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Atividades práticas de forma segura no contexto da pandemia de Covid-19

EPSJV realiza oficina de planejamento de atividades de estágio dos cursos técnicos de nível médio em saúde para discutir os desafios de promover ações presenciais no primeiro semestre de 2021
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 18/12/2020 13h43 - Atualizado em 01/07/2022 09h42

A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) promoveu, no dia 15 de dezembro, a “Oficina de planejamento de atividades de estágio dos cursos técnicos de nível médio em saúde no contexto da pandemia de Covid-19”. Realizado de forma remota, o evento teve o objetivo de apresentar um conjunto de medidas preventivas para as atividades de estágio e aulas práticas dos cursos técnicos nos serviços da rede Fiocruz para o primeiro semestre de 2021. A programação contou com uma mesa de abertura, seguida de uma roda de conversa, que discutiu ”Como formar estudantes e realizar atividades práticas de forma segura no contexto da pandemia de Covid-19?”. Após a roda, foi realizado um debate, do qual os subsídios compuseram uma nota técnica e definiram as próximas iniciativas de planejamento dos estágios.

Na mesa de abertura, a vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação  da Fiocruz, Cristiani Machado, chamou atenção para alguns pontos necessários para discutir os desafios das atividades presenciais. O primeiro, segundo ela, é que a prioridade máxima tem que ser a preocupação com a vida dos alunos, das famílias e da comunidade escolar como um todo. “A gente sabe que a questão da transmissão comunitária está muito intensa no Rio de Janeiro, o que dificulta, neste momento, o apontamento de realização de atividades presenciais”, ressaltou.

A segunda questão é o Plano de Convivência da Fiocruz. Segundo ela, no que diz respeito às questões educacionais e de convivência, assumiu-se a necessidade de pensar as especificidades da educação básica e educação profissional em saúde oferecidas pela EPSJV. “Outro ponto é que nós reconhecemos os limites do que chamamos de educação remota e emergencial. Nós achamos, claro, que as relações presenciais dos discentes e docentes são muito importantes, em todos os sentidos, do ponto de vista cognitivo, pedagógico, afetivo... Tudo que envolve o processo de aprendizagem”, ressaltou, acrescentando que qualquer atividade presencial que seja retomada em algum momento tem que estar aliada ao Plano de Convivência da Fiocruz, que está em constante construção. “Além disso, temos que trabalhar com cenários. O contexto epidemiológico está mudando de forma acelerada a cada dia e por isso são necessárias outras discussões”, ressaltou.

Assim como Cristiani, o vice-presidente de Atenção, Ambiente e Promoção em Saúde da Fiocruz, Marco Menezes, também destacou a necessidade de pensar no cenário atual que, segundo ele, é de recrudescimento da pandemia, especialmente, no Rio de Janeiro, com a lotação dos leitos e aumento dos casos. “Justamente por isso, ao pensarmos na elaboração desse documento, temos que pensar formas de acessar dados epidemiológicos de forma mais precisa. O Observatório da Covid-19 da Fiocruz tem produzido muitos relatórios importantes e o último mostra as dificuldades na captação dos dados”, apontou. E acrescentou: “Quando pensamos em cenários buscamos dialogar com a realidade para poder intervir da forma mais precisa possível. E será muito importante aprofundar parcerias, principalmente com o Observatório”.

A diretora da EPSJV, Anakeila de Barros Stauffer, destacou que a EPSJV promove atividades de pesquisa, de ensino e de cooperação no campo da educação profissional em saúde. Dessa forma, ela afirmou que os desafios para a a realização das atividades remotas para a pós-graduação são muitos e que, no caso dos cursos da educação básica e educação profissional são ainda mais maiores. “Neste ano, realizamos todas as atividades de forma remota, mas agora, neste momento de conclusão e frente a esse cenário tão complexo, temos o desafio de concluir a formação de 86 jovens que estão na instituição desde 2017, quando iniciaram o curso técnico integrado ao nível médio. Essa conclusão ainda não pode ocorrer e temos que construir juntos soluções para esse desafio. Como podemos garantir a oferta do componente do estágio, que é parte do currículo do curso técnico, que não puderam ser oferecidos?”, questionou.

Anakeila lembrou que a oficina é realizada em um momento complexo, mas ao mesmo tempo, em um momento em que a sociedade discute o quão essencial ou não são as atividades escolares para vida e para a saúde de jovens e adolescentes. “Para a escola, nós deveríamos compor atividades de estágio de forma híbrida, conciliando atividades remotas e, exclusivamente para aquilo que for essencial, as atividades presenciais. O fato é que esse caminho não está dado e precisamos construí-lo”, apontou. Sendo assim, a diretora da EPSJV deixou algumas perguntas para serem respondidas durante o encontro: “Como permitir que os estudantes desses cursos não tenham as suas trajetórias acadêmicas futuras interrompidas mediante a realização do ENEM [Exame Nacional do Ensino Médio], que seria suspenso, mas não foi? Como assegurar que tais estudantes possuam um perfil profissional compatível com o que realizamos periodicamente com a escola em contexto atípico? Como formar técnicos em Análises Clínicas, Biotecnologia e Gerência em Saúde que possam trabalhar muito em breve na própria Fiocruz nas ações de enfrentamento à pandemia?”, dentre outras.

Formar estudantes de forma segura

Em seguida, teve início uma roda de conversa com o tema: ”Como formar estudantes e realizar atividades práticas de forma segura no contexto da pandemia de Covid-19?”. A coordenadora geral do ensino técnico da EPSJV, Ingrid D’avilla, contou que, desde o início da suspensão das atividades presenciais na Escola Politécnica, alguns movimentos foram muito importantes. Ela afirmou que, embora soubesse que poderia contar com a inclusão digital mais abrangente a partir do empréstimo dos tablets e chips, a decisão da escola já sabendo que esse movimento seria retardado pela experiência da licitação com os tablets, foi iniciar as atividades remotas curriculares com os estudantes da 4ª série, fazendo empréstimo de equipamentos próprios. “Ou seja, para os estudantes da 4ª série iniciamos as atividades de forma curricular no dia 31 de agosto. Fomos a primeira instituição federal na capital que conseguiu curricularizar essa experiência com garantia de inclusão digital extensiva para estudantes do ensino médio”, ressaltou.

Ingrid também destacou que a EPSJV está ampliando o empréstimo de tablets e chips para que não somente os estudantes com dificuldades mais extremas pudessem acessar, mas também todos os estudantes que tivessem um pouco mais de condição de fazer isso em seus domicílios. “Nunca pensamos que iríamos ter uma suspensão das atividades tão excessiva como temos vivenciado no Brasil. Então, a nossa priorização nas atividades curriculares com esses estudantes foi nos componentes teóricos, ou seja, componentes da formação geral do ensino médio e também das habilitações técnicas”, lembrou.

A questão agora, segundo ela, é que chegou o momento de lidar com o grande desafio das atividades de estágio: “Do ponto de vista das coordenações e dos docentes, a grande angústia tem sido em pensar em como podemos oferecer de forma segura a realização desses estágios? Essa pergunta é o que nos mobiliza, porque o desafio é compartilhado por toda Fiocruz, pois vários serviços são corresponsáveis por essa formação, na medida em que são cenário de práticas e que abrigam esse componente obrigatório”.

Ingrid afirmou ainda que, do ponto de vista legal, a Escola está se mobilizando para aprovar uma portaria interna que autorize com que a EPSJV ofereça, excepcionalmente em 2020, uma carga horária de estágio de até no máximo 75% da carga do estágio.

Ingrid ressaltou que é importante ouvir como tem sido a experiência de outros campos de práticas que recebem residentes e estagiários em relação à Covid-19: “Temos que ouvir outras experiências. Sabemos que não temos conclusões assertivas, mas já reconhecemos que temos que ter um plano alternativo e hoje esse plano seria esse estágio ser de forma 100% remota”.

Isabella Delgado, coordenadora adjunta dos cursos Lato Sensu da Vice-presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC/Fiocruz), trouxe alguns desafios e consensos que foram bastante discutidos na Câmara Técnica de Educação da Fiocruz, no dia 9 de dezembro. Dentre eles, num planejamento das atividades de 2021, Isabella destacou a necessidade de acompanhar o perfil epidemiológico-sanitário no país que, segundo ela, tem que ser um plano vivo, além da atualização das “Orientações para Educação Remota Emergencial nos programas e cursos de pós-graduação stricto sensu e lato sensu da Fiocruz”. “Precisamos considerar as necessidades específicas de residentes, de alunos do nível médio e outras modalidades educacionais da EPSJV e estar em constante diálogo com vocês para acharmos as melhores saídas”, ressaltou.

Além disso, Isabella falou sobre a necessidade de não programar e nem realizar atividades acadêmicas que levem à aglomeração; considerar rodízio e escalas nos laboratórios para viabilizar projetos de bancada, inclusive aqueles que envolvem pesquisa sobre Covid-19; e até segunda ordem e pensar em provável retorno a uma “normalidade” somente após a vacinação de forma mais ampla. “Em que medida o campo de prática mudou como consequência da pandemia? Há atividades que eram unicamente presenciais que podem ser realizadas a distância? Essas são questões que devemos considerar para pensar no nosso planejamento e análise de cenários”, pontuou.

Para a infectologista do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), Marília Santini, quase tudo o que foi previsto para essa pandemia foi previsto de forma errada. Segundo ela, em março de 2020, todos pensavam que seria como as ameaças pandêmicas de outros coronavírus ou outras pandemias de Influenza. “Mas a duração dessa foi bem maior. Tivemos uma enorme rapidez no desenvolvimento de uma vacina, o que foi maravilhoso, porém, traz uma necessidade de saber o que vai acontecer quando a vacina for introduzida nesse cenário epidemiológico, pois já vimos que produzir a quantidade de vacinas necessárias para o mundo não é rápido”, apontou.

Em contrapartida, Marília afirmou que, agora, com a duração da pandemia muito superior ao que era esperado, a Fiocruz já observa outras necessidades: “Por exemplo, profissionais de saúde tanto para trabalhar no enfrentamento da pandemia, quanto em outras condições de saúde que não deixam de acontecer – pelo contrário, até pioram na pandemia por receberem menos atenção – a gente tem uma grande dificuldade de contratar atualmente”.

Sendo assim, ela considera necessário pensar na formação não só desses 86 alunos da EPSJV que estão no último ano do Ensino Médio, como daqueles que concluem o curso em 2021. “A gente precisa dessas pessoas formadas para entrar nos serviços de saúde, não somente na Fiocruz”, e acrescentou: “Então, eu gostaria de trazer uma pressão a mais para essa oficina, que é a possibilidade da formação desses alunos passar a ser uma atividade essencial. Tanto quanto era a produção dos kits no começo, a produção das vacinas agora, porque a sociedade está precisando desses profissionais para que as atividades de assistência em saúde sejam mantidas, não só as específicas do combate à pandemia, mas também as outras que continuam ocorrendo”, defendeu. Marília sugeriu que fosse realizado uma análise individual das necessidades de formação em cada carreira.

Adriana Coser, coordenadora adjunta das Residências em Saúde da VPEIC/Fiocruz, falou sobre os aprendizados relacionados às atividades em 2020. Segundo ela, de acordo com o Plano de Desenvolvimento Institucional de Ensino da Fiocruz, as Residências em Saúde buscam qualificar jovens profissionais da saúde para inserção profissional, particularmentem em áreas prioritárias do Sistema Único de Saúde (SUS), utilizando-se para isso, não só das suas unidades técnico-científicas como também de parcerias com instituições de excelência dentro e fora do país.

Adriana pontuou que, atualmente, na Fiocruz existem 850 residentes entre médicos, enfermeiros e multiprofissionais, e mais de mil trabalhadores envolvidos na gestão e preceptoria. “Os campos de prática estão nas Unidades Básicas de Saúde, hospitais, ambulatórios da rede própria Fiocruz e dos demais serviços da rede SUS, dentre outros”, destacou.

Com a suspensão de alguns campos de práticas, desconhecimento da Covid-19, escassez de Equipamentos de Proteção Individual, baixo conhecimento de educação on-line, salas de aulas fechadas, recusa de idas ao campo, dentre diversos fatores, Adriana contou que foram pensadas algumas alternativas. “Uma das coisas que sempre discutimos foi a manutenção das atividades de práticas nos cenários possíveis, incluindo a rede de serviços do campus, quando possível. Também discutimos o reconhecimento da manutenção da prática como missão social do trabalho em saúde e a valorização da pandemia como recurso pedagógico, tentando olhar para um outro lado. Por exemplo, com a criação do hospital novo da Fiocruz, como seria potente os residentes acompanharem toda a estruturação física, de planejamento, enfim, de fato vivenciar uma pandemia”, observou e acrescentou: “De fato, a vivência prática para alguns cursos são soberanas, precisa ter. Mas como fazer essa vivência em condições seguras?”.

Flávia Lessa, médica do trabalho do Núcleo de Saúde do Trabalhador (Nust/Fiocruz), afirmou que o momento é crítico, principalmente para os estudantes, mas, no caso de trabalhadores da saúde, sempre devemos considerar eventos dessa natureza como relevantes para o aprendizado. “Hoje, os residentes no Nust estão sendo fundamentais, por exemplo. Eles aprendem e nos ajudam. É importante o aluno viver essa fase crítica, porque ele está aprendendo na prática o que algum dia ele terá que fazer quando for profissional. O estágio é uma oportunidade para o aluno enfrentar a realidade”, definiu. E acrescentou: “A gente tem que dar para esse aluno as condições de segurança para que ele consiga desenvolver as atividades no estágio. Essa é a nossa função”.

Segundo Flávia, a parceria da EPSJV com o Nust envolve o INI com a avaliação clínica dos alunos antes deles entrarem para o campo de estágio. “Liberamos esses alunos para participarem do estágio, avaliamos exames e vacinas”, disse. Além dessa ação protetora, Flávia afirmou que é necessário manter um acompanhamento desses alunos. “Os alunos da Escola Politécnica já estão incluídos na vigilância dos trabalhadores. Eles podem fazer a testagem e o acompanhamento no Nust Covid, um sistema online que monitora a saúde do trabalhador/aluno”.

Nota técnica

A discussão subsidiou a elaboração da ‘Nota Técnica: Estágios dos Cursos Técnicos de Nível Médio em Saúde da EPSJV/Fiocruz no contexto da emergência sanitária de Covid-19’. O documento diz que os planos de curso das três habilitações oferecidas na EPSJV – Análises Clínicas, Biotecnologia em Saúde e Gerência em Saúde – incluem a realização de estágios no último ano. Além da regulamentação nacional, a nota reafirma que as decisões para o CTNMS da EPSJV têm como base: o Plano de Convivência da Fiocruz com a Covid-19, o Plano de retorno às atividades de ensino de forma presencial na EPSJV/Fiocruz no contexto da Covid-19 e as Orientações para a Educação Remota Emergencial no âmbito dos Programas de Pós-graduação stricto sensu e cursos lato sensu da Fiocruz. “Com base nas indicações desses documentos, a gestão do ensino tem viabilizado junto aos docentes e discentes a constituição de uma estrutura pedagógica remota com ampla inclusão digital e, simultaneamente, preparação dos ambientes para redução da transmissibilidade da Covid-19, mediante realização de atividades presenciais”, diz um trecho da nota.

Acesse a nota na íntegra aqui.