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EPSJV inicia parceria para oferecer estágios de licenciatura aos estudantes da UFRJ

Escola Politécnica agora faz parte do Complexo de Formação de Professores da universidade federal
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 24/06/2021 10h37 - Atualizado em 01/07/2022 09h42

A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) se tornou, em março deste ano, uma das instituições parceiras do Complexo de Formação de Professores (CFP) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dessa forma, estudantes de licenciatura da universidade poderão realizar seus estágios em diferentes disciplinas na EPSJV, tanto no Curso Técnico integrado ao Ensino Médio quanto na Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Segundo o coordenador de estágios de licenciatura da EPSJV, Rafael Bilio, o convênio permite desenvolver uma rede de formação inicial e continuada de professores da Educação Básica, mas o seu significado vai além do acolhimento de estagiários, inclui também a participação ativa a formação ético-política-histórica, socializando ações de formação entre as instituições, abrangendo o ensino e a pesquisa. “Outro ponto a ser destacado é a concepção politécnica, com a qual os alunos dos cursos de licenciatura muitas vezes se defrontam pela primeira vez. Esse ponto não é secundário em tempos nebulosos de avanço da extrema-direita, deturpação da história e de negacionismo da ciência”, aponta Rafael.

Ao desenvolver a proposta de parceria com a UFRJ, Rafael destaca que a EPSJV seguiu um posicionamento contra-hegemônico na tendência nacional de adesão à Base Nacional Comum Curricular, e, mundial, de encurtamento e desfiguração dos cursos de licenciatura. “O desenvolvimento desse convênio se apresenta como um ato de resistência da educação pública e no desenvolvimento de estratégias de luta contra-hegemônicas que possibilitem uma educação histórico-crítica condizente com os anseios da classe trabalhadora”, afirma.

Na visão do professor-pesquisador e coordenador da formação geral do Ensino Médio da EPSJV, André Dantas, a articulação entre universidades e instituições de educação básica é decisiva e muito importante, porque é a expressão da própria valorização da educação e do papel protagonista que os docentes precisam ter no processo ensino-aprendizagem. “A vulgarização, a redução e o rebaixamento da posição do protagonismo dos docentes também se devem a uma desarticulação entre instituições de educação básica e universidades que, infelizmente, tem acontecido. Portanto, é importante a gente celebrar, manter e ampliar essa articulação”, aponta.

A parceria da EPSJV com a UFRJ, de acordo com André, vem em um momento importante, de crescimento vertiginoso dos grupos privados da educação sobre a educação pública com o mote do isolamento social e da oferta de ensino virtual. “É muito importante que as instituições públicas sejam valorizadas no seu papel estratégico na formação de novos docentes, porque, embora trabalhando virtualmente em função de uma situação que não escolhemos, não existe nesses espaços a naturalização do ensino virtual e remoto. Isso é decisivo para o processo de formação desses professores que estarão atuando daqui a pouco”, defende. 

Para André, a rede pública, de modo geral, é “um espaço rico e fundamental para a formação de docentes porque permite que eles tenham contato com uma pluralidade de sujeitos e sociabilidades que são decisivas para o seu fazer pedagógico”.

Para a professora-pesquisadora da EPSJV, Danielle Cerri, o processo de formação de docentes na educação básica, sobretudo no Brasil, é desafiador no que tange às práticas pedagógicas cotidianas no interior das escolas. “Seja pela falta de infraestrutura necessária para tanto ou na valorização da profissão de educador nesse país. Receber os licenciandos é uma oportunidade de trocas reais e simbólicas necessárias para a formação docente e para a escola que os acolhe”, ressalta.

Na EJA-Manguinhos, Danielle conta que o processo de educação territorializada  materializa a interface entre currículo e as questões sociais emergentes a serem discutidas no espaço da escola. “Não é possível abordar o ponto nodal ecologia, sem olhar para o lado e ver a degradação ambiental atrelada à desigualdade social presente no território de Manguinhos, por exemplo. Ou falar sobre a importância da alimentação saudável e não tocar na insegurança alimentar que aflige a vida dos nossos estudantes”, explica, acrescentando que a EPSJV promove a elaboração de materiais didáticos que apontam para essas discussões no âmbito da sala de aula.

“Creio que através da interface com a universidade no processo de formação docente, podemos contribuir para um projeto de educação que priorize esses valores, multiplicando e perpetuando a concepção da educação politécnica nos demais espaços educativos e impulsionando um projeto de educação articulado com um projeto de sociedade inclusivo e includente”, define Danielle.

Estágios na prática

Uma das disciplinas que tem recebido estagiários do Complexo de Formação da Professores da UFRJ é Filosofia, ministrada pelo professor-pesquisador e coordenador da EJA-Manguinhos, Marcus Pedroza. Segundo ele, os licenciandos de filosofia chegaram em três grupos, a partir de março deste ano. “O primeiro grupo está acompanhando os três últimos anos da habilitação de Biotecnologia e três turmas da EJA, além do eixo Política da Iniciação à Educação Politécnica {IEP} e as reuniões de planejamento e colegiadas da EJA. O segundo e o terceiro grupos só não estão acompanhando as turmas do período diurno”, expõe.

Pedroza conta ainda que há um planejamento em conjunto e, em algumas aulas, eles têm experimentado sugestões que vêm dos próprios licenciandos, ao mesmo tempo que eles têm a liberdade para intervir durante as aulas. “Rotineiramente, após todas as aulas, há uma reunião em que se avalia o que ocorreu em aula, qual a sua finalidade e a relação com o recurso selecionado”, explica.

Apesar de ter firmado o convênio formal neste ano, a EPSJV já recebia alunos de licenciatura há alguns anos, tanto da UFRJ, quanto de outras universidades.  Luan da Silva Gustavo estagiou na EJA-Manguinhos em 2012, quando fazia licenciatura em Ciências Biológicas, na UFRJ. “Realizar o estágio na EJA sobressaltou diante dos meus olhos uma demanda real da educação brasileira, naquele momento, pouco considerada na formação de professores de Ciências Biológicas”, diz o professor. Na contramão dessa percepção, o acompanhamento das classes o remeteu ao próprio ambiente familiar: "Sou filho de trabalhadores braçais que interromperam suas respectivas vidas escolares em função da entrada no mercado de trabalho. Sendo assim, o meu trabalho com os alunos da EJA esteve pautado no respeito máximo por aqueles sujeitos e histórias. No aspecto pedagógico, passei a entender o espaço curricular da disciplina de Ciências não como um espaço de afirmações absolutas e cientificamente comprovadas, mas como um espaço de troca, diálogo e intercâmbio com as experiências de vida daqueles educandos”.

Veja aqui as orientações e documentos necessários para os estudantes de graduação que desejam se candidatar a um estágio de licenciatura na Escola Politécnica.