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EPSJV promove 1º Encontro Nacional de Doulas no SUS

Realizado em parceria com a ADoulas-RJ, evento debateu a atuação político-institucional dessas profissionais no sistema público de saúde
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 01/06/2021 20h32 - Atualizado em 01/07/2022 09h42

A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) promoveu, de 27 a 29 de maio, o 1° Encontro Nacional de Doulas no SUS (Sistema Único de Saúde). O evento foi mais uma iniciativa de um projeto financiado por uma emenda parlamentar, executada pela EPJSV em parceria com a Associação de Doulas no Rio de Janeiro (ADoulas-RJ). Realizado de forma remota, com 1.250 inscritos, o evento teve o objetivo de fomentar espaços para o compartilhamento e troca de experiências sobre a atuação da Doula no SUS e sistematizar informações e saberes que se constituam em subsídios para a atuação político-institucional dessa profissional no sistema público de saúde.

“Nosso primeiro encontro foi um espaço de troca de histórias e aprendizados. As doulas são profissionais que possuem longas histórias no Brasil. Elas prestam auxílio físico, informacional e emocional à pessoa durante seu ciclo gravídico-puerperal. Falar de doulagem é falar de parto digno, reconhecimento da voz da mulher e de acesso à rede de saúde humanizada”, destaca a professora-pesquisadora da EPSJV, Bianca Borges, que coordena o curso de doulas na Escola, juntamente com a também professora-pesquisadora, Fernanda Martins, e com Morgana Eneile e Janaina Gentili, da ADoulas-RJ.

Na abertura do evento, Anakeila Stauffer, diretora da EPSJV, agradeceu a parceria com a ADoulas-RJ, que possibilitou a organização do Curso de Atualização Profissional de Doulas nos últimos três anos, o desenvolvimento de pesquisa e o fortalecimento da atuação dessas profissionais. “Como diria Paulo Freire, a escola pública tem que ser popular. Então, não há outro caminho que não seja o de compartilhar no nosso cotidiano o trabalho junto aos movimentos sociais populares. De fato, a ADoulas veio para nos ensinar e fortalecer nosso projeto-político-institucional, que traçou em 2018 a estratégia de a Escola intensificar a sua atuação juntos aos movimentos sociais e com outras unidades da Fiocruz”, apontou.

Para a diretora, a temática do encontro e o papel e atuação das doulas no SUS são primordiais para salvar vidas. “Eu espero que a EPSJV, uma escola pública do SUS, tenha contribuído para a valorização de cada trabalhadora e para o fortalecimento na luta pela sua profissionalização. Que estejamos juntos na luta por um SUS sempre maior e mais potente”, comemorou.

Responsável pela Emenda Parlamentar que viabilizou a formação na EPSJV, a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), que participou da abertura do evento, corroborou: "Sabemos o quanto é importante o exercício da profissão de doula no Brasil. Quantas mulheres, nesse momento, gostariam de ter uma doula do seu lado? Principalmente nesse momento de pandemia, em que vemos uma situação em que as grávidas estão com o psicológico abalado pela pandemia. Garantir as doulas no SUS é garantir o compromisso de fortalecer cada vez mais não só a autonomia, mas também os recursos necessários para que mais mulheres possam estar nessa formação”.

Segundo Morgana Eneile, que além de coordenadora do curso, é presidente da ADoulas-RJ, não há dúvidas que o crescimento das doulas advém da consciência de quem são essas profissionais. “Nós já sabemos o que fazemos, a nossa importância e o que os dados da ciência dizem sobre nós. Esse é um encontro para que aprendamos a construir as perguntas certas. E isso depende da ruptura de determinadas oposições, a compreensão de que nós somos anti-protocolo. Nós já somos doulas do SUS! Como provar que já existimos e que aquilo que colocamos como futuro já é nosso presente?”, questionou.

Em sua fala, Bianca lembrou da importância do evento no contexto da pandemia da Covid-19. Para ela, esse é o momento para repensar e defender o SUS enquanto política pública universal. “Já passamos de 450 mil óbitos, sendo o Brasil o país onde mais tem morrido gestantes no mundo. Passamos da marca de mortes do ano passado. Temos que discutir esses aspectos, externalizar barreiras, desafios e dificuldades”, destacou.

Também participaram da cerimônia de abertura, Leila Adesse, coordenadora da área de Saúde da Mulher da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro; Carla Brasil, superintendente de Hospitais Pediátricos e Maternidades do município do Rio de Janeiro; Joyce Trindade, secretária especial de Políticas e Promoção da Mulher; Lívia Câmara, gerente da Área Técnica de Saúde da Mulher do município do Rio de Janeiro; e Bruna Grasieli, secretária executiva da Federação Nacional de Doulas do Brasil.

Valorização da doula no SUS

No primeiro dia do encontro, foram realizadas mesas de debate que discutiram temas como o ativismo e o voluntariado das doulas, as iniciativas de formação e as iniciativas institucionais de hospitais e de outras estruturas de saúde que já contam essas profissionais. 

No segundo dia, pela manhã, os assuntos tratados foram as perspectivas futuras de atuação profissional para as doulas. Um momento marcante foi a sessão de luta pela redução da mortalidade materna no Brasil. “Discutir a mortalidade materna é discutir no nosso lugar de doula a compreensão de que somos agentes políticos”, disse Morgana. A sessão contou ainda com uma intervenção cultural feita pela escritora e contadora de histórias, Magna Domingues, e com falas de Lisiane Bôer, da Rede Unida, e Tainá de Paula, vereadora do Rio de Janeiro.

Já a parte da tarde foi reservada para as rodas de experiências e vivências de doulas no SUS. Foram apresentados 41 trabalhos, distribuídos em nove rodas, mediadas por membros da comissão científica formada por doulas de associações de todo o país e por pesquisadores da EPSJV e de outras unidades da Fiocruz. “A nossa ideia é publicar um e-book com a sistematização de todas essas experiências ao final desse processo”, ressaltou Bianca.

No dia 29 de maio, foram realizadas as oficinas específicas para discussão da atuação das doulas no sistema público de saúde. “As oficinas serviram para que a gente pudesse pensar de forma mais estruturada e tirar elementos que, de fato, apontem para a atuação concreta da doula na atenção primária, na atenção hospitalar e na rede de parto e nascimento do SUS”, contou Bianca.

Por fim, houve a sistematização e apresentação das oficinas e, em seguida, as participantes assinaram uma carta sobre a atuação das doulas no SUS. "Desde a abertura do evento, muitas vozes se juntaram em um coro que afirma a importância e a urgência da tarefa. As mesmas vozes que também ecoam a importância da nossa atuação. Sairemos daqui com o compromisso de nos juntar a todas as vozes. Mas da mesma forma que continuaremos unidas aos que desejam o fortalecimento da combalida saúde pública no Brasil, cobraremos o reconhecimento de fato e de direito acerca da nossa importância e do quanto é fundamental que sejamos incluídas nos planejamentos dos processos inerentes à saúde no país", diz um trecho do documento.

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