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EPSJV conclui curso de Educação e Agroecologia

Com o objetivo de contribuir para a consolidação do conhecimento e das práticas de agroecologia no baixo e extremo sul do estado da Bahia, o curso formou 42 profissionais da educação básica que atuam nas escolas do campo da região
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 16/09/2021 13h51 - Atualizado em 01/07/2022 09h41

Cadu SouzaA Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) entregou, no dia 12 de setembro, os certificados de conclusão do Curso de Especialização em Educação do Campo e Agroecologia. A cerimônia aconteceu no assentamento Agroecológico Jaci Rocha, município de Prado, no extremo sul da Bahia. A iniciativa foi realizada em parceria com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e a Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Bruneto (EPAAEB). Iniciadas em janeiro de 2019, as aulas aconteceram de forma presencial na sede da EPAAEB, na Bahia. Em função do contexto de suspensão das atividades de ensino presenciais por conta da pandemia de Covid-19, os trabalhos de conclusão de cursos foram apresentados de forma remota no final de 2020.

Com o objetivo de contribuir para a consolidação do conhecimento e das práticas de agroecologia no baixo e extremo sul do estado da Bahia, o curso formou 42 profissionais da educação básica que atuam nas escolas do campo da região. A estrutura e o funcionamento da formação tiveram como base a Pedagogia da Alternância, com quatro etapas de Tempo Escola e três etapas de Tempo Comunidade. Em ambos os tempos, foram realizados ensino, pesquisa e práticas pedagógicas diversas.

De acordo com Felipe Campelo, diretor da escola Egídio Brunetto e que faz parte da coordenação do curso, a ideia da formação surgiu a partir da necessidade de aprofundar teoricamente os conceitos da agroecologia e a sua ligação com a educação e com o trabalho, visto que as escolas do campo, de assentamentos e acampamentos da Reforma Agrária têm atuado diretamente nessas áreas. “A partir dessa construção teórica, tivemos momentos de socialização e partilha das diversas experiências feitas nas escolas, aprendemos a sistematizar essas experiências e, no final, produzimos projetos de intervenção que nos ajudarão a pensar, a médio prazo, na formação em agroecologia para os estudantes de educação básica”, conta.

A professora-pesquisadora da EPSJV e também coordenadora do curso, Anakeila Stauffer, explica que esses projetos de intervenção foram criados pensando nas determinações e implicações históricas e pedagógicas do território. A pesquisadora informa que os trabalhos abordaram temas como a educação do campo, agroecologia e a construção de hortos medicinais, o manejo agroecológico de resíduos sólidos, a formação de educadores das escolas do campo e a soberania alimentar e a educação do campo, entre outros. Para Anakeila, embora 2020 e 2021 tenham sido anos difíceis por conta da pandemia, a formação dos educadores foi bastante profícua. “Agora, o grande desafio é que eles possam executar esses projetos nesse contexto pandêmico”, aponta

Na visão de Dionara Soares Ribeiro, educadora da Egídio Brunetto e diretora da instituição na época, o processo de formação contribuiu significativamente para a formação dos educadores no sentido deles se apropriarem das bases teóricas que sustentam a proposta de educação da classe trabalhadora, em especial a Pedagogia do MST. “Um dos grandes desafios do curso foi justamente a incorporação do conhecimento agroecológico nas escolas a partir da leitura crítica dos educandos sobre o território onde vivem, justamente para compreenderem as contradições postas e as possibilidades de realizarem projetos de intervenções pedagógicas em agroecologia junto aos seus educandos e comunidades, possibilitando assim estabelecer novas relações socioecológicas nestes ambientes”, enfatizou

Por isso, Dionara afirma que é necessário que se mantenha a organização coletiva dessas escolas do campo e uma continuidade ao processo organizativo destas para que se garanta o avanço da implementação da agroecologia desde a educação do campo.

Com o término do curso, a ideia agora é que a Escola Politécnica siga acompanhando a execução desses projetos, mesmo que a distância, para continuar contribuindo com a formação técnica, organizativa e política com base agroecológica. Isso tudo será possível graças a uma emenda parlamentar recebida pela EPSJV, viabilizada pelo deputado federal Valmir Assunção (PT/BA). “Queremos que esses docentes se tornem pesquisadores, junto com outros sujeitos sociais que estão comprometidos com o desenvolvimento de tecnologias apropriadas para a agroecologia, para fortalecer as organizações populares e impulsionar o desenvolvimento da agroecologia e das suas comunidades de forma mais sustentável”, adiantou Anakeila.

Anakeila destaca que, nesse mês, a equipe docente realizará ainda um seminário integrador com as escolas do baixo e extremo sul da Bahia, além de construir, coletivamente com os formandos do curso, um portifólio dos projetos de intervenção. “Vamos continuar nesse processo de formação a fim de que possamos ter cada vez mais esses docentes com uma matriz crítico-emancipatória e que combatam essa racionalidade utilitarista instrumental”, conclui.

A voz dos educandos

Para Thaise Farias, educadora da Escola Municipal Paulo Freire, em Santa Cruz Cabrália, foi um grande privilégio participar dessa formação, principalmente, porque, segundo ela, as escolas da região fazem enfrentamento direto com o Agronegócio e com o setor papeleiro de produção de eucalipto. “Foi um brinde para nós, porque a formação nasceu por conta dessa disputa de território”, conta. E exaltou também a atuação dos docentes do curso: “Tivemos acesso a professores que se envolvem na comunidade, que tratam da realidade, que trazem evidências do que estavam falando e que nos ajudaram a pensar em como poderíamos fazer intervenções em nossos territórios”.

Na visão de Cássio de Souza Santana, educador da escola Marizete Santos, no assentamento Rosa do Carmo, o curso se torna uma conquista num território que tem ampliado cada vez mais o debate e a construção das experiências agroecológicas. “Desde 2014, quando implementamos a disciplina de agroecologia, ainda nos faltava uma formação mais específica. A especialização ampliou nosso horizonte, trazendo elementos para que possam ser dialogados dentro da escola, principalmente a perspectiva da escola do trabalho”, aponta, acrescentando que o desafio agora é ampliar cada vez mais esse debate no chão das escolas e colocar os projetos de intervenção em prática.

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