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A luta contra a pobreza menstrual

Estudantes do Ensino Médio da EPSJV participam como voluntários de projeto que visa criar políticas públicas de combate à fome e à pobreza menstrual, apoiando meninas e mulheres de comunidades desprivilegiadas
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 26/08/2021 12h25 - Atualizado em 01/07/2022 09h41

A pobreza menstrual abrange a falta de conhecimento sobre cuidados com a menstruação e a falta de infraestrutura e escassez de recursos voltados ao cuidado menstrual. É esse o mote do projeto “Ciclo de Amor”, uma iniciativa do clube Girl Up Nise da Silveira, da Fundação ONU, que conta com a participação de seis estudantes do Ensino Médio da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) que, comovidos e engajados com pautas sociais, decidiram se tornar voluntários do clube. Criado em 2019, o Girl up Nise da Silveira tem o objetivo de lutar contra as injustiças que assolam mulheres e meninas desprivilegiadas da periferia da região metropolitana do Rio de Janeiro, promovendo debates sobre igualdade de gênero, educação sexual e empoderamento feminino.

Para a estudante do 3º ano, da habilitação de Gerência em Saúde, Marcela Marcondes, a menstruação, um processo natural do corpo feminino, é um tabu em meio ao resto da sociedade e é um assunto rodeado de desinformação. De acordo com dados oferecidos pela ONU, uma em cada 10 meninas faltam à aula no período menstrual, por causa da falta de acesso aos produtos de higiene pessoal no Brasil e em todo mundo. “Sabemos que saúde menstrual não é luxo e que podemos ser mudança na vida de mulheres e meninas com o desenvolvimento de muitas ações”, ressalta.

Ações como as do projeto “Ciclo de Amor”, que foi desenvolvido durante a pandemia da Covid-19 justamente pelos impactos negativos na saúde da população periférica. “Em nossa primeira ação, no dia 12 de junho de 2021, realizamos a doação de 138 absorventes ecológicos para meninas do orfanato Santa Rita de Cássia, na Praça Seca. Também promovemos rodas de conversa e palestras sobre o ciclo menstrual e workshops sobre a sustentabilidade e impacto ambiental do absorvente descartável e o ecológico”, contou a estudante. E acrescentou: “Nossa ideia agora é, no dia 11 de setembro, doarmos mais 300 bioabsorventes e 20 cestas básicas para mulheres que vivem na Praça Seca”.

A precarização da saúde menstrual, na visão de Marcela, afeta diversas áreas da vida de uma menina, desde a vida social até a acadêmica, causando o abandono escolar e instabilidade empregatícia, por exemplo. “Dessa forma, é importante reconhecer que, assim como o acesso a alimentos nutritivos é necessário para o metabolismo de uma pessoa, o acesso a absorventes é necessário para a dignidade feminina”, destaca.

Segundo Caio Fernandes, estudante do 2º ano da habilitação de Análises Clínicas, o principal objetivo do “Ciclo de Amor” é criar políticas públicas de combate à fome e à pobreza menstrual, apoiando meninas e mulheres de comunidades desprivilegiadas. “Pautar a pobreza menstrual é imprescindível, principalmente quando vivemos num país onde os direitos das mulheres de terem acesso à higiene pessoal são negligenciados”, lamenta.

De acordo com ele, estima-se que cerca de quatro milhões de meninas adolescentes não possuem à sua disposição itens essenciais de higiene, como papel higiênico, sabão e absorventes. “Na ausência desses produtos, muitas mulheres encontram alternativas não muito indicadas para manterem sua dignidade, como impedir o fluxo com papel sujo, roupas velhas ou até miolo de pão”, aponta, completando: “Por conta disso, muitas mulheres e meninas deixam de viver suas vidas por conta do desserviço do governo, o qual não garante o básico a elas. Isso poderia ser resolvido a partir da disponibilização de absorventes em postos de saúde, já que esses produtos são constantemente taxados e encarecidos”.

Para Marcela, esse é um velho problema intensamente invisibilizado e desconhecido para muitos, mas essa condição de vulnerabilidade sempre existiu em zonas rurais e até em metrópoles mundialmente conhecidas. “Muitas mulheres não têm acesso ao conhecimento de seu próprio corpo, a medicamentos ou serviços médicos para cuidados devidos e ainda menos acesso à absorventes ou métodos de higiene como água, tanto em casa como em escolas. É extremamente importante as pessoas receberem acesso aos cuidados e conhecimentos básicos de higiene, prevenindo uma série de doenças, até mesmo letais”, enfatiza.

A partir dessa e de outras ações que virão, Caio afirma que o grupo busca também incentivar outros grupos que lutam a favor dos direitos das mulheres a fazerem o mesmo: “Seria como um efeito cascata, servindo de inspiração para que ainda mais mulheres sejam providas de itens básicos de higiene”.