Planta, mas não vende. Não come, nem troca alimento. Não consegue plantar novamente. Sem as sementes, não produz artesanato. Também se produzisse, não haveria mais feira para comercializar. Sem renda, não tem mais roça. Tem fome. E o ciclo começa novamente. Sim, as dificuldades que a pandemia trouxe para a segurança alimentar dos povos indígenas não parecem tão diferentes da tragédia que se abateu sobre as populações do campo e da cidade no Brasil. Mas aqui existe um elemento a mais: a invisibilidade.
Existe a fome, a memória da fome e o medo da fome. Primeiro o dinheiro ‘diminui’. E a percepção de que a pobreza está piorando acende o alerta de que, em breve, pode faltar comida no prato. Conforme a situação piora, no malabarismo da economia doméstica, as famílias começam a substituir os alimentos que costumavam consumir por outros mais baratos, ao mesmo tempo em que os adultos passam a se alimentar menos para garantir a necessidade das crianças.
Cloroquina, ivermectina, antibiótico preventivo, tratamento precoce... A tensa relação entre conduta profissional e conhecimento científico tem feito dos médicos um capítulo à parte na história da pandemia.
Sambista formado na rua, Noel Rosa cantou em verso que ninguém aprendia samba no colégio. É verdade que os tempos não andam para poesia, mas, numa paródia trágica, os profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate à pandemia bem poderiam lembrar que também não aprenderam Covid-19 na escola.
Foi uma “arrumagem de melancias na carroça”. Com essa metáfora o médico sanitarista Gonzalo Vecina define o processo que, lá em 1999, concentrou num mesmo órgão um conjunto de tarefas de controle e regulação de produtos e serviços que pudessem trazer riscos à saúde da população.
Foi há exatos 20 anos. Depois de tramitar por mais de uma década, finalmente em abril de 2001, a lei 10.216 foi aprovada e sancionada. Ao estabelecer direitos das pessoas com transtornos mentais e mudar o modelo assistencial nessa área, ela foi o primeiro passo legal para instituir, nacionalmente, o que hoje se conhece como Reforma Psiquiátrica. Herança de um movimento mundial que remete à década de 1960, seu principal objetivo era superar o encarceramento como tratamento da loucura.