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do Brasil de Fato

Aumento das taxas de suicídio entre adolescentes exige reflexão social e coletiva

Os dados mais atuais do Ministério da Saúde sobre os números de suicídios na população de 11 a 19 anos apontam para um crescimento expressivo das mortes autoinflingidas.

Informações compiladas e divulgadas pelo jornal Folha de S.Paulo mostram crescimento de mortes dessa natureza, que chegou a 45% nas faixas de 11 a 14 anos e a 49,3% entre quem tem idades de 15 a 19 anos.

Essa alta ocorreu no período de 2016 e 2021. São dados preliminares, mas que já mostram potencial de crescimento geral superior a 17% nos suicídios entre adolescentes.

Paulo Amarante, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), afirma que é preciso uma visão mais ampla do conceito de saúde para reverter esse cenário.

"A questão do suicídio não deve ser equacionada exclusivamente um problema de assistência à saúde. Ela deve ser refletida à luz de todo o processo de desenvolvimento social, de um projeto de nação e construção da sociedade", afirma Amarante.

Na avaliação do pesquisador, há pontos essenciais da vida em sociedade que precisam ser resgatados.

"Solidariedade, políticas públicas, promoção da vida, da educação, da escola, do trabalho, da cultura, do esporte, e fundamentalmente das relações interpessoais."

Os dados nacionais mais recentes confirmam uma variação para cima que já está presente no Brasil há duas décadas e que coloca o país apartado da tendência mundial de diminuição dos suicídios entre adolescentes.

Os cinco estados que mais registraram casos foram Roraima, Mato Grosso do Sul, Amazonas, Amapá e Acre. Entre as jovens a alta foi mais expressiva do que entre os garotos. Ainda assim, as taxas gerais continuam maiores entre eles.

Paulo Amarante observa que a valorização excessiva da individualidade também está na equação que traz resultados tão preocupantes para o Brasil.

"Uma sociedade cada vez mais voltada para o individualismo, para uma individualidade exacerbada em que farinha pouca é meu pirão primeiro, em que as pessoas olham para as outras como ameaça, é uma sociedade que está deteriorando as relações de reciprocidade, de solidariedade, de reconhecimento mútuo, de cooperação e que está se voltando muito mais para a competitividade e para o isolamento social."

Arte, coletividade e saúde mental

Paulo Amarante é um dos coordenadores do projeto Estratégias culturais como alternativas de inclusão social de populações vulnerabilizadas no campo das políticas públicas sobre saúde mental: Estudo de caso na comunidade de Manguinhos, sobre ações criadas e desenvolvidas pelas próprias comunidades e que compõem uma verdadeira rede coletiva de manutenção do bem-estar social.

O estudo foi conduzido pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Laps/ENSP/Fiocruz) e coordenado pela Fiocruz em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a Queen Mary University of London (QMUL).

Em comum, as ações comunitárias têm, além da raiz local, o apreço essencial pela coletividade. Na visão de Amarante, essa potência coletiva é caminho para a proteção da saúde mental. O poder público, segundo o pesquisador, precisa atuar no fortalecimento e no incentivo desses movimentos.

"Se o suicídio está aumentando em uma comunidade é sinal de que alguma coisa está ocorrendo nessa sociedade. Não é só a pessoa que, individualmente, têm transtornos mentais, que devem ser identificados e tratados. Nós temos que pensar em que valores e princípios estão sendo desenvolvidos e consolidados em uma sociedade e que estão produzindo desqualificação das relações dos sujeitos com a vida", finaliza

Edição: Thalita Pires

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Repórter SUS

Quais os desafios para o retorno das altas coberturas vacinais?

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), está construindo desde o final do ano passado um projeto que visa o aumento da cobertura vacinal no país. O esforço surge no momento de retorno de doenças até então já erradicadas, como o sarampo e a poliomielite, devido à baixa procura por imunizações. 

Maria de Lourdes Sousa Maia, coordenadora da Assessoria Clínica de Bio-Manguinhos e do Projeto pela Reconquista das Coberturas Vacinais da Fiocruz, afirma que as coberturas vacinas estão em queda desde 2011, agravando-se substancialmente com a pandemia de covid-19.

Dados da própria Fiocruz mostram que menos de 70% do público alvo, de crianças entre um a quatro anos, estava com as doses em dia em 2021. Em 2015, esse índice era de 98%. Com o sarampo, a situação é parecida. Em 2019, o Brasil o país perdeu a certificação de “país livre do vírus do sarampo”, entregue em 2016 pela Organização Panamericana de Saúde (Opas), depois de um surto iniciado em 2018 na região Norte e que se espalhou para outros estados.

Ainda em 2019, foram registrados 20.901 casos. Paralelamente, a cobertura de vacinação contra a doença caiu de 93,1%, em 2019, para 71,49% em 2021, segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Na mesma linha, dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) indicam que a cobertura de vacinação contra sarampo, caxumba e rubéola no Brasil caiu de 93,1%, em 2019, para 71,49% em 2021.

“As baixas coberturas propiciam que as doenças retornem. A gente já tem o sarampo aí que voltou. É preciso que a gente saiba que estas doenças matam ou deixam sequela”, afirma Maia. É diante desde quadro que se deu a idealização do projeto “pela reconquista das altas coberturas vacinais”, diz. 

“O que a gente observa é que, nos municípios que têm as condições, os gestores eles estão se mobilizando. A gente vê que eles estão fazendo uma busca ativa. A própria Atenção Primária de Saúde, com os seus agentes comunitários de saúde, está fazendo essa busca ativa”, defende. 

Um exemplo é o município do Rio de Janeiro. A Prefeitura informou, nesta quinta-feira (20), que houve aumento de cerca de 130% na procura pela vacina da poliomielite. O crescimento ocorreu após a busca ativa por crianças que ainda não foram vacinadas. Atualmente, a taxa de imunização do público alvo está em 50%.

“A gente vive uma situação preocupante, com a necessidade de um esforço conjunto de toda a sociedade para reconquistarmos as altas coberturas vacinais. O Brasil sabe como fazer. O Brasil já fez. E a gente pode voltar a ter o orgulho de ter as altas coberturas vacinais”, diz Maia.

No total, são três eixos do projeto. O primeiro busca garantir que a vacinação seja realizada, garantindo equipamentos e transporte adequados. O segundo parte para a capacitação dos profissionais para que possam lidar da melhor maneira com as informações, os computadores, as aplicações, etc. Por fim, a conscientização da população da importância da imunização e os riscos das doenças, a partir de estratégias de comunicação e educação.

Flávia Bravo, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), defende a realização de algumas boas práticas para resolver o cenário. Entre elas, a capacitação. “A informação tem que ser feita não apenas para população, como também para o profissional de saúde. A gente hoje em dia ainda vê uma alta rotativa. Aquela história daquela mesma enfermeira que passava anos e que a comunidade a conhecia ali da sala de vacinação não é mais assim. É uma rotatividade grande o que contribui para uma pior orientação da população. É difícil capacitar”, afirma.

Motivos para a baixa cobertura vacinal
Flávia Bravo afirma que algumas famílias deixam de levar as crianças para a vacinação, porque o controle de certas doenças fez com que estas deixassem de ser vistas. “Isso gera uma falsa impressão de que o problema pode ter acabado. Para que eu vou vacinar meu filho dar uma injeção, se não tem mais esse risco? O que é uma impressão completamente falsa”, fiz Bravo.

Isso está diretamente relacionado à propagação de notícias falsas sobre imunização que chegam até a população. “A gente tem que lembrar que durante a pandemia”, por exemplo”, “as fake news e as informações truncadas tiveram um impacto muito grande inicialmente em relação as vacinas de covid”, o que gerou uma “falta de confiança, que acabou se estendendo para as vacinas de um modo geral”.

Um outro motivo, explica a diretora, é a redução progressiva da comunicação com a população. “Houve realmente uma redução, com outras mídias substituindo as mídias tradicionais de acesso mais fácil para população. A gente tem que lembrar que o nosso país é muito diverso e que existem locais que nem internet tem. Então, eles precisam ter essa informação via televisão e via rádio. E a gente vê uma diminuição desse tipo de campanha de informação”, diz.

Soma-se a isso a dificuldade de acesso às vacinas. “Não só pela dificuldade geográfica, mas eventualmente mesmo nos grandes centros muitas famílias precisam gastar dinheiro com ônibus, com transporte. Eles perdem trabalho para terem acesso à vacinação.” Bravo cita, nesse sentido, o fechamento dos postos de saúde em horários e dias em que a população não está trabalhando, como horários de almoço, após às 18h e nos sábados e domingos.

A diretora afirma que a escassez de vacinas também é um problema, ainda que pontual. Uma das explicações para baixa cobertura vacinal contra a tuberculose está a dependência do Brasil em relação ao mercado internacional para produzir e distribuir os imunizantes, que devem ser aplicados logo após o nascimento, de acordo com orientação do Programa Nacional de Imunizações.

Segundo Paulo Victor Viana, pesquisador e chefe do Centro de Referência Professor Hélio Fraga, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fiocruz, a suspensão das atividades da única fábrica brasileira da vacina BCG, utilizada na prevenção da doença, em 2016, “vem ocasionando o fornecimento intermitente” das doses. Desde então, o Ministério da Saúde passou a realizar a importação da vacina de fornecedores da Índia, mas com dificuldades de logística.  

Edição: Rodrigo Durão Coelho

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Repórter SUS

Superfícies contaminadas podem transmitir monkeypox, indica estudo

Um estudo que teve a participação da Fiocruz de Pernambuco aponta para a possível infecção pelo vírus da varíola dos macacos, o monkeypox, por meio de superfícies infectadas. 

A pesquisa, intitulada Possible Occupational Infection of Healthcare Workers with Monkeypox Vírus (em tradução livre: Possíveis infecções ocupacionais de trabalhadores da Saúde por Monkeypox) traz o caso de duas enfermeiras que desenvolveram a doença depois de cinco dias que fizeram a coleta de material e diagnóstico de varíola dos macacos na casa de um paciente.

De acordo com o estudo, as trabalhadoras utilizaram todos os equipamentos de proteção, com exceção das luvas, enquanto estavam no quarto do paciente, aplicando um questionário. “Esse item de proteção só foi colocado no momento da coleta, após elas esterilizarem as mãos”, diz o texto da pesquisa. A conclusão é que as enfermeiras podem ter se infectado ao ter contato com superfícies contaminadas na casa do paciente.

O pesquisador da Fiocruz Pernambuco, Gabriel Wallau, que conduziu o estudo ao lado de Richard Steiner Salvato, especialista em saúde do Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul (Cevs/SES-RS), afirma que o levantamento traz evidências que podem ser utilizadas na adoção de melhores práticas dentro de ambientes infectados.

“Nós temos que ter uma preocupação, porque essa é uma rota de transmissão que, apesar de ser rara quando comparada com a rota de tradição mais comum do Monkeypox, também é importante”, diz o pesquisador.

“Esse achado traz evidências que o monkeypox também pode ser transmitido por superfícies contaminadas, principalmente no momento em que as pessoas entram em contato com as superfícies onde um paciente com alta carga viral frequenta”, afirma. 

Wallau explica que as medidas de contenção do vírus devem ser os mesmos, como higienização dos ambientes e vacinação dos grupos de alto risco, mas o estudo reforça os cuidados. “A utilização das medidas de contenção é a mesma, mas esses achados mostram que nós devemos tomar mais cuidado porque o monkeypox também pode ser transmitido por superfície, apesar de ser uma transmissão mais rara.

Leia também: Quem tomou a vacina contra varíola quando criança pode pegar a varíola dos macacos?

A pesquisa Possible Occupational Infection of Healthcare Workers with Monkeypox Vírus será publicada na edição de dezembro da revista científica Emerging Infectius Diseases, editada pelos Centers for Disease Control and Prevention , ou Centros de Controle e Prevenção de Doenças, uma agência de Saújde dos EUA.

Além da Fiocruz, participaram do estudo o Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul (Cevs/SES-RS), três universidades gaúchas (Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e Universidade Feevale) e o Bernhard Nocht Institute for Tropical Medicine - National Reference Center for Tropical Infectious Diseases, de Hamburgo, na Alemanha.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

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Repórter SUS

Fiocruz estuda o uso de drones para o transporte de material biológico

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Brasília está testando o transporte de material biológico por drones para o combate à covid-19 e tuberculose. Caso o projeto tenha bons resultados, a ferramenta poderá auxiliar o trabalho de laboratórios e até mesmo o transporte de órgãos humanos.

O projeto, desenvolvido em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), a Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF), a startup H4ndsLab e o Laboratório Central de Saúde Pública do Distrito Federal (Lacen-DF), “tem potencial para transformar a forma como é feita a logística deste tipo de conteúdo no Brasil. Em um país continental, com diferenças de terrenos e transportes, realizar este tipo de deslocamento é um marco”, afirma Wagner Martins, coordenador do Laboratório de Ciência, Tecnologia, Inovação e Sociedade da Fiocruz Brasília.

Atualmente, “problemas logísticos na entrega das amostras podem levar a demora da chegada nos laboratórios, perda da qualidade das amostras e atraso na liberação dos resultados”. Nesse sentido, “para que os resultados laboratoriais sejam liberados em tempo oportuno, tanto para a tuberculose, quanto para a covid-19, é fundamental que as amostras cheguem ao laboratório com a maior brevidade possível”, afirma Martins.

De acordo com o pesquisador, nos testes feitos até o momento, o drone percorreu 8,2 quilômetros em 16 minutos, sem carregar nenhuma amostra, e os custos foram reduzidos em 28% quando comparados ao transporte terrestre.

“A pandemia de Covid-19 evidenciou a necessidade de ampliação da estratégia, de modo a identificar variantes do novo coronavírus de maneira rápida e precoce”.

Nesse caminho, “o transporte de microrganismos por drone facilitará o processo de entrega das amostras em um tempo ágil para que a ação seja feita. Por isso, a gente vem associando a vigilância genômica ao componente de inteligência epidemiológica da plataforma de inteligência cooperativa com Atenção Primária à Saúde” – o primeiro contato entre os brasileiros e a Rede de Atenção do Sistema Único de Saúde (SUS), onde as famílias têm acesso a serviços que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde.

“Agora, o projeto vai para a fase de experimentação na Plataforma de Inteligência Cooperativa com Atenção Primária à Saúde (Picaps), uma parceria entre a Fiocruz Brasília e UnB, no núcleo da inteligência epidemiológica.”

“A ideia é testar o uso de drones no serviço de saúde pública com a organização do sistema de vigilância genômica do DF para monitoramento de casos de tuberculose associados à Covid-19 nos territórios”, afirma Martins. Para isso, o laboratório do Núcleo de Medicina Tropical, da Faculdade de Medicina da UnB, coordenado pela professora Fabíola Zucchi, vai cuidar das análises genéticas dos micro-organismos.  

Edição: Rodrigo Durão Coelho

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Repórter SUS

Sistema proposto pelo Ministério da Saúde limita acesso aos planos e enfraquece o SUS

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, informou que está em diálogo com o ministro da Saúde Marcelo Queiroga para o desenvolvimento do chamado Open Health, que permitiria o compartilhamento de dados de saúde entre as empresas e o governo federal.

A informação foi anunciada durante a palestra "O Futuro do Sistema Financeiro" no evento "DrumWave Day", em São Paulo, em 30 de setembro. Na ocasião, Campos Neto disse que o pix foi criado com o objetivo de implementar as tecnologias desenvolvidas pelo Banco Central, como o Open Finance, cuja base é utilizada como inspiração para o Open Health. "Temos cronograma", afirmou.

O Open Health deve ser uma cópia do Open Finance, também conhecido como Open Banking. A ferramenta possibilitou o compartilhamento de dados financeiros dos cidadãos entre os bancos a fim de aumentar a concorrência entre si e moldar os serviços oferecidos para os clientes.

"Pegou-se essa ideia do setor financeiro – que não é um setor universal, exclui muita gente que não tem CPF em dia, que não tem acesso a cartão de crédito e que não tem acesso a uma conta corrente – e levou para o setor de saúde suplementar", explica Marcelo Fornazin, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) e Coordenador do Grupo Temático Informações em Saúde e População (GTISP) da Abrasco.

"No meu entendimento, isso significa que os planos de saúde poderão ter acesso ao histórico dos pagamentos associados aos clientes do setor privado de saúde de atendimentos realizados, serviços prestados, pagamentos de mensalidade, para que as operadoras pudessem modelar suas ofertas de plano de saúde", afirma Fornazin.

O compartilhamento ocorreria somente mediante autorização dos clientes, de acordo com os limites estabelecidos pela Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). O professor argumenta, no entanto, que não existe uma cultura de proteção dos dados no Brasil o que leva as pessoas a compartilharem as suas informações sem avaliar adequadamente os riscos.

Outro ponto é que, embora a instituição da ferramenta ocorresse de acordo com a legislação, que proíbe o uso de dados pessoais para seleção de risco na área da saúde, o desenvolvimento do Open Health já foi atrelado à escolha de clientes mais rentáveis, com menos demanda por serviços de saúde, e à diminuição dos serviços, como cirurgias e tratamentos com custos mais altos.

"O que preocupa muito é a exclusão de pessoas que não têm condições de saúde que gerem bons lucros às operadoras do plano de saúde e a exclusão de serviços que têm um custo mais caro", afirma Fornazin. "A partir de dados financeiros é possível selecionar aqueles perfis mais rentáveis, que gastam menos com consultas, internações, medicamentos, procedimentos, cirurgias, exames. Então, com os dados financeiros, os planos de saúde poderão calcular melhor os riscos e definir melhor o que vão ofertar e para quem."

Fornazin explica que a medida parte da concepção "equivocada" de que o setor privado deve ser utilizado para atender a população de forma complementar ao Sistema Único de Saúde. Com isso, as pessoas vão deixar de "reivindicar o direito a saúde pública, o direito a bons serviços do SUS e passar a se endividar para poder pagar" um plano de saúde.

"O Ministério deveria trabalhar para fortalecer o SUS e não intervir em um assunto de competência da Agência Nacional de Saúde Suplementar", conclui o professor.

Em artigo escrito para o jornal Folha de S. Paulo em março deste ano, o ministro Marcelo Queiroga afirmou que o Open Health "traria novo ambiente de negócios no setor privado de saúde brasileiro". Para o ministro, a implementação é uma "questão de tempo, coragem e decisão".

A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) já se posicionou contra a medida. Em carta aberta, a instituição declarou que "os perigos do Open Health extrapolam os problemas relacionados à proteção de dados pessoais, alcançando a falta de compromisso dessa proposta com a universalização do acesso à saúde".

Edição: Nicolau Soares

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Repórter SUS

Desinvestimento na saúde faz crianças negras e indígenas morrerem mais do que brancas

As crianças indígenas têm 14 vezes mais chances de morrer por diarreia do que as crianças nascidas de mães brancas. Entre as crianças negras, o risco é 72% maior em relação ao mesmo grupo. O dado é de um estudo liderado pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs) da Fiocruz da Bahia, publicado na revista The Lancet Global Health.

Tamanha desigualdade nas taxas de mortalidade infantil entre crianças de até cinco anos está relacionada ao acesso desigual aos programas públicos entre as populações vulnerabilizadas socialmente e o desinvestimento na saúde nos últimos anos.

Poliana Rebouças, pesquisadora associada do Cidacs explica que a “maior disparidade racial para má nutrição, diarreia, gripe e pneumonia” está relacionada às “condições mais precárias de vida”.

“Como nós entendemos que o racismo é estrutural, ou seja, determina as condições de vida das pessoas e consequentemente as condições de saúde, nós entendemos que o racismo estrutural está por trás dessas desigualdades na mortalidade de menores de cinco anos por essas causas”, afirma Rebouças

Atualmente existem políticas de saúde direcionadas para as populações indígenas e negra, mas que não foram aplicadas correta ou totalmente. “Então acreditamos que qualquer política de saúde deve ter foco nas desigualdades raciais na infância e nas igualdades raciais sobre as quais as famílias vivem, mais condições de acesso, melhores serviços para essas famílias e para as crianças”, defende a pesquisadora Rebouças.

“O racismo opera como fator que vai determinar as condições de vida dessa criança, os anos de escolaridade da mãe, o local que nasce, por isso é importante ser considerado.”

Na mesma linha, Maria Gomes, coordenadora do Portal de Boas Práticas e de Ações Nacionais e de Cooperação do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), afirma que o dado é “um sinalizador de profundas desigualdades sociais, raciais e de outros fatores de vulnerabilidade. Crianças indígenas e negras estão sob o maior risco de adoecimento, menor alcance de programas sociais e maior risco para mortalidade”. 

A pesquisadora também afirma que a situação se intensificou nos últimos quatro anos e principalmente durante a pandemia. “O Brasil vem passando nos últimos cinco anos por um processo de ampliação de uma crise econômica, política, social, com profundas implicações em populações mais vulneráveis. A mortalidade infantil que vinha numa tendência histórica de redução passa, em torno de 2016, a um movimento de estabilidade e mesmo de crescimento”, afirma. 

Ao mesmo tempo, o “impacto negativo da pandemia levou a uma desorganização de serviços essenciais tanto na atenção primária quanto também serviços ligados ao atendimento de urgência e emergência e aos serviços especializados, o que trouxe uma piora na performance, no desempenho desses serviços, que já vinham há décadas lutando por uma estabilidade, por uma garantia de acesso, por procedimentos baseados nas melhores evidências, com qualidade e segurança”, diz Rebouças. 

A pesquisadora explica que esse quadro é responsável, por exemplo, pela redução da cobertura da vacinal e o agravamento do adoecimento de crianças de maneira desigual. 

Dados do estudo

No total, o estudo observou 19.515.843 milhões de crianças nascidas entre 1º de janeiro de 2012 e 31 de dezembro de 2018, por meio do Sistema de Nascidos Vivos (Sinasc) e do Sistema de Mortalidade (SIM). 

Os pesquisadores observaram que, em 2020, 224.213 crianças menores de cinco anos foram encontradas no SIM. “E o que a gente traz nesse estudo é que essas mortes, muitas vezes, ocorrem por causa evitáveis, como diarreia, desnutrição, pneumonia e gripe”, afirma Poliana. 

Além da chance 14 vezes maior de uma criança indígena morrer por diarreia, o índice é 16 vezes maior em caso de má-nutrição e sete vezes em caso de pneumonia, em relação às crianças brancas. Entre as crianças pretas, os números são de 78% a mais de chances para pneumonia e duas vezes mais para má-nutrição. Nos casos de causas acidentais, as crianças negras têm 37% mais riscos de morrerem do que as crianças nascidas de mães brancas. Já entre os indígenas, esse risco é 74% maior.

A pesquisa também mostra o perfil das mães dessas crianças. Do total, 52% das mulheres pretas são solteiras. Entre as mães indígenas, o índice é de 43%. Das mulheres pardas, 45%, e das brancas, 36%. As mães indígenas são as que têm mais filhos: elas são 34%, as pretas 14%, as pardas 12% e as brancas 6%.   

Um fator essencial para auxiliar na sobrevivência das crianças é a realização de pelo menos seis consultas de pré-natal. Entre as mulheres indígenas, somente 29% conseguiram realizar a metade desse número, apenas três consultas. A proporção entre pretas e pardas foi igual, 11%. Entre as brancas, apenas 5%.

Segundo o estudo, os dados reforçam “o que já foi documentado em outras pesquisas: as desigualdades raciais das barreiras de acesso aos serviços de saúde materna e suas graves consequências para a saúde materno-infantil".

Edição: Rodrigo Durão Coelho

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Repórter SUS

Pais da menina grávida pela 2ª vez após estupro aceitam aborto; o que recomenda a medicina?

Os pais da menina de 11 anos que foi estuprada e engravidou pela segunda vez em Teresina (PI) entraram em um acordo e concordaram com o aborto. Ao g1, o pai da menina disse que a família está aguardando um laudo médico e novos exames para fazer a interrupção da gravidez. Agora, uma junta médica da Maternidade Dona Evangelina Rosa vai avaliar a possibilidade do aborto.

A promotora Joselisse Carvalho, coordenadora do Centro de Apoio à Infância e Juventude, afirmou anteriormente que os mecanismos de proteção à menina foram acionados. Carvalho também disse que a Vara da Infância avaliará a possibilidade de realização de um aborto, em entrevista à Folha de S. Paulo. Na primeira gestação, que aconteceu em 2021, os responsáveis pela garota decidiram levar a gestação até o fim. 

Zuleide Aparecida Felix Cabral, vice-presidente da Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Infanto Puberal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), explica que a interrupção de uma gestação, nos casos em que o aborto é permitido, deve ser feito o mais cedo possível.

Algumas cartilhas públicas falam que a interrupção deve ocorrer até a 22º semana. A legislação, no entanto, não estabelece nenhum prazo nos casos em que a prática é permitida, quando “não há outro meio de salvar a vida da gestante" ou gravidez resultante de estupro – em 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) permitiu o aborto em casos de fetos anencéfalos. 

De acordo com o Conselho Tutelar, a menina de 11 anos teria sido estuprada em meados de junho de 2022, ou seja, há cerca de três meses ou 18 semanas.

Riscos da gravidez precoce

Cabral explica que uma gestação pode ocorrer após a primeira menstruação, por volta de 12 anos. O desenvolvimento físico, emocional e hormonal, entretanto, não se completa com esse prazo.

“Mesmo ela sendo capaz já de se tornar uma mãe, nós sabemos que algumas intercorrências obstétricas acontecem mais quando a gravidez é precoce, como a doença hipertensiva específica da gestação, um parto prematuro e a ruptura prematura das membranas. Tem uma maior predisposição a algumas de intercorrências obstétricas pela idade, porque essas meninas são mais vulneráveis a uma gestação inoportuna para aquele momento de vida”, afirma Cabral. Portanto, “quanto mais tardia for a interrupção da gravidez, mais ricos existem”.

::Estupro não é sobre psicopatia, nem sobre sexualidade, é sobre poder e dominação::

Além dos riscos físicos, existem as questões emocionais. “Quanto mais precoce essa interrupção menos dano emocional, principalmente nesses casos em que é uma interrupção legal, prevista em lei”, afirma. 

A médica também ressalta que “todo procedimento cirúrgico tem risco, mas quando tudo é feito de forma segura, planejada, em um ambiente hospitalar propício e seguindo os protocolos tanto pré-interrupção como pós-interrupção, os riscos são menores”.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

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Repórter SUS

Variantes da covid-19 surgiram primeiro em pacientes imunodeprimidos, diz estudo

Um estudo publicado em julho na revista Fronteiras em Microbiologia – referência na área de Microbiologia – mostrou que as variantes de preocupação da covid-19, como ômicron, gama e alfa, surgiram primeiramente em indivíduos imunodeprimidos, como pacientes de câncer, logo no início da pandemia. 

De acordo com a pesquisa, como há menor capacidade de conter a multiplicação do vírus em pessoas imunossuprimidas, o vírus se multiplica com mais facilidade e, portanto, tem mais chances de acumular novas mutações. Nesse sentido, o estudo reforça que imunodeprimidos devem ser imunizados prioritariamente e em períodos curtos de tempo. 

Segundo Marcelo Soares, pesquisador do Instituto Nacional do Câncer e um dos autores do estudo, “a geração de variantes do SARS-CoV-2 em indivíduos imunossuprimidos era uma hipótese que existia há algum tempo, tanto em pessoas com alguma doença de base como pessoas transplantadas em uso de agentes imunossupressores”. “Nós mesmos publicamos no início da pandemia um trabalho mostrando que pacientes com câncer eram suscetíveis a ter mais variações nas suas sequências dos vírus infectantes”, afirma Soares. 

A novidade apresentada pelo estudo é a confirmação de que as variantes de preocupação foram encontradas em pacientes infectados pelo SARS-CoV-2 lá do início da pandemia. “Nós achamos pacientes com câncer, ou seja, com uma doença de base que confere imunossupressão, que tinham as mutações que a gente observa hoje com a ômicron”, afirma Soares.

“O nosso trabalho mostra pela primeira vez uma corroboração de que aquelas mutações que ocorrem nas variantes de preocupação, mesmo as variantes mais modernas que a gente só observa agora em 2022, como a ômicron, já estão presentes em indivíduos, estão constantemente sendo geradas em vírus em indivíduos imunossuprimidos.”

“Nosso trabalho está trazendo pela primeira vez”, afirma Soares, “a ideia de que as variantes de preocupação surgiram nesses indivíduos, com uma demonstração experimental e com dados efetivos”, diz.

O que são pessoas imunossuprimidas?

O pesquisador explica que pessoas imunossuprimidas são aquelas que possuem algum grau de comprometimento do sistema imunológico. O motivo para tal enfraquecimento é variado: pode ser decorrente de uma doença que interfira no sistema imunológico, como a infecção por HIV e câncer.

A imunossupressão também pode ser causada por algum agente indutor. “Pessoas recém-transplantadas, por exemplo, estão em uso de medicamentos imunossupressores, que são utilizados para impedir a rejeição daquele órgão transplantado. Essas pessoas, então, acabam tendo o sistema imunológico silenciado ou diminuído fortemente por ação dessas drogas”, explica o pesquisador.

Medidas não farmacológicas continuam importantes

A partir dos resultados encontrados, Soares reforça a importância das medidas não farmacológicas, como uso de máscaras e distanciamento social, e da imunização frequente de pacientes imunodeprimidos contra a covid-19.

Por isso o médico reforça, por exemplo, o uso de máscaras em lugares onde tenha maior concentração de imunodeprimidos, portanto, de maior risco, como clínicas. “Pessoas com imunossupressão devem continuar usando essas medidas não farmacológicas para não se infectar ou não espalhar a sua infecção caso sejam infectadas a outras pessoas”, diz.

“O que os especialistas ainda recomendam é que particularmente em ambientes onde tem pessoas com comorbidades ou imunossuprimidas, como hospitais, clínicas de saúde, postos de atendimento à saúde, a gente deve continuar usando a máscara”, conclui Soares.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

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Repórter SUS

Paralisação da única fábrica nacional de BCG explica escassez de doses e baixa imunização

A baixa cobertura vacinal contra a tuberculose vem preocupando autoridades da área da saúde no Brasil, tendo em vista o aumento das infecções ao redor do mundo e em alguns estados do país. Entre as explicações para baixa cobertura vacinal está a dependência do Brasil em relação ao mercado internacional para produzir e distribuir os imunizantes, que devem ser aplicados logo após o nascimento, de acordo com orientação do Programa Nacional de Imunizações.

Segundo Paulo Victor Viana, pesquisador e chefe do Centro de Referência Professor Hélio Fraga, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fiocruz, a suspensão das atividades da única fábrica brasileira da vacina BCG, utilizada na prevenção da doença, em 2016, “vem ocasionando o fornecimento intermitente” das doses. Desde então, o Ministério da Saúde passou a realizar a importação da vacina de fornecedores da Índia, mas com dificuldades de logística.

A baixa cobertura vacinal contra a tuberculose vem preocupando autoridades da área da saúde no Brasil, tendo em vista o aumento das infecções ao redor do mundo e em alguns estados do país. Entre as explicações para baixa cobertura vacinal está a dependência do Brasil em relação ao mercado internacional para produzir e distribuir os imunizantes, que devem ser aplicados logo após o nascimento, de acordo com orientação do Programa Nacional de Imunizações.

Segundo Paulo Victor Viana, pesquisador e chefe do Centro de Referência Professor Hélio Fraga, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fiocruz, a suspensão das atividades da única fábrica brasileira da vacina BCG, utilizada na prevenção da doença, em 2016, “vem ocasionando o fornecimento intermitente” das doses. Desde então, o Ministério da Saúde passou a realizar a importação da vacina de fornecedores da Índia, mas com dificuldades de logística. 

“Precisamos ter uma estratégia de soberania e não ser apenas um mercado consumidor. Necessitamos urgentemente reverter essa dependência internacional, onde o Brasil virou produtor de minério, soja e gado. Temos que gerar acesso, inovação e desenvolvimento”, diz. 

Além do fortalecimento da indústria nacional a fim de aumentar a oferta e o acesso às vacinas, Viana aponta para a necessidade de reforçar as campanhas de vacinação. Outro ponto são os investimentos em melhorias para habitação e transporte público, com o objetivo de evitar ambientes aglomerados, por exemplo, haja vista que a doença é transmitida por vias aéreas.

Baixa na cobertura vacinal e aumento de casos

O pesquisador lembra que o cenário de escassez de vacinas ocorre paralelamente ao aumento de casos da doença. Conforme o relatório global da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2021, com a ausência de diagnóstico devido à pandemia de covid-19, mais pessoas morreram de tuberculose em 2020 em comparação ao ano anterior. 

Em Minas Gerais, a Secretaria de Saúde registrou um aumento de 10% de infectados entre janeiro e julho deste ano. Dados de março deste ano da Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro mostraram que é no estado onde há mais mortes pela doença: foram 805 em 2021, 765 em 2020 e 659 em 2019. O Rio é seguido por Acre (4,4/100 mil habitantes), Amazonas (3,6/100 mil habitantes), Pernambuco (3,1/100 mil habitantes) e Pará (2,8/100 mil habitantes).    

Ao mesmo tempo, a cobertura vacinal diminuiu cerca de 25% entre 2018 e 2020: caiu de 99,7% em 2018 para 74% em 2020, de acordo com levantamento da revista piauí com dados do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde. Nenhum estado atingiu a meta de imunização de 95% do público-alvo. 

“O baixo número de imunizações colabora que o Brasil continue fora da lista de países que alcança a meta de imunização infantil. A vacinação desse público não alcança a meta há pelo menos seis anos. Entre janeiro e outubro de 2020, somente 63,8% dos brasileiros receberam a vacina BCG. A cobertura vacinal considerada ideal é de no mínimo 90% para essa vacina”, afirma Viana.

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Desigualdade emperrou chegada da vacina contra a covid-19 em regiões mais pobres do Brasil

A aplicação da primeira dose da vacina contra o coronavírus no Brasil encontrou obstáculos na pobreza, mas a presença de unidades de atenção primária representou proteção para populações mais vulneráveis.

Um estudo publicado na revista científica internacional The Lancet Americas aponta que regiões com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em patamares médio e baixo apresentaram menor cobertura vacinal na fase inicial da campanha de imunização.

Enquanto as regiões mais ricas conseguiram aplicar em média 72 doses por 100 habitantes, os locais com IDH médio chegaram a 68 doses. Onde a pobreza é maior, esse resultado foi de 63 doses a cada 100 pessoas.

Os empecilhos no acesso fizeram com que os locais mais empobrecidos do Brasil tivessem dificuldades maiores para frear a propagação e os óbitos por covid-19. O estudo alerta que esse cenário contribuiu para prolongar a pandemia e gerar novas variantes.

Segundo o pesquisador Leonardo Bastos, professor do Departamento de Engenharia Industrial do Centro Técnico Científico da PUC Rio e um dos autores do estudo, a cobertura da atenção primária reduziu as diferenças e conseguiu amenizar a desigualdade nas fases posteriores da campanha.

“Nós observamos que municípios com baixo IDH administraram menos doses de primeiras doses da vacina contra a covid-19 comparados aos municípios de médio e alto IDH. Só que ainda nessa mesma análise, nós observamos que essa diferença é reduzida, ela é atenuada, principalmente quando você tem uma maior presença da atenção primária, medida pelo percentual de cobertura da atenção básica nesses municípios.”

O pesquisador da Fiocruz, Fernando Bozza, que também assina o texto científico lembra que a campanha de vacinação contra a covid-19 sofreu muito os impactos da desinformação e da propagação de mentiras sobre o imunizante. A estrutura de atenção primária à saúde teve um papel importante também para combater as fake news.

“Em função de vários acontecimentos, entre eles os fatores de comunicação e as fake news, a população, muitas vezes, fica insegura de se vacinar. O fato de as populações, especialmente essas populações mais pobres terem uma unidade de saúde próxima, terem um relacionamento com essa unidade de saúde, garante, em grande parte, essa confiança”, explica.

O estudo avaliou a distribuição das mais de 200 milhões de vacinas administradas entre janeiro e agosto do ano passado. Nesse período mais de 63% da população adulta do país tinha tomado a primeira dose. A segunda dose havia chegado para 31% da população na ocasião. Foram analisados 5.570 municípios.

A pesquisa reúne cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) da PUC-Rio, do Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) e do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR).

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