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Formação integrada para trabalhadores

Experiências apresentadas pela EPSJV marcam posicionamento político no 3º Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica
Redação - EPSJV/Fiocruz | 11/06/2015 08h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h46

Organizadora de três mesas de debates no 3º Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) apresentou no evento suas diferentes formas de fazer educação profissional em saúde de maneira integrada. As salas das atividades promovidas pela Escola ficaram sempre cheias e foram sempre marcadas por um debate crítico. Participaram do evento, o diretor da Escola Politécnica, Paulo César de Castro Ribeiro; as vice-diretoras da EPSJV, Páulea Zaquini (Ensino e Informação), e Marcela Pronko (Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico). Também participaram oito professores-pesquisadores e equipes de jornalismo da EPSJV e da Rede de Escolas Técnicas do SUS (RET-SUS). A Escola ainda convidou Maram Mané, diretora da Escola Nacional de Saúde de Guiné Bissau, e Dalton Luiz Menezes, professor do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), para participarem das mesas organizadas pela EPSJV.

Na mesa “Estratégias curriculares para a formação integral de trabalhadores técnicos de nível médio”, professores-pesquisadores da EPSJV apresentaram e debateram quatro experiências, de componentes, cursos e áreas diferentes, que expressam o esforço coletivo da Escola na defesa do princípio da integração. A primeira delas foi a Introdução à Educação Politécnica (IEP), componente curricular que atravessa todo o curso técnico integrado ao ensino médio oferecido pela Escola e está estruturado a partir de quatro eixos teóricos: trabalho, política, ciência e saúde. A IEP prevê também a construção de um Trabalho de Integração (TI), que resulta de um esforço de pesquisa e iniciação científica realizado pelos alunos ao longo de todo o ano, e que cada aluno produza um portifólio, com suas reflexões sobre as discussões. Outra iniciativa apresentada foi a oficina de leitura e produção textual, que integra diferentes cursos da EPSJV, de várias modalidades. Na oficina, os alunos têm o texto como objeto de estudo, que passa a ser entendido como espaço de pesquisa e de autoria.

Outra experiência apresentada foi o eixo temático Práxis de Gestão em Saúde, introduzido recentemente na grade curricular do Curso Técnico de Gerência em Saúde Integrado ao Ensino Médio e que é um componente desenvolvido do segundo ao quarto ano do curso, culminando com uma relação próxima, mas independente, com a prática de estágio. A quarta experiência foi o Curso Técnico de Agente Comunitário de Saúde que a EPSJV desenvolve há sete anos, buscando uma formação integral desses profissionais. O curso é organizado em itinerários formativos e é voltado para trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS) que já cursaram o ensino médio, mas nem por isso o currículo deixa de ser integrado, articulando as dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura.

Durante o debate, as experiências apresentadas pela Escola foram utilizadas como exemplo do que se pode fazer de diferente em relação à política e à concepção de educação profissional. Direcionando a crítica ao Pronatec, que tem promovido muito mais matrículas de Formação Inicial e Continuada (FIC) do que técnicos, um professor do Instituto Federal Fluminense (IFF) de Cabo Frio, por exemplo, propôs a discussão sobre se é possível promover esse tipo de formação defendida pela EPSJV com cursos rápidos. Uma trabalhadora da Secretaria de Educação de Pernambuco, que também estava na plateia, considerou os cursos e componentes apresentados como mostra de que a educação profissional não precisa ser pautada pelo mercado. Segundo ela, as experiências ali discutidas mostram que é possível ser criativo de forma alternativa, trabalhando com a arte, por exemplo, sem se render à atração do discurso do “empreendedorismo”. “Tem ‘inovação’? Tem ‘didática diferenciada’? Tem ‘metodologias diversas’?”, perguntou, referindo-se à experiência da EPSJV e destacando criticamente o quanto essas ideias têm sido tratadas como uma panaceia para as mudanças educacionais.

Um professor do Instituto Federal Riograndense, que já conhecia um pouco do funcionamento da EPSJV, destacou a importância da organização da Escola em laboratórios e o reconhecimento dos trabalhadores como professores-pesquisadores, numa estrutura que, segundo ele, facilitaria o desenvolvimento de pesquisas além da sala de aula. Ele ressaltou ainda a importância de uma aproximação com a EPSJV num momento em que, com a expansão da rede, os Institutos Federais estão desenvolvendo cada vez mais cursos da área da saúde.

Em outra mesa promovida pela EPSJV, “A formação docente na Educação Profissional em Saúde: desafios e possibilidades”, uma professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) afirmou que princípios como emancipação e politecnia devem estar presentes na construção da nova identidade dos IFs. “Não é fácil discutir outras perspectivas, mas isso não quer dizer que os IFs não estejam pensando de forma diferenciada. Para mobilizar essa inquietação que fica abafada diante desse ‘empreendedorismo’ e ‘inovação’ é preciso unir forças”.

Nesta mesa, a EPSJV apresentou três experiências de cursos de especialização voltados para a formação de docentes na educação profissional, incluindo as lutas dos trabalhadores que participaram desses cursos. Foram apresentados o Curso de Especialização em Educação Profissional em Saúde, voltado para professores e dirigentes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (Palop), realizado em 2011; o Curso de Especialização em Trabalho, Educação e Movimentos Sociais, uma demanda do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) à EPSJV e que está em sua segunda turma, com militantes, dirigentes e responsáveis pela educação e formação do Movimento; e o Curso de Especialização em Docência na Educação e Trabalho na Saúde.

Trabalho como princípio educativo

Na mesa-redonda "Educação profissional: em torno do trabalho como princípio educativo", também promovida pela EPSJV no Fórum, a Escola destacou que a discussão sobre o princípio educativo do trabalho tem centralidade na disputa sobre os rumos da educação profissional no Brasil, que vem ganhando papel de destaque principalmente a partir da criação do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), em 2011. A EPSJV também fez uma análise das políticas voltadas para a educação profissional na atualidade, chamando atenção para a necessidade de uma retomada de perspectivas de construção de pedagogias emancipadoras, e apresentou a experiência da Escola, criada em 1985, tendo os princípios formulados por Marx e Gramsci como diretriz, e falou sobre as dificuldades de se trabalhar nessa perspectiva no interior do capitalismo.

Para a vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da EPSJV, Marcela Pronko, a participação da Escola no Fórum foi muito importante, principalmente pela grande quantidade de pessoas que assistiram às mesas promovidas pela Escola Politécnica, mas também pela atitude delas que, de certa forma, se sentiram refletidas em uma posição que não é a posição do evento como um todo. “A Escola cumpriu o papel de pensar outra possibilidade de educação profissional, particularmente a educação profissional em saúde. Fez debates que não são os debates centrais, destacados pelos organizadores do evento, mas são centrais para nós a partir de uma perspectiva de formação emancipatória para a classe trabalhadora. Para nós foi muito importante trazer outra visão de educação profissional em saúde que não é a hegemônica”, destacou Marcela.