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Educação Popular e Plantas Medicinais na Atenção Básica

Formação promovida pela EPSJV em diversos municípios do Rio de Janeiro de desdobrou em ações de valorização dos saberes populares
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 23/09/2021 11h50 - Atualizado em 01/07/2022 09h41

Os trabalhos de conclusão dos alunos do Curso de Formação Pedagógica em Educação Popular e Plantas Medicinais na Atenção Básica se desdobraram em ações efetivas de valorização dos saberes populares no cuidado à saúde em diversos territórios do estado do Rio de Janeiro. Promovido de abril a julho de 2021, pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), o curso foi realizado com a colaboração do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) e da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. A formação, oferecida de forma remota, foi dirigida, principalmente, aos Agentes Comunitários de Saúde, Agentes de Vigilância em Saúde ou de Controle de Endemias, lideranças comunitárias e representantes de movimentos sociais, mas também estendida a outros profissionais da Atenção Básica. 

“O curso tem sido muito importante no sentido de favorecer a implementação e consolidação da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, da Política Nacional de Práticas Integrativas e da Política Nacional de Educação Popular em Saúde”, ressalta Grasielle Nespoli, professora-pesquisadora da EPSJV e uma das coordenadoras do curso.

Sementes 

No município de Cachoeiras de Macacu (RJ), foi iniciado um projeto piloto com duas unidades de saúde - uma na zona rural e outra na área urbana - com o intuito de desenvolver um espaço de troca de saberes e resgate do uso das plantas medicinais. O projeto se desdobrou na construção de hortas medicinais nos espaços de outras unidades de saúde, com parceria da comunidade e de um projeto de ressocialização com prestadores de serviço comunitário. Segundo a egressa Christiane Azevedo, coordenadora de Prática Integrativas em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Cachoeiras de Macacu, o trabalho desenvolvido tem como objetivo o resgate do conhecimento popular e uso das plantas medicinais. Nesse contexto, será realizado, no dia 25 de setembro, um encontro com o Grupo Grãos de Luz para confecção da “Pomada milagrosa”, produto de uso tradicional produzido por quase 30 anos na comunidade de Lumiar. Já no dia 6 de novembro, acontece uma oficina da pomada para os agentes comunitários de saúde da região, a fim de que se tornem multiplicadores de saberes no território. “O curso nos incentivou a fortalecer os laços da comunidade com o uso das plantas medicinais, referenciando as unidades de saúde como espaços de um cuidado ampliado e mais humanizado”, destaca Christiane. 

No município de São Gonçalo (RJ), a ACS Fabiana Braga, da UBS Oswaldo Cruz, conta que alguns moradores realizam a troca de mudas de plantas. Por conta do isolamento social, esses moradores ficaram restritos em suas residências. E quando a ACS fazia as visitas, eles sempre pediam para que ela levasse mudas para outros vizinhos. “A partir do curso, eu vi que poderia aprimorar essas ações que já estavam em andamento e que, por conta da pandemia, deram uma reduzida. Foi quando eu tive a ideia de promover rodas de conversa para que os moradores compartilhassem suas experiências em relação a plantas medicinais”, diz.

Fabiana lembra que já aconteceram dois encontros. No primeiro, os moradores puderam falar sobre a relação com as plantas e com quem e como aprenderam sobre o cultivo. Num segundo momento, eles puderam realizar a troca de mudas. “Tem sido muito especial e emocionante. As rodas têm valorizado o conhecimento popular, que muitas vezes vem de nossos antepassados”, aponta.

Já no município de Quissamã (RJ), local onde atua a ex-aluna, ACS e gerente do Programa de Doenças Raras e Doenças Crônicas não transmissíveis, da secretaria de Saúde, Andréa Oliveira, há o Horto Municipal Hermes de Souza Pinto, que abastece o território. Ela conta que, a partir dele, foi pensada uma proposta de criação de uma horta nas dez Unidades Básicas de Saúde do munícipio para que a comunidade se envolva no cultivo das mudas distribuídas pelo horto, em parceria com o projeto “Farmácia Viva” e com as Secretarias Municipais de Agricultura e de Meio Ambiente. “Desenvolvemos uma ação com os pacientes de doenças crônicas não transmissíveis sobre a educação popular da alimentação natural e saudável, de se ter esses pequenos plantios dentro de casa”, diz ela e completa: “No meu território, eu pude multiplicar tudo que foi aprendido no curso, a questão das propriedades das plantas, da religiosidade... Tem sido uma experiência incrível”, conclui Andréa.

Formação 

O Curso de Formação Pedagógica em Educação Popular e Plantas Medicinais na Atenção Básica foi pensado para acontecer de forma presencial, entretanto, com a pandemia da Covid-19, ele foi realizado com a carga horária de 54 horas totalmente de forma remota. O material didático utilizado é o livro “Educação popular e Plantas Medicinais na Atenção Básica à Saúde”, já disponível no Portal EPSJV, e à experimentação do jogo educativo Semeando o Cuidado. “A gente faz a leitura e o debate do conteúdo do livro, que materializa a trajetória formativa, e experimenta o jogo ao longo da formação. A gente parte de uma reflexão sobre a importância da Educação Popular, a relação dela com os saberes da cultura, da ciência e com o cuidado”, conta Grasielle.  

A formação aprofunda ainda o conceito de cuidado, aborda a fitoterapia e as plantas como uma prática integrativa e complementar de saúde, discute a atenção primária, situando a Estratégia Saúde da Família na revisão do modelo de atenção, além de apresentar os retrocessos em relação à Política de Atenção Básica. “Depois disso, os estudantes vão investigar no território os saberes e as práticas populares de uso de planta, que envolve desde o cultivo até o preparo como remédio caseiro. Eles aprofundam e sistematizam esses saberes na formação de um herbário virtual e desenvolvem um plano de ação”, afirma.  

Atualmente, há mais duas turmas em andamento, que envolvem a região serrana do estado do Rio de Janeiro.

Livro: Educação popular e Plantas Medicinais na Atenção Básica à Saúde

Organizada pela EPSJV, a publicação foi criada como material educativo para o curso Educação popular e plantas medicinais na atenção básica à saúde. O livro dialoga também com o material utilizado no curso de Aperfeiçoamento em Educação Popular em Saúde, o EdpopSUS, e aprofunda o reconhecimento dos saberes populares, com ênfase no cultivo e no uso de plantas medicinais e fitoterápicos nos processos de cuidado.

Acesse o livro.

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Objetivo é formar educadores populares para o desenvolvimento de ações de valorização, reconhecimento e integração dos saberes populares sobre o uso de plantas medicinais no cuidado à saúde