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Seminário discute Educação Profissional em Saúde

Evento realizado na EPSJV integra o ciclo de debates preparatórios para o Seminário Educação, Saúde e Sociedade do Futuro
Talita Rodrigues - EPSJV/Fiocruz | 07/05/2015 08h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h46

 A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) sediou no dia 29 de abril o terceiro ciclo de debates preparatórios para o Seminário Educação, Saúde e Sociedade do Futuro, que será promovido pela Fiocruz nos dias 25 a 27 de agosto. O evento teve como tema a Educação Profissional em Saúde na Fiocruz e foi organizado pela Vice-presidência de Ensino da Fiocruz e o GT de Educação Profissional em Saúde da Fiocruz, formado por EPSJV, ENSP, IOC, COC e IFF.

Alexandre Medeiros, diretor do Departamento de Gestão da Educação na Saúde do Ministério da Saúde (Deges/SGTES/MS), falou sobre “A formação e o mercado de trabalho dos técnicos em saúde” , lembrando que essas necessidades estão mudando ao mesmo tempo em que está em transição o perfil etário e epidemiológico da população em geral e também da força de trabalho. “A população envelheceu, mudou o perfil epidemiológico, mas continuamos investindo no mesmo tipo de formação de 30 anos atrás. A formação técnica ainda é muita distante das necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS). Os serviços devem ser estruturados a partir das necessidades da população e não o contrário”, disse ele, acrescentando que outra questão que precisa ser considerada no Brasil são as desigualdades sociais. “A situação da saúde é perversa. Tem menos acesso quem mais precisa”.

Ele ressaltou ainda que a rede pública de formação técnica ainda é pequena e a maior parte da formação é feita em instituições privadas. “Precisamos olhar a formação do nível médio, que às vezes fica esquecida. Hoje, dos quase dois milhões de trabalhadores do SUS, boa parte são de nível médio e precisam de formação adequada”.

Com as redes de serviços cada vez mais complexas e o uso de novas tecnologias, também crescem as demandas por uma formação diferenciada. “A formação ainda é muito fragmentada e não consegue romper com a fragmentação do cuidado. Temos que buscar uma maior integração na rede de serviços e levar isso para a formação”, destacou Alexandre. Segundo ele, na prática, os processos formativos estão longe da interprofissionalidade, pois em um mesmo local de trabalho, as pessoas ficam isoladas em suas salas. “A gente tem os mesmos problemas, mas não tem nenhuma atividade em comum. Em um hospital, as enfermeiras ficam no balcão da enfermagem e os médicos na sala de prescrição. Não discutem um processo terapêutico para um paciente, por exemplo. Qualquer trabalho integrado tem que propiciar o encontro, mas isso não acontece desde a formação. E se não faz isso na formação, não vai fazer no mercado de trabalho”.

Essa falta de integração, segundo o secretário, também está relacionada com as relações de poder entre os profissionais de nível médio e de nível superior. “Temos um problema de não valorização do profissional de nível médio. Existe uma clara distinção entre quem tem nível superior e quem tem formação de nível médio. Isso é uma disputa social e temos que vencer isso, tem que acabar com esse fosso entre a valorização do profissional de nível médio e o profissional de nível superior. Precisamos discutir não só a questão da formação, também precisamos discutir as relações de poder dentro do trabalho. E isso não é um problema só no trabalho, é um problema da sociedade brasileira”, afirmou Alexandre.

Relações de poder

Os saberes profissionais e as relações de poder também foram abordadas pela professora-pesquisadora da EPSJV, Marise Ramos, que fez uma apresentação sobre “A educação profissional e os desafios da formação dos técnicos em saúde nos dias atuais” . “Os profissionais de nível superior são reconhecidos como profissionais porque ninguém nega a necessária base científica na sua formação. Já na formação técnica de nível médio isso não é necessariamente verdade. É possível fazer uma formação técnica sem recorrer a bases ou fundamentos científicos e, com isso, a atividade técnica de nível médio pode não ser reconhecida como uma atividade profissional. Isso faz com que o poder simbólico desses profissionais em uma equipe seja baixo. Por isso, defendemos que repensar a formação técnica de nível médio com base nas ciências contribui para se estabelecer um princípio chave para o reconhecimento social desses profissionais, conferindo aos técnicos mais poder simbólico”, destacou a professora.

Marise falou sobre a relação entre o universo do trabalho e a formação profissional, apresentando resultados da pesquisa “Saberes, Competências e Cultura Profissionais dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS): o processo de reconstrução do conhecimento na relação Trabalho e Educação”, desenvolvida entre 2012 e 2014. Marise explicou que os saberes profissionais são produzidos a partir da reconstrução de seus conhecimentos formais articulados com os saberes da experiência em situações de trabalho, enquanto as culturas profissionais são construídas pelo compartilhamento de saberes, produzindo novos conhecimentos. “Os saberes que os trabalhadores mobilizam no trabalho não são necessariamente os que aprendem na escola, mas tem tudo a ver com o que aprenderam, pois o modo como se aprende na prática é influenciado pelo modo como se aprendeu a teoria”.

Elevar o poder simbólico dos técnicos, mediante a fundamentação científica de sua formação, é um dos desafios para a formação dos técnicos. “É inegociável pensar a formação técnica sem a base científica. O conhecimento científico tem potencial não só para estruturar uma ação no trabalho, mas também para elevar diante da sociedade o poder desses trabalhadores”, ressaltou Marise, acrescentando que relativizar o poder simbólico dos profissionais de nível superior também é um desafio a ser enfrentado. Outros desafios citados por Marise são compreender a formação técnica de nível médio como política educacional e não como política de Recursos Humanos; fortalecer as ETSUS como instituições de formação; admitir que a política de educação profissional integrada ao ensino médio abrange também a formação de técnicos; e a formação básica dos trabalhadores, associada às necessidades do SUS.

Biotecnologia

“Desafios do mercado de trabalho para a formação técnica em Biotecnologia” foi o tema abordado por Tatiane Alves, coordenadora do Bio RH, subgrupo do GECIV-RJ (Grupo Executivo do Complexo Industrial das Ciências da Vida). O GECIV-RJ tem o objetivo de elaborar e desenvolver diretrizes para as políticas estaduais de fortalecimento do complexo produtivo e de inovação em ciências da vida. O Bio RH é composto por unidades formadoras em Biotecnologia e busca apoiar a oferta de profissionais qualificados para atuar na área de biotecnologia.

Entre as ações estratégicas do Bio RH estão a criação de um portal de biotecnologia para reunir diversas informações sobre a área, que deve estar pronto até o final deste ano; uma pesquisa de egressos dos cursos de biotecnologia para conhecer o perfil e a situação no mercado de trabalho desses profissionais; desenvolver um mestrado profissional; e fazer a análise da grade curricular e o projeto pedagógico dos cursos de biotecnologia nas unidades formadoras na área.

“A conjuntura atual é favorável para o desenvolvimento do setor no estado do Rio de Janeiro, mas hoje ainda temos como principais desafios a falta de oportunidade de emprego na área pelo fato de o mercado em biotecnologia não estar consolidado. Outros problemas são a estratégia adotada por algumas empresas, visando facilitar o desenvolvimento e a inovação, de importar profissionais de outros estados e os baixos salários praticados no setor, que provocam a migração dos profissionais para outras áreas”, disse Tatiane.  

Escola Politécnica

 A vice-diretora de Ensino e Informação da EPSJV, Páulea Zaquini, fez uma apresentação sobre a atuação da Escola Politécnica na educação profissional em saúde . Páulea destacou que a EPSJV tem como pressupostos formativos a formação crítica, indissociável da pesquisa e comprometida com o fortalecimento do SUS; a formação a partir do próprio trabalho; e garantir na construção dos currículos as dimensões sócio-históricas e o conhecimento que o trabalhador já tem. “A Escola atende diversos tipos de alunos, desde o ensino médio até a pós-graduação, incluindo os trabalhadores que já atuam na área da saúde”, observou.

A EPSJV oferece cursos técnicos, cursos técnicos integrados ao ensino médio, pós-graduação, Educação de Jovens e Adultos, além de cursos de qualificação, atualização, especialização técnica e desenvolvimento profissional.

Páulea destacou como alguns desafios a serem enfrentados atualmente na formação técnica a superação da invisibilidade do trabalhador técnico em saúde, a desprecarização desse trabalhador, a flexibilização da legislação trabalhista, com o setor público trabalhando na lógica do privado. “Falta também uma política efetiva de formação de trabalhadores de nível médio em saúde e existe uma ausência de discussão sobre trabalho em saúde de nível médio. O que temos é uma política de atendimento a demandas e uma formação fragmentada”, destacou a vice-diretora.

Técnico em Biotecnologia

O Curso Técnico em Biotecnologia, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) , foi o tema da apresentação de Paulo Roberto Sthephens, que coordena o curso. Essa formação é oferecida pelo IOC desde 1981, tendo sido reestruturada em 2000, e já formou 360 profissionais.

O curso é realizado em parceria com outras unidades da Fiocruz – EPSJV, Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp), Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Biomanguinhos) – além de outras instituições.

Paulo também apresentou resultados da pesquisa “Identificação das demandas de RH para a fixação do cluster de biotecnologia no Rio de Janeiro”, realizada pelo Bio RH, com o objetivo de avaliar as demandas do setor produtivo da área de biotecnologia no estado do Rio de Janeiro. A pesquisa mostrou que 52,5% dos trabalhadores da área de biotecnologia possuem nível superior, 27% têm formação técnica e 20,5% pós-graduação.

Na pesquisa, os trabalhadores da área informaram que suas dificuldades em relação ao mercado de trabalho são a falta de experiência, a forte concorrência, a falta de ofertas de vagas de empregos, a ausência de regulamentação da profissão e a falta de adequação do curso ao mercado de trabalho.

Concurso de redação

Estão abertas até o dia 12 de junho as inscrições para o concurso de redação Educação, Saúde e Sociedade do Futuro: olhares e percepções dos alunos da Fiocruz, promovido pela Fundação por meio da Vice-Presidência de Ensino, Informação e Comunicação (VPEIC). O objetivo é estimular a participação dos alunos da instituição, abordando os diferentes olhares sobre o tema do Seminário Educação, Saúde e Sociedade do Futuro, que será realizado de 25 a 27 de agosto.

O concurso está dividido em três categorias: stricto sensu, lato sensu e ensino médio. Serão premiados os três melhores trabalhos de cada categoria. Veja o edital completo.