se reflete na vacinação. Uma reportagem da Agência Pública de março deste ano apontou para a discrepância entre brancos e negros vacinados: 3,2 milhões de pessoas que se declararam brancas receberam a primeira dose do imunizante contra o novo coronavírus. Já entre os negros, esse número cai para 1,7 milhão.

Edição: Vivian Virissimo

Por: Ana Paula Evangelista

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Repórter SUS