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Escola Politécnica e Centro Colaborador da OMS comemoram aniversário

EPSJV comemora 29 anos e 10 anos como centro colaborador da OMS com diversas atividades.
Talita Rodrigues - EPSJV/Fiocruz | 28/08/2014 08h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h46

 Idealizada durante a Reforma Sanitária, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) comemorou, no dia 27 de agosto, 29 anos de fundação (completados em 19 de agosto) e 10 anos como Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Educação de Técnicos em Saúde. A programação incluiu conferências, debates, apresentação musical e lançamento de livros.

A importância da escola na formação dos trabalhadores técnicos da saúde foi lembrada na mesa de abertura do evento, formada pelo presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, a representante da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Roberta Santos, e o diretor da EPSJV, Paulo César de Castro Ribeiro. “A Escola é uma das relações mais longas que temos como centro colaborador. Desde 2004, a escola atua de maneira forte e teve importantes conquistas”, enfatizou Roberta. O presidente da Fiocruz fez questão de saudar a presença do ex-presidente da Fiocruz, Luiz Fernando Ferreira. “Luiz está presente em quase todos os aniversários desta escola, da qual é um dos fundadores, e quer continuar acompanhando o que idealizou há 29 anos”, ressaltou e completou: “O trabalho feito pela EPSJV é de sempre se reinventar, com uma densidade e reconhecimento nacional e internacional”, enfatizou.

Sobre o papel da EPSJV como Centro Colaborador, Gadelha ressaltou que é preciso pensar em globalização e as contradições que ela traz localmente. “Estamos fazendo isso de maneira muito intensa, a cooperação deve ser sempre estruturante e horizontal”, ressaltou. Ainda na abertura do evento, a Escola recebeu uma homenagem do Instituto Nacional de Câncer (Inca), por meio da representante Valquíria Matos, pela parceria entre as instituições para a realização de cursos de formação técnica.

Políticas de Saúde

 As “Políticas de Saúde na América Latina” foram o tema da conferência de abertura do evento, apresentada por Oscar Feo, coordenador nacional da Universidade de Ciências da Saúde da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba). Oscar iniciou sua apresentação relembrando quais foram as principais mudanças na área de saúde nos últimos 30 anos. Segundo ele, a primeira mudança fundamental foi o fato de a saúde ter entrado no circuito de acumulação e produção de capital, tendo o Complexo Médico Industrial Financeiro da Saúde (CMIF) como ator principal das políticas públicas. “Há 30 anos, o que o médico precisava para fazer uma consulta cabia em uma bolsa. Hoje, temos uma medicina altamente tecnológica que resulta em uma desumanização da saúde”, observou.

Oscar Feo também falou sobre os quatro principais negócios na área de saúde: a doença, a venda de tecnologia, de serviços clínicos e de planos de saúde. “Hoje, a indústria adoece pessoas sadias, inventa doenças. Fabrica novas enfermidades para vender novos medicamentos. A indústria não cria remédios para curar, mas para cronificar. E o Estado financia estas empresas, comprando tudo isso: serviços clínicos, farmacêuticos e seguros. O sistema público de saúde, hoje, é só para os pobres”.

Ele lembrou ainda que a saúde está entre os grandes negócios mundiais. Em recente pesquisa publicada na Revista Fortune, os serviços farmacêuticos e do complexo médico e de equipamentos se encontram em 3º e 4º lugar no ranking das indústrias mais rentáveis, perdendo apenas para a indústria eletrônica e de telecomunicações. “Para eles, portanto, curar não é rentável”, destacou o professor, informando ainda que existe uma união entre o complexo militar, complexo médico-industrial e meios de comunicação. Entre os exemplos, citou a General Electric como detentora da NBC e Westinghouse da CBS. “O papel das empresas de comunicação é informar. E ela cria matrizes de opinião. Primeiro, elas mostram um cenário de epidemia, vendem a calamidade. Depois, vendem as soluções como as vacinas e os medicamentos”, ressaltou.

Cooperação internacional

 Na parte da tarde, foi apresentado o painel “Cooperação Internacional: organismos internacionais e as políticas de saúde na América Latina”, por João Márcio Mendes Pereira, doutor em História e professor de História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp); e Maria Lucia Frizon Rizzotto, doutora em Saúde Coletiva e professora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioste).

João Márcio falou sobre as principais questões teóricas e históricas da cooperação internacional no mundo e também sobre as tendências mais recentes sobre o tema. O professor lembrou que após a Segunda Guerra Mundial, em 1945, a “ajuda” entre os países passou a ser tratada como “cooperação”. “A cooperação sempre envolve um discurso bem-intencionado, mas isso se choca com o caráter discricionário de quem aciona a cooperação. Quem ajuda diz: eu ajudo quem eu quero. Os que mais se beneficiam das desigualdades de poder do mundo, são os que constroem os elos de cooperação”, disse.

O professor falou também sobre os quatro principais enfoques teóricos da cooperação internacional - a cooperação como instrumento de política externa dos estados doadores; a cooperação como instrumento necessário para a governança global; a avaliação dos resultados da assistência ao desenvolvimento, criando indicadores para mensurar o que é transferido e o que é aplicado; e a teoria da assistência ao desenvolvimento como uma rede e uma perspectiva de poder, identificando os padrões de gestão que devem ser difundidos. “‘A cooperação é uma forma de fazer política, que teve sua estreia no Plano Marshall, no pós-guerra, quando os Estados Unidos emprestaram dinheiro a fundo perdido aos países europeus em troca de algumas exigências. A partir daí, os Estados Unidos montaram sua estrutura econômica de poder e contra o comunismo”, destacou João.

Banco Mundial

Maria Lúcia falou sobre “O Banco Mundial e o setor de saúde no Brasil: cooperação internacional como forma de intervenção nas políticas internas” . A professora lembrou que as práticas do Banco Mundial são orientadas por cinco pressupostos principais: princípios liberais, desenvolvimento econômico, Estado com papel corretivo e compensatório das desigualdades sociais, justiça social e equidade.

Lembrando que o Banco Mundial começou a se interessar pela área de saúde nos anos 1970, a partir da explosão demográfica do planeta. “O objetivo era dar uma face mais humana para o banco, mas também porque o setor saúde mobilizava e ainda mobiliza um volume razoável de recursos que interessam ao capital”, explicou a professora.

Para intervir na área de saúde dos países, o Banco Mundial usa estratégias como o financiamento de programas e pesquisas e a produção e divulgação de relatórios e documentos. “Até os anos 1980, o Banco fazia os financiamentos específicos. Depois, passaram a financiar os programas de ajuste estrutural, que davam mais visibilidade ao Banco Mundial e também a produzir e divulgar relatórios e documentos”.

No Brasil, a trajetória do Banco Mundial teve início nos anos 1980, quando foram divulgados os primeiros documentos institucionais sobre o setor de saúde brasileiro e iniciados os financiamentos aos primeiros projetos no país. “Nos últimos anos, o Banco Mundial está mudando sua estratégia e priorizando, no lugar dos projetos nacionais, os programas com estados e municípios”, observou Maria Lúcia.

A professora destacou ainda os principais pontos de dois dos documentos mais recentes do Banco Mundial sobre o Brasil: “Governança no Sistema Único de Saúde (SUS) Brasileiro - fortalecendo a qualidade dos investimentos públicos e da gestão de recursos” (2007) e “20 anos de construção do sistema de saúde no Brasil: uma análise do Sistema Único de Saúde” (2013).

Música e livros

 A programação de aniversário da EPSJV, contou ainda com uma apresentação da Orquestra de Câmara do Palácio Itaboraí e do Coral Voz Imperial. O grupo, formado por cerca de 30 jovens, é um projeto social do Palácio Itaboraí (Fiocruz Petrópolis) que tem o objetivo de promover a inclusão social e a capacitação profissional pela música.

Para encerrar as comemorações, foram lançados os novos livros publicados pela Escola Politécnica. As novas publicações são: ‘Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio: 10 anos como Centro Colaborador da OMS para a Educação de Técnicos em Saúde’, organizado por Ana Beatriz Noronha, Anakeila de Barros Stauffer e Helifrancis Conde Groppo Ruela; ‘Conceitos básicos e aplicados em imuno-hematologia’, organizado por Maria Beatriz Siqueira Campos de Oliveira, Flávia Coelho Ribeiro e Alexandre Gomes Vizzoni; Coleção ‘Conceitos e métodos para a formação de profissionais em laboratórios de saúde’, com cinco volumes, organizada por Etelcia Molinaro, Luzia Caputo e Regina Amendoeira; ‘Iniciação Científica na Educação Profissional em Saúde: articulando trabalho, ciência e cultura (vol. 8)’, organizado por Anakeila de Barros Stauffer, André Dantas e Marcela Pronko; ‘Segurança alimentar no contexto da vigilância sanitária: reflexões e práticas’, organizado por Bianca Ramos Marins, Rinaldini Tancredi e André Luís Gemal; ‘Trabalhadores Técnicos da Saúde: aspectos da qualificação profissional no SUS’, organizado por Márcia Valéria Morosini, Márcia Lopes, Daiana Crús, Filipina Chinelli e Monica Vieira; e ‘Caderno de debates 4 – Os desafios da integração regional para os trabalhadores técnicos em saúde’, organizado por Anakeila de Barros Stauffer e Anamaria D’Andrea Corbo.

Teatro

 Também como parte das comemorações de aniversário da EPSJV, foi realizada no dia 15 de agosto, na Escola Politécnica, uma apresentação do Grupo Dolores Boca Aberta mecatrônica de Artes, grupo de teatro político que busca expressar sua forma de ver o mundo através da arte.

O grupo, de São Paulo, é conhecido por usar o teatro como uma forma de luta pelos direitos dos trabalhadores, apresentou o espetáculo Resistência Política e Existência Poética: olhares compartilhados sobre o fazer estético-político.