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100 anos de Revolução Russa

EPSJV promove evento sobre o legado da primeira revolução socialista da história
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 17/11/2017 15h20 - Atualizado em 01/07/2022 09h45

Em outubro de 1917, sob a condução do Partido Bolchevique liderado por Lênin, na Rússia, o mundo assistiu à primeira revolução socialista da História. Cem anos depois, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) reuniu, nos dias 7 e 9 de novembro, diversos pesquisadores com o objetivo de resgatar a história e o legado dessa revolução. “Estamos celebrando o que merece ser considerado o maior acontecimento histórico dos últimos cem anos. Não saber o que é a revolução russa é um fator de grave analfabetismo político”, destacou Valério Arcary, professor aposentado do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) e fundador do Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista (MAIS), na mesa ‘100 anos de Revolução Russa e o legado para a esquerda mundial’.

Segundo Valério, na época, cerca de 90% da população russa vivia no meio rural e esse era um dos principais fatores que fazia o país ser considerado atrasado em relação às transformações que a Revolução Industrial tinha produzido nos países europeus vizinhos. Nesse contexto, afirmou o professor, a sociedade fundamentalmente era de camponeses e operários e as classes eram divididas em uma minúscula aristocracia que tinha controle do estado, além de uma classe burguesa moderna que buscava recursos externos, sobretudo na França, e uma classe média instruída.

Descontente com as mortes e a fome geradas pela 1ª Guerra Mundial, a sociedade russa se revoltava. No dia 8 de março de 1917, mulheres de uma fábrica têxtil iniciaram uma greve e tomaram as ruas de Petrogrado, fazendo comícios nas fábricas e assim conseguiram convencer os operários a pararem a produção. “Aproximadamente 90 mil trabalhadoras manifestaram-se contra o czarismo e a participação russa na 1ª Guerra, com cartazes que pediam ’Igualdade, Pão, Paz e Terra’. Assim, o Czar renunciou e nasceu a revolução”, contou o professor.

Ao longo  de 1917, a revolução democrática foi abrindo caminho para a revolução socialista, com o apoio das massas. E o Partido Bolchevique, que não tinha mais de 10 mil membros, se transformou em uma organização com 200 mil membros. “Uma minoria em poucos meses se transformou em maioria, porque foi capaz de interpretar o que era a vontade mais profunda da sociedade e acreditou que valia a pena ter paciência para que essa maioria conhecesse a experiência na prática”, disse Valério. E completou: “Foi a primeira Revolução feita pela e para a maioria”.

De acordo com o professor, no Socialismo, os meios de produção devem ser socializados e a economia deixa de ser baseada na busca do lucro e passa a ter como objetivo a satisfação das necessidades de cada um. “O objetivo é elevar as condições culturais e materiais existentes, ou seja, permitir uma vida melhor para todos. Não significa que profissões diferentes receberão salários iguais, mas sim que todos terão que trabalhar. E não como funciona hoje na sociedade, em que os que são herdeiros do capital não têm que trabalhar”, ressaltou.

Para Gilberto Maringoni, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (São Paulo), que também participou da mesa, celebrar a data não é apenas uma questão de marcar o dia, mas também pensar nos impactos que essa revolução teve nos anos seguintes: “A gente vê a história pelo que ela representa na vida política, social, econômica, em todas as variáveis da vida humana. A Revolução Russa mudou a face do mundo e, mesmo com a queda do regime soviético e o triunfo do capitalismo, é impossível deixá-la no esquecimento pela importância e pelo impacto no cotidiano”.

Segundo Gilberto, os povos fazem uma revolução social quando não tem mais alternativa. “O regime Czarista era uma ditadura, o poder da minoria dominava uma maioria empobrecida, miserável. A única maneira dessa maioria melhorar de vida era arrebentando com aquele poder”, afirmou, acrescentando que acredita que as revoluções são feitas em cima de ideias simples e necessidades extremas, vide as palavras de ordem de Lênin – ‘Pão, Paz e Terra’.

Gilberto destacou que a Revolução Russa trouxe uma novidade sobre todas as outras, colocando em questão a propriedade privada: “A revolução aconteceu não somente para mudar o poder do país, mas para mudar também o poder econômico. A propriedade se tornou social, do estado, e esse estado tem que ser democrático. Acontece que quando você vai abolir a propriedade privada, quem tem essa propriedade não quer ceder nada”.

“Temos que olhar a Revolução como um todo, entender os exageros e não ser complacente com eles, denunciar as mortes excessivas e a ditadura. A luta pelo Socialismo é tortuosa. A luta da União Soviética é heroica, porque socializou a riqueza, mudou o mundo. Em 30 anos, um país agrário se tornou uma potência industrial. Nos anos de 1950, os russos zeraram o déficit habitacional, acabaram com a fome e com o analfabetismo. Para um país que era quase feudal, é muito”, concluiu Gilberto.