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Formação para trabalhadores

EPSJV inicia primeira turma de Mestrado Profissional em Educação Profissional em Saúde para trabalhadores das ETSUS do Nordeste
Talita Rodrigues - EPSJV/Fiocruz | 03/09/2014 08h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h46

 A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) promoveu no dia 1º de setembro a aula inaugural do curso de Mestrado Profissional em Educação Profissional em Saúde para trabalhadores das Escolas Técnicas do Sistema Único de Saúde (ETSUS) do Nordeste. A Turma RET-SUS Nordeste é formada por 21 trabalhadores de ETSUS de nove estados nordestinos. “A formação de trabalhadores docentes é muito importante para fortalecer e consolidar o SUS no país”, destacou a vice-diretora de Ensino e Informação da EPSJV, Páulea Zaquini, durante a abertura do curso, lembrando que a oferta do mestrado para uma turma de trabalhadores das ETSUS é um projeto antigo da EPSJV, que agora se concretizou.

O curso voltado para os trabalhadores das ETSUS Nordeste é um projeto piloto para a oferta do mestrado em nível nacional. “Os alunos dessa primeira turma terão o papel de levar para os outros de suas escolas as novas ferramentas que irão adquirir aqui. Vamos medir qual vai ser o impacto dessa formação nas escolas participantes e desdobrar essa ação para outras formações para as escolas técnicas”, ressaltou Aldiney Doreto, coordenador-geral de Ações Técnicas em Educação na Saúde, do Departamento de Gestão da Educação na Saúde da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde (Deges/Sgtes/MS), que também participou da mesa de abertura do curso, ao lado do diretor da EPSJV, Paulo César de Castro Ribeiro; do representante da Vice-presidência Ensino e Informação da Fiocruz, Milton Moraes; da coordenadora do Programa de Pós-graduação da EPSJV, Carla Martins; e do coordenador do curso, Júlio Lima.

O professor Fernando Antônio Cavalcanti Dias, que há dez anos leciona na Escola de Saúde Pública do Ceará, é um dos alunos do curso e disse que sua participação no mestrado vai qualificar o quadro técnico da escola, além de permitir a interação com os profissionais de outros estados. “Acho que o curso vai nos ajudar a romper a temática da dualidade. Já trabalhamos na perspectiva não tecnicista e em construir uma escola que rompa com a concepção de escola para dirigente e escola para trabalhador”, disse Fernando.

A assistente social Iara Saldanha, que trabalha como docente e na produção de material didático na Escola de Formação Técnica em Saúde Professor Jorge Novis, em Salvador (BA), disse que o curso será uma oportunidade de ampliar os conhecimentos dos profissionais da escola, que tem três alunos na Turma RET-SUS Nordeste. “O mestrado vai possibilitar um preparo maior para fazermos pesquisa, que é uma área estratégica para a escola, além de trazer conhecimentos fundamentais para os docentes”, disse Iara, que trabalha na ETSUS Bahia desde 2008.

O mestrado será realizado na modalidade concentração e dispersão, com aulas na sede da EPSJV, no Rio de Janeiro. Cada bloco de aulas terá 15 dias de duração, seguido de um período de dispersão, no qual os trabalhadores voltam para suas escolas e realizam os trabalhos propostos durante o período de concentração. A previsão é que o curso seja concluído em 2016, quando os alunos apresentarão suas dissertações.

As despesas com deslocamento e diárias dos alunos da Turma RET-SUS Nordeste, durante o período do curso, serão custeadas com recursos provenientes da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde.

Aula Inaugural

 “A dualidade estrutural e as manifestações do capitalismo contemporâneo” foi o tema da aula inaugural do mestrado, apresentada pela professora Acácia Kuenzer, da Universidade Feevale. “A dualidade se origina na sociedade capitalista e na propriedade dos meios de produção. É ilusório pensar que vamos superar a dualidade pelas vias da escola. Ela só vai ser superada quando o capitalismo for superado. Nenhum projeto pedagógico será totalmente libertário e o imobilismo só favorece a burguesia”, afirmou a professora, acrescentando que o regime de acumulação flexível aprofunda a dualidade estrutural e as diferenças de classe, em vez de atenuá-las. “Há uma escola para o trabalhador e outra para formar dirigentes. Foi ampliada a oferta de cursos da rede privada para a classe trabalhadora, mas não com qualidade. É uma escola para pobres e outra para a burguesia”, pontuou.

Acácia destacou que em relação à educação o que se observa é a dualidade invertida, em que se amplia o acesso ao ensino, mas não aumenta a taxa de empregabilidade. “Há uma pequena oferta para a classe trabalhadora do conhecimento científico e tecnológico. Os pobres fazem a educação geral e a burguesia vai para a escola de conteúdo científico e tecnológico. É uma inclusão excludente A burguesia disponibiliza o que não lhe serve mais. A escola não é do trabalhador, é da burguesia, porque a burguesia garante o ensino médio em escolas de ciência e tecnologia, não de formação geral”, disse a professora, que completou: “A dualidade só será superada quando se superar a contradição entre a propriedade dos meios de produção e da força de trabalho”.

A professora falou também sobre o avanço da tecnologia nos processos produtivos, que faz com que os postos de trabalho sejam reduzidos e que o trabalhador tenha que saber como operar uma máquina e não saber como realizar o trabalho. “Em alguns casos, o que o trabalhador faz hoje é monitorar uma tela de computador. Mas não há como substituir o trabalho humano quando acontecem panes, nesse caso, só o homem pode atuar”, ressaltou Acácia.

Durante cinco anos, a professora pesquisou a cadeia produtiva de couro e calçados do Vale do Rio dos Sinos, na região metropolitana de Porto Alegre (RS), que integra o trabalho manual e o automatizado em seu processo de produção. Na pesquisa, ela pode constatar como a cadeia de produção explora o trabalho humano. Para fazer o sapato com o menor custo, as indústrias tiram a diferença no preço da força de trabalho. “Quem faz o trabalho mais rápido e mais barato, leva a encomenda. Essa cadeia produtiva é de uma desumanidade e de uma exploração do humano porque se não tiver isso, a fábrica não é competitiva no mercado internacional e se destrói a cadeia produtiva de toda a região que depende disso”, observou.