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EPSJV realiza planejamento para o ano letivo do Ensino Médio

Durante duas semanas, professores-pesquisadores fizeram um balanço do planejamento integrado presencial e do ensino remoto emergencial em 2020 e destacaram os desafios e as demandas para o ano letivo de 2021
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 11/08/2021 14h34 - Atualizado em 01/07/2022 09h41

A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) reuniu, de 26 de julho a 6 de agosto, professores-pesquisadores e coordenadores da formação geral do Ensino Médio e das habilitações dos cursos técnicos, além de profissionais da Vice-Direção de Ensino e Informação, em duas semanas de planejamento de trabalho para o Ensino Médio. Durante esses dias, eles discutiram sobre os desafios de trabalhadores técnicos em saúde no contexto do novo ensino médio e da Covid-19. Além disso, os professores fizeram um balanço do planejamento integrado presencial e do ensino remoto emergencial em 2020 e destacaram os desafios para o ano letivo de 2021, apresentando a grade curricular e os protocolos locais de biossegurança e rastreamento de casos e contatos. As aulas para o CTNMS terão início no dia 16 de agosto, remotamente, e dia 30 de agosto, presencialmente, apenas para os estudantes do 4º ano. Já o terceiro ano retornará, presencialmente, em 20 de setembro, enquanto a volta dos estudantes do 1º e 2º anos passará por nova avaliação do conselho deliberativo da EPSJV no mês de setembro.  

Painel ‘Pandemia de Covid-19, novo ensino médio: desafios para a formação politécnica de trabalhadores técnicos em saúde’

O dia 30 de julho foi marcado por um painel que trouxe aspectos da Saúde e da Educação que demandam novos desafios na formação de trabalhadores técnicos em saúde. Ingrid D’avilla, vice-diretora de Ensino e Informação da EPSJV, deu boas-vindas aos professores-pesquisadores neste início do ano letivo 2021, ressaltando que este será mais um ano de transição e muitos desafios. Em seguida, Ingrid apresentou um breve panorama sobre os desafios da formação e do trabalho técnico em saúde.

Segundo ela, a população vivencia nesse momento uma fase da pandemia que se expressa, no território do Rio de Janeiro, pela redução do número de óbitos e internações, mas ainda com intensa circulação do vírus e preocupações com relação a transmissão comunitária da variante delta. “Vivemos um contexto que expressa os impactos de uma vacinação, que vem ocorrendo de forma mais lenta do que o necessário, mas com resultados de importantes para proteção de idosos e adultos. Ainda assim, lidamos com novas variantes mais transmissíveis, fazendo com que o número de casos ainda se mantenha muito elevado”, apontou.

A vice-diretora citou que é importante considerar que, durante todo esse período, o SUS lidou com as possibilidades de enfrentamento dessa crise sanitária e muitos aspectos assistenciais estão absolutamente comprometidos pela pandemia da Covid-19. “Percebemos os efeitos da pandemia em relação à redução da assistência a outros agravos, sobretudo, doenças crônicas não transmissíveis e diagnóstico precoce, controle e acompanhamento de outras doenças, como o câncer”, afirmou.

Do ponto de vista da Fiocruz, Ingrid destacou a atuação da Fundação como protagonista no enfrentamento da pandemia, que se tornou a maior fornecedora de vacinas da Covid-19 para o Ministério da Saúde. “Além do impacto que isso gera para o SUS, estamos falando sobre os esforços da instituição para o desenvolvimento tecnológico, a ciência e a inovação, expressos na construção do Centro Hospitalar da Covid como também na atuação de todas as unidades, em especial, Biomanguinhos e Farmanguinhos em relação a produção dos kits diagnóstico, dos testes e das vacinas”, disse. E acrescentou: “Existe uma preocupação da Fiocruz em colocar toda sua capacidade produtiva para o enfrentamento da pandemia ampliando sua presença no território nacional”.

Segundo Ingrid, as áreas para a formação técnica, vinculadas à questão da produção tecnológica, são essenciais. Diante desse contexto, ela ressaltou a importância da EPSJV, que formou, em 2021, a primeira turma da habilitação em Biotecnologia, e destacou a perspectiva de que, no futuro, os trabalhadores técnicos atuem de forma mais coletiva nos processos de reabilitação, como os relativos a síndrome pós-Covid e a saúde mental coletiva. “Estamos lidando com uma ação no mundo do trabalho em saúde que envolve diretamente o trabalho dos técnicos, demandando diretamente a formação e a qualificação desses profissionais, o que faz parte da nossa missão”, lembrou.

Em sua fala, Alessandra Nicodemos, professora adjunta da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ressaltou que o conjunto de contrarreformas educacionais têm uma característica central: a disputa pelo sentido da escola pública. Segundo ela, até hoje, alguns marcos legais garantiam, de certa forma, um sentido público da educação legalmente e no imaginário da sociedade. 

Diante disso, ela conta que tem início uma lógica de responsabilização para saber quem é o responsável pelos modos precários da educação pública. “Obviamente, que o discurso da nossa classe dominante não vai ser reconhecer a escassez de recurso ou o achatamento salarial dos professores ou que eles não têm formação continuada”, lamentou. E explicou: “Não tem problema se alguns alunos vão tirar A, B, C ou se outros nem serão alfabetizados. Porque a gente vive em uma instituição meritocrática. O que acontece hoje é o acirramento disso. A lógica meritocrática sai do âmbito do rendimento dos alunos para o rendimento dos professores e das escolas".

Você responsabiliza, continuou Alessandra, a partir de ranqueamentos dentro de redes públicas e entre as redes públicas e privadas: “Ao ranquear as escolas, você consegue quantificar a responsabilização, consegue dizer que “tal escola não é boa, porque seus professores não são bons, porque a gestão não é boa. É aí que entra a disputa pelo sentido pública da educação”. 

Sendo assim, a Base Nacional Comum Curricular e a Reforma do Ensino Médio, para Alessandra, não são processos isolados da realidade educacional brasileira. “Elas têm a função de alimentar essa lógica. Eu defino um currículo, crio um sistema de avaliação e aí está pronto o sistema que vai dizer qual escola merece recurso e qual pode ser fechada”, lamentou.

Construção de mural sobre os sentidos do trabalho docente na EPSJV no ano letivo de 2021: “A reinvenção da utopia de uma escola politécnica”

No dia 2 de agosto, pela manhã, a professora-pesquisadora da EPSJV, Marise Ramos, fez um balanço das cartas enviadas, anteriormente, pelos professores da Escola, com desejos, intenções e sentidos de educar no Poli no ano letivo de 2021.  "Esse trabalho nos dá pistas para o processo permanente de construção e reconstrução do Projeto Político Pedagógico, que é, na verdade, uma carta de intenções coletiva. A cada momento em que se relê o PPP, encontramos lacunas e, portanto, a sua dinamicidade está tanto nas releituras quanto no seu desenvolvimento e dimensão prática. Ao ser uma carta de intenções coletiva, sabemos que precisa fazer constar aquilo que confere unidade ao grupo”, definiu.

Segundo Marise, algumas questões apareceram em diferentes cartas, como os desafios, medos e superações em relação ao ensino remoto. “Foi um balanço de que foi necessário, sentimos nossas inseguranças de caráter emocional e técnico, mas foi exitoso e fizemos o que era possível e necessário”, destacou.

Na parte da tarde, os professores-pesquisadores continuaram as atividades com um balanço do planejamento integrado presencial e do ensino remoto emergencial em 2020 e destacaram os desafios para o ano letivo de 2021.

Ingrid apresentou elementos dos documentos que foram discutidos no planejamento integrado do ano de 2020, no contexto do ensino remoto. “Tentamos, na época, estruturar um processo de revisão de alguns aspectos que eram críticos no Curso Técnico de Nível Médio em Saúde, como o uso do uniforme e do celular na sala de aula, o acompanhamento da frequência escolar, além da necessidade de revisão de pactos e fluxos da gestão de ensino, de mudanças de componentes curriculares, a integração curricular e a adaptação das atividades diversas”, apontou.

Segundo Ingrid, o ano de 2021 ainda é um ano de travessia e alguns aspectos que não puderem ser contemplados neste ano poderão ser definidos para 2022. “Temos que ter a clareza de que precisamos rever aspectos muito críticos do ensino remoto, mas sabendo que isso deve ocorrer em passos muitos lentos. Porque toda a dinâmica de atividades remotas ainda vai acontecer na maioria do tempo”, opinou.

Diante de todo período de suspensão das atividades presenciais e realização de anos letivos parciais, Ingrid refletiu: “Que bom que temos um curso de quatro anos. Não teríamos condição de manter a formação integrada da forma que ela acontece com todos os componentes curriculares com uma capacidade mínima de adaptação do contexto se esse curso não durasse esses quatro anos”.

Jonathan Moura, coordenador-geral do Ensino Técnico de Nível Médio em Saúde da EPSJV, falou dos desafios para docentes e para a Escola em 2021. A primeira questão destacada por ele foi o fato de o ano letivo de 2021 iniciar em agosto e de a Escola estar recebendo alunos de outras escolas que sequer tiveram aulas no 9º ano. “A gente tem esse certo descompasso entre o corpo docente, que já vem num ritmo de trabalho remoto, com um número considerável de discentes que, provavelmente, nem teve aula remota”, contou.

Em relação aos estudantes, Jonathan citou o cansaço como um fator complicador.  Segundo ele, isso se repete com professores e com alunos. “A pandemia já coloca a questão do cansaço para nós, mas também tem uma questão do cotidiano da aula remota. Esse processo de ensino e aprendizagem é algo que demanda muito de nós”, contou.

Um outro ponto é a necessidade de um olhar mais cuidadoso com as séries iniciais. Isso porque o atual 2º ano não vivenciou tanto a escola e não tem muita familiaridade com ela. “Isso os coloca, de alguma maneira, como se fossem ainda calouros”, opinou. E acrescentou que, com os calouros do 1º ano, é preciso ainda mais cuidado: “Eles chegarão à escola através do ensino remoto e até chegarem na parte do presencial terá um tempo considerável”.

Já em relação aos professores, Jonathan apontou que todos precisam pensar em ferramentas de como trabalhar e mapear questões de alunos que não tiveram contato ainda com a Escola. Além disso, ele afirmou que a avaliação ainda precisa ser nos moldes do ano letivo de 2020, mesmo tendo encontros presenciais. “É importante termos em mente que o ano letivo de 2021 é uma continuidade do período pandêmico, o ritmo deve ser o mesmo do ensino remoto”, concluiu.