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Estudantes da EPSJV participam de debate sobre o uso de agrotóxicos

Evento faz parte do Ciclo de Debates sobre a Rio + 20, que acontece em 2012, no Rio de Janeiro
Talita Rodrigues - EPSJV/Fiocruz | 08/09/2011 08h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h47


O uso de agrotóxicos para a produção de alimentos e suas consequências para a vida e a saúde das pessoas foi o tema do debate realizado na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), no dia 2 de setembro. O evento faz parte do ‘Ciclo de Debates sobre a Rio +20: Quem sustenta o desenvolvimento sustentável?’, organizado pela EPSJV e que se estenderá até o fim do primeiro semestre de 2012, com a realização de diversos encontros. O objetivo do ciclo é promover um debate preparatório, dentro e fora da Fiocruz, para a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio + 20), que acontecerá em junho de 2012, no Rio de Janeiro.



Para subsidiar a discussão, foi exibido o filme ‘O veneno está na mesa’, de Silvio Tendler, produzido com o apoio e consultoria técnica da EPSJV. O documentário traz depoimentos de agricultores e pesquisadores sobre o uso de agrotóxicos no Brasil, que se tornou campeão mundial no uso de defensivos agrícolas. “Esse filme é fruto de uma parceria importante entre a pesquisa acadêmica e os movimentos sociais para defender as questões do direito à saúde e à terra. Ele mostra como a arte pode ser engajada, ter lado e dar sua contribuição”, disse o professor-pesquisador da EPSJV, Alexandre Pessoa, acrescentando que o filme também tem o desafio de fazer um debate sobre as consequências dos agrotóxicos no campo e na cidade e é um instrumento de formação política para promover o debate sobre o tema.



O assessor da vice-presidência de Ambiente, Atenção e Promoção à Saúde da Fiocruz, José Paulo Vicente, destacou que o documentário desmistifica algumas questões sobre o campo e a cidade. “O que é produzido no campo causa problemas não só para os trabalhadores, mas também para quem consome. Se o homem acabar com a natureza, como ela vai se reproduzir sistematicamente?”, questionou.



Para os debatedores, a discussão sobre o uso de agrotóxicos é também sobre a agroindústria e o modelo de desenvolvimento em que ela se insere. “As transnacionais são a força motriz de todo o debate sobre os agrotóxicos. Essa campanha ‘Sou Agro’, que está sendo veiculada, por exemplo, é o capital se organizando com o financiamento das indústrias químicas”, disse Alexandre.



O pesquisador da ENSP/Fiocruz, Marcelo Firpo, observou que o capitalismo globalizado produz modelos que geram injustiça ambiental. “O agronegócio faz mal à saúde, pois é baseado em monoculturas, que ocupam grandes extensões de terra e, acima de tudo, transformam a natureza. Toda monocultura é opressora e inimiga da vida. Ela aprisiona a natureza e impede que ela se manifeste de forma natural. Agrotóxico mata e agronegócio também mata”, afirmou, acrescentando: “Mas se é tão ruim, por que a agroindústria é tão poderosa e continua a crescer? Porque tem muito poder econômico, gera muita riqueza e porque o Brasil tem se transformado em um grande celeiro exportador de alimentos”.



Denis Monteiro, da Articulação Nacional de Agroecologia, lembrou ainda que o modelo atual de agronegócio e uso de agrotóxicos é subsidiado quando o Estado perdoa a dívida dos grandes produtores rurais. “Portanto, quem financia é o Estado brasileiro, quem paga a conta somos nós”. José Paulo observou que a agroindústria brasileira é cada vez mais forte e que a bancada ruralista no Congresso Nacional triplicou na última eleição. “O agronegócio se constitui também como um grande hidronegócio, que consome 70% da água doce que o Brasil consome”, informou.



Firpo destacou que, enquanto o Brasil está em uma curva ascendente de uso de agrotóxicos, em outros países esse uso vem diminuindo. “E não só nos países ricos, mas também nos países em desenvolvimento. Mas no Brasil a bancada ruralista é hegemônica e poderosa”, disse.



Questionados pela plateia sobre a atuação da Vigilância em Saúde para o trabalhador do campo, os debatedores observaram que essa questão é considerada um impasse, devido à impossibilidade de um uso seguro dos agrotóxicos. “Como vamos dizer quais são os equipamentos de proteção que os agricultores têm que usar para aplicar os agrotóxicos, se somos contra o uso deles?”, questionou Alexandre. Firpo completou: “Há uma posição radical que não existe um uso seguro dos agrotóxicos, mas por outro lado, existe uma massa de trabalhadores expostos e isso precisa ser discutido”.



Agroecologia



A agroecologia foi apontada pelos debatedores como uma alternativa para a produção de alimentos sem o uso de agrotóxicos. “Se a humanidade foi à lua, fez aviões, por que não podemos produzir comida sem veneno? Não é uma questão técnica, é uma questão política. É claro que é possível produzir sem agrotóxicos. Há uma série de experiências que mostram que a agricultura orgânica é capaz de produzir em grande quantidade, mas não com monocultura e sim com diversidade”, disse Denis.



Para Denis, a agroecologia pode ser entendida como um movimento social, mas também como uma ciência que utiliza o conhecimento dos agricultores. Ele lembrou que a agricultura saudável, sem o uso de insumos químicos, já é praticada por muitos agricultores. “A produtividade da agroecologia é superior aos sistemas convencionais, mas é um sistema de produção diversificado, não tem monocultura. Na agroecologia, os custos são cada vez menores e a produtividade, cada vez maior. Já nos sistemas convencionais, o custo aumenta porque o ecossistema está cada vez mais degradado e precisa de mais insumos. A agroecologia também exige mais trabalho manual que a produção convencional, que substituiu o trabalho humano por máquinas”, explicou.



Ciclo de debates



O Ciclo de Debates sobre a Rio + 20 terá continuidade no dia 12 de setembro, às 14 horas, com a exibição do filme ‘O veneno nosso de cada dia’, da diretora francesa Marie-Monique Robi, que também dirigiu o filme ‘O mundo segundo a Monsanto’.



A exibição será no Auditório Joaquim Alberto Cardoso de Melo, na EPSJV, seguido de um debate com Marie-Monique e o cineasta Silvio Tendler, diretor do filme ‘O veneno está na mesa’. O evento é aberto a participação de todos, além de ser transmitido em tempo real pelo site www.epsjv.fiocruz.br. Não é necessário fazer inscrição prévia.