Entrevista
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A população aplaudiu. Parte da esquerda se calou. O governo Temer tremeu. Foram 11 dias de paralisação, gerando desabastecimento em diversas cidades. Vitimada mais pelo preço da gasolina e do gás de cozinha do que pela carência daqueles dias, 87% da população aprovou o movimento dos caminhoneiros – embora, uma vez finalizado, 69% avaliem que ele trouxe mais prejuízos do que benefícios ao país, segundo pesquisa Datafolha. A memória de momentos históricos dos caminhoneiros – como a participação no boicote que ajudou a enfraquecer o governo de Salvador Allende, no Chile –, somada ao pedido de intervenção militar, vocalizado por parte dos manifestantes, dividiu partidos e movimentos sociais de esquerda. Diante da exigência concreta, de redução dos impostos que incidem sobre os combustíveis, aumentou a desconfiança de que a greve era, na verdade, locaute – um movimento de empresários e não de trabalhadores. O que o sociólogo e professor Giovanni Alves, da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), explica nesta entrevista é que tanto essa categoria quanto a conjuntura brasileira em que a paralisação aconteceu são bem mais complexas do que essas classificações expressas. Ele ressalta que, num contexto como esse, de demandas legítimas com soluções regressivas, fica mais claro perceber a falta de um sujeito político capaz de disputar o sentido das pautas e da organização de trabalhadores. O resultado, diz, é que eles acabam sendo atraídos por movimentos de direita. E essa ausência se expressa ainda, segundo ele, na dificuldade de se “traduzir” o problema para a população, dando um passo além da consciência imediata. “Quem é que movimenta as ruas?”, questiona.
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O sociólogo César Callegari renunciou, no início desta semana (2/7), à presidência da comissão que analisa a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) no Conselho Nacional de Educação (CNE). Em carta endereçada aos conselheiros do CNE, Callegari – que permanece como integrante do órgão até outubro deste ano – fez críticas à BNCC do Ensino Médio, apresentada pelo MEC ao Conselho em abril. Segundo ele, o documento do ensino médio contradiz o que foi definido na BNCC da Educação Infantil e Fundamental, homologada pelo CNE em dezembro de 2017, e é “radicalmente distinta” das versões iniciais. Para Callegari, a organização do documento, em que apenas as disciplinas de matemática e português aparecem como obrigatórias, com as demais diluídas em áreas do conhecimento, é um dos principais problemas. Ele reivindica, também, a revogação da Lei 13.415/2017, que aprovou a reforma do ensino médio. Segundo ele, representa um grave retrocesso, na medida em que autoriza que essa etapa de ensino seja ofertada na modalidade a distância, abre espaço para que recursos públicos sejam direcionados para a iniciativa privada e permite a contratação de professores sem formação específica para dar aulas na educação básica. Nesta entrevista, ele expõe suas críticas ao governo, fala sobre a pressão do MEC para acelerar a aprovação do documento pelo CNE e responde às críticas apresentadas por educadores e movimentos críticos à BNCC durante o processo de discussão da base no conselho.
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O presidente Michel Temer celebrou, em maio, dois anos à frente do Executivo. E a temática do desemprego foi um tópico sobre o qual o presidente se debruçou nos discursos que fez de balanço de sua gestão. Temer se saiu com algumas declarações polêmicas. Uma delas vinculou o aumento da taxa de desemprego registrada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - cuja pesquisa divulgada em maio apontou que existem hoje no Brasil quase 14 milhões de desempregados – a um suposto aumento da procura por empregos por trabalhadores diante de um aquecimento da economia. Nesta entrevista, Andreia Galvão, professora de Ciências Políticas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e editora da revista Crítica Marxista faz o seu balanço sobre o que a gestão Temer significou para as relações de trabalho no país. A reforma trabalhista, a liberação da terceirização para todas as atividades, entre outras medidas implementadas no período, segundo ela, contribuíram para configurar um cenário de fragilização dos trabalhadores e de precarização do trabalho no país.
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Michel Temer completou no mês de maio dois anos à frente do Executivo. Desde que assumiu, seu governo vem implementando uma agenda de reformas na educação que é alvo de críticas de educadores. Medidas como a reforma do ensino médio, a Base Nacional Comum Curricular e também a Emenda Constitucional 95 estão entre as medidas que mais impactaram a educação no período. Para Gaudêncio Frigotto, professor do Programa de Pós Graduação de Políticas Públicas e Formação Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o governo Temer representa o maior retrocesso para as políticas de educação dos últimos 70 anos. Nesta entrevista, ele fala sobre porquê chegou a essa conclusão.
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Nesta entrevista, realizada durante o 4º Encontro Nacional de Agroecologia, a antropóloga Maria Emilia Pacheco, da secretaria executiva da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional , fala sobre a importância do encontro para a construção da resistência aos retrocessos que têm ameaçado a agricultura familiar e as políticas públicas de apoio à agroecologia. Ela também discute o papel da agroecologia para a garantia do direito à alimentação previsto na Constituição, que completa 30 anos em 2018.
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Irene Cardoso é professora da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e foi, até o ano passado, presidente da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), o braço acadêmico do movimento agroecológico. Nesta entrevista, realizada durante o 4º Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), ela fala sobre a importância de trazer a agroecologia para o centro do debate público no ano em que se completam três décadas da Constituição de 1988, um momento de esvaziamento das políticas públicas que permitiram à agricultura camponesa e à agroecologia obterem avanços importantes nos últimos 15 anos. Irene revela como esse desmonte tem afetado a agroecologia em âmbito acadêmico e denuncia as contradições do modelo de produção agrícola baseado no uso intensivo de combustíveis fósseis que, segundo ela, ficaram evidentes em meio à crise no abastecimento ocasionado pela greve dos caminhoneiros.
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O presidente Michel Temer celebrou na semana passada dois anos desde que assumiu a chefia do Executivo após o impeachment que destituiu a ex-presidente Dilma Rousseff. Foi um período em que as entidades do movimento sanitário, como a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), se manifestaram publicamente em várias ocasiões contra propostas e programas apresentados pelo governo federal para o Sistema Único de Saúde (SUS). Medidas como a revisão da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), a revisão da Política Nacional sobre Drogas por meio de uma resolução do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad), a criação do Programa Nacional de Formação Técnica para Agentes de Saúde (Profags), a proposta de planos populares de saúde defendida pelo então ministro Ricardo Barros, entre outras, foram alvo de críticas ferrenhas por sanitaristas e militantes do SUS. Nesse contexto de dois anos do governo Temer, o presidente da Abrasco Gastão Wagner faz uma avaliação sobre os impactos dessas e de outras medidas, como a Emenda Constitucional 95, para o SUS, que completou 30 anos no dia 17 de maio.
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A comissão especial da Câmara que analisa o Projeto de Lei 6299/02 retomou o trabalho de discussão e votação do chamado ‘Pacote de Veneno’, que propõe flexibilizar a legislação sobre o registro de agrotóxicos no Brasil. O relatório do deputado Luiz Nishimori, favorável à aprovação, só não foi votado na última quarta-feira (09) por conta de um pedido de vistas coletivo apresentado por deputados da oposição. A expectativa é que ele seja votado na próxima terça-feira (29), e há poucas chances de que não seja aprovado na comissão, controlada por deputados da chamada bancada ruralista. Isso apesar de manifestações contrárias por parte de diversas instituições que apontaram inúmeros problemas no PL, seja na área da saúde, como a Fiocruz, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador (DSAST) do Ministério da Saúde, seja na área jurídica, como o Ministério Público Federal (MPF), que em nota técnica apontou inconstitucionalidades no texto do projeto de lei. Entre suas propostas está a mudança do nome de agrotóxicos para “defensivos fitossanitários’ na legislação sobre o tema, bem como a centralização do poder decisório sobre o registro desses produtos no Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária (MAPA), tornando a Anvisa e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) órgãos meramente consultivos no processo. Nesta entrevista, a integrante do GT Saúde e Ambiente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Karen Friedrich alerta para os riscos associados à aprovação do PL.
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No último sábado completaram-se 200 anos do nascimento de um dos pensadores mais importantes e polarizadores da história recente. No dia 5 de maio de 1818 nascia Karl Marx, o fundador do materialismo histórico dialético, método científico por meio do qual ele analisou as relações sociais capitalistas em obras seminais como ‘O Capital’, ‘A ideologia alemã’ e o ’O 18 de Brumário de Luis Bonaparte’, que se tornariam centrais para a construção de um pensamento e de programas políticos da esquerda em todo o mundo. Nesta entrevista, a historiadora e professora-pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e da Universidade Federal Fluminense (UFF) fala sobre a importância e a atualidade do pensamento de Marx diante das transformações da sociedade capitalista e do mundo do trabalho nos últimos 200 anos. E argumenta que, ao contrário do que pregam seus críticos, a leitura da obra de Marx se faz cada dia mais urgente.
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Estudantes ocupando as universidades e montando barricadas para enfrentar a polícia nas ruas de Paris: essa é a imagem clássica do que entrou para a História como o ‘Maio de 68’, que agora completa 50 anos. Aparentemente, tudo começou com uma reivindicação por reformas educacionais que foram reprimidas pelo governo. Concretamente, um conjunto muito mais amplo de insatisfações resultou numa greve geral com adesão de 10 milhões de trabalhadores, que pararam a França. Não foi só ali, nem só por isso ou aquilo: 68 foi grande demais para se reduzir a um lugar, um personagem, um motivo, um legado. Nesta entrevista, o professor de Sociologia da Unicamp Marcelo Ridenti explica que se tratou de um movimento mundial, uma “época”, marcada pela polarização da Guerra Fria, pelo horror da Guerra do Vietnã, pelas revoluções de libertação nacional no Terceiro Mundo e pelo questionamento a todas as instituições, desde os partidos políticos até a família tradicional. Ridenti mostra como, passadas cinco décadas, a herança de 68 ainda está em disputa: foi um momento revolucionário ou o germe do individualismo e do neoliberalismo que viria depois? Situando a influência daquele movimento no Brasil da ditadura e no momento atual, ele mostra como a sombra de 68 ainda paira sobre formas atuais de mobilização como a que aconteceu, por exemplo, nas Jornadas de Junho de 2013.