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Escola Politécnica desenvolve ambientes virtuais de aprendizagem

Sem previsão de retorno às atividades escolares presenciais, EPSJV oferecerá atividades pedagógicas aos estudantes em plataforma digital de código aberto e acesso gratuito
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 27/08/2020 09h14 - Atualizado em 01/07/2022 09h42

Frente à necessidade de distanciamento social e suspensão das atividades escolares presenciais, por causa da pandemia de Covid-19, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) desenvolveu Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs), na plataforma Moodle, para dar continuidade às atividades educativas dos estudantes. Desde março, quando as aulas presenciais foram suspensas, a EPSJV tem disponibilizado atividades pedagógicas complementares no Portal EPSJV aos estudantes dos cursos técnicos integrados ao Ensino Médio nas habilitações de Análises Clínicas, Biotecnologia e Gerência em Saúde. Agora, com a plataforma, será possível uma maior interação entre alunos e professores. Outros cursos da EPSJV também utilizarão essa plataforma.

Segundo Tarcísio Souza, do Núcleo de Tecnologias Educacionais em Saúde da EPSJV, e que participou do desenvolvimento dos AVAs na Escola Politécnica, o Moodle é um programa que funciona tanto no computador, quanto em celulares e tablets, e permite o desenvolvimento de espaços virtuais que possuem um recorte temático, a criação de repositórios estruturados de documentos e mídias, além de ter ferramentas de interação entre os participantes, permitindo assim que se desenvolvam diversas atividades pedagógicas. “Na EPSJV, usamos a plataforma digital de desenvolvimento que, para além de ser gratuita, possui o código-aberto (open source) e fica sediada em um servidor da Fiocruz”, explica ele, ressaltando que esse tipo de plataforma é relevante para que a interação de professores e alunos ocorra em um ambiente com controle de acesso e restrito a finalidade pedagógica, sem anúncios ou orientações e indicações automáticas feitas por algoritmos sobre os quais a instituição não tem controle.

Para Tarcísio, para além de uma lógica estritamente associada a cursos e disciplinas, o AVA pode ir além e reunir bibliotecas virtuais para compartilhamento de conteúdo textual ou audiovisual, projetos interdisciplinares, grupos temáticos, grupos colaborativos de trabalho e pesquisa e espaços de “interação livre”, entre outros. “O planejamento e o desenvolvimento desses ambientes na EPSJV, em períodos normais, tem se pautado pela lógica de complementação da educação presencial, geralmente em atividades virtuais interativas e eletivas, que contribuam para uma potencialização do processo pedagógico, segundo a perspectiva de coordenadores e professores”, destaca.

De acordo com Elizabeth Leher, professora-pesquisadora da Coordenação de Desenvolvimento de Materiais e Tecnologias Educacionais em Saúde da EPSJV, a Escola Politécnica tem experiências de desenvolvimento e utilização de ambientes virtuais de aprendizagem, desde 2016, com diferentes finalidades e características e como elemento potencializador de cursos presenciais. “No contexto atual da pandemia e a necessidade emergencial de prosseguirmos com os vários processos formativos na forma não presencial, houve uma intensificação na demanda por elaboração desses espaços virtuais que permitem o compartilhamento de conteúdos e informações com os estudantes, acesso a materiais, desenvolvimento de atividades, produção de trabalhos, incentivo às discussões e debates, entre outras atividades”, diz ela.

Discussão para além da EPSJV

Tarcísio explica que esse tipo de plataforma de código aberto se diferencia de uma plataforma proprietária, típica de grandes corporações da área tecnológica, nas quais a utilização, além de não ser transparente, visa à maximização de lucros empresariais, com consequências sociais, políticas e éticas.

Segundo Elizabeth, as ações para a implantação do chamado ensino remoto emergencial, no contexto da pandemia de Covid-19, estão sob forte influência das grandes corporações – Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft – empresas transnacionais do mercado de tecnologia digital que são expressões objetivas da consolidação dos interesses em disputa. “Conforme destaca Naomi Klein, em matéria da The Intercept (2020), o ex-CEO da Google, Eric Schmidt, admite que ’devemos acelerar a tendência de migrar para o aprendizado remoto, que está sendo testado hoje como nunca antes’. A mesma autora chama atenção para o fato de que Schmidt é também uma pessoa que compõe o sistema de vigilância cibernética dos EUA demonstrando nexos entre as corporações e a política de segurança do Estado”, conta a pesquisadora.

Elizabeth relembrou o filme “Privacidade hackeada” que, segundo ela, expôs como os dados utilizados pelas corporações podem ser objetos de manipulação política. “São tecnologias pensadas fora do âmbito do público, da democracia e da educação pública pressupondo, sempre, a expropriação do trabalho docente e a difusão de uma “certa” educação para os estudantes. É ingenuidade supor que as corporações ofereçam acesso “grátis” aos seus programas por pura filantropia”, aponta. Por isso, segundo Elizabeth, são importantes as plataformas abertas, não vinculadas às corporações, passíveis de serem desenvolvidas em diálogo com os educadores. “Para isso, é necessário a oferta pública e gratuita de um sistema de internet como dever do Estado e direito dos estudantes. Esse é um esforço necessário na conjuntura atual e que futuramente propiciará um suporte relevante para os processos de ensino-aprendizagem presenciais”, ressalta.