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Saber Protege: Saúde e prevenção de Epidemia e Infecções Sexualmente Transmissíveis

Em parceria com MST, Escola Politécnica inicia ações do projeto de pesquisa que resultará em um curso de formação sobre a saúde da população LGBTI+ do campo
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 22/03/2022 12h47 - Atualizado em 01/07/2022 09h40

A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) realizou, nos dias 17 e 20 de março, a reunião de planejamento do projeto “Saber Protege: Saúde e prevenção de Epidemia e Infecções Sexualmente Transmissíveis - IST/HIV no campo”, no Centro de Formação Frei Humberto, em Fortaleza (CE). No encontro, estiveram presentes representantes do coletivo LGBT do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de 19 estados do país. A reunião é uma das ações da pesquisa, que promoverá, em agosto de 2022, a capacitação de LGBTI+, residentes no campo, em um curso sobre saúde e prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (IST/HIV). Também será realizado um levantamento de informações por meio de formulário eletrônico e a organização de grupos focais com sujeitos que se predisporem a participar dessa segunda etapa da pesquisa, bem como uma campanha de prevenção às IST/HIV, direcionada principalmente à juventude residente no campo.

No evento, a EPSJV apresentou a pesquisa e levantou temas de interesse para a formação através de dinâmicas realizadas com os participantes. No encontro, também foram realizadas mesas de conversa, que debateram diferentes temas, como os desafios do MST e da luta LGBTI+ na conjuntura atual; balanço e projeção de ações do Coletivo Nacional LGBT Sem Terra; e casos de violência contra LGBTI+ Sem Terra, dentre outros.

“Através de questões geradoras levantadas nesse encontro, pudemos colher informações sobre temáticas importantes para realizar o curso de formação sobre a saúde da população LGBTI+ do campo para 60 educandos, a fim de atuarem como educadores populares em suas comunidades”, afirmou a professora-pesquisadora da EPSJV, Anakeila Stauffer, explicando que, inicialmente, os participantes responderam individualmente a tais perguntas e, em seguida, houve discussão nos grupos regionais que foram apresentadas numa plenária. Anakeila coordena o projeto juntamente com a também professora-pesquisadora da EPSJV, Daiana Crús, e os representantes do MST Alessandro Mariano, Flávia Teresa e Thaís Paz.

O objetivo, segundo Anakeila, é que o curso, dentre outras questões relevantes, possibilite à população do campo o conhecimento da Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais de modo a tornar visíveis as demandas e necessidades da população. “Durante as discussões coletivas, foi possível debater e pensar em estratégias para se combater a LGBTfobia no campo, avaliar as ações realizadas por esse Coletivo durante a pandemia e projetar ações para os próximos dois anos”, contou.

Para Flávia Teresa, também coordenadora desse projeto pelo MST, o processo de formação e o estudo são necessários para que todos possam conhecer seus corpos. Para ela, ter uma formação para entender o Sistema Único de Saúde e ter acesso a estudos que falam sobre doenças e prevenção é muito importante. “É essencial para mim, enquanto mulher negra, lésbica, nordestina e que faço parte de um território do campo, poder voltar ao meu território e falar com as companheiras no trabalho dos acampamentos e assentamentos como podemos acessar a política em nossos territórios”, ressaltou.

Para Wesley Lima, um dos participantes das oficinas, a atividade apresentou, de maneira muito concreta para os territórios de reforma agrária, a necessidade de se avançar na construção de um planejamento prático e coeso sobre o tema da saúde e as diversas dimensões que isso envolve. “Além disso, precisamos pensar na inserção da população LGBTI+ nesses territórios, uma população totalmente inviabilizada na construção histórica do que conhecemos enquanto campo brasileiro. Precisamos de uma sistematização e elaboração coletiva sobre esses territórios, o tema da saúde, as sexualidades e a construção da luta política”, apontou.

No encontro, houve ainda o pré-lançamento do Dicionário de Agroecologia e Educação, organizado pela EPSJV, em parceria com o MST e o apoio da Presidência da Fiocruz.

A Pesquisa

Além da formação, os produtos da pesquisa incluem a produção de um relatório analítico diagnóstico que delineie o perfil da população LGBTI+ do campo apontando as necessidades relativas à sua saúde, a fim de subsidiar a formulação de políticas públicas de saúde para essa população; a constituição de materiais educativos e informativos que contribuam para o esclarecimento da população do campo sobre a questão da saúde da população LGBTI+; além da produção de um artigo científico que possibilite o aprofundamento e compartilhamento das questões abordadas na pesquisa.

A pesquisa será realizada em duas etapas. Na primeira, será realizada a coleta de informações, por meio de um questionário diagnóstico virtual não-presencial, com objetivo de reunir informações sobre as condições de saúde e vida da população LGBTI+ do campo, envolvendo elementos como acesso a direitos sociais (educação, terra e moradia, cultura, lazer, religiosidade e espaços de sociabilidade, serviços de saúde), sobre a violência LGBTfóbica e sobre atuação LGBTI+ no MST. “Tais determinantes interferem diretamente nas necessidades e no acesso aos serviços de saúde dos que necessitam”, destacou Anakeila.

Em um segundo momento, serão definidos grupos focais com o objetivo de identificar percepções, ideias, atitudes e sentimentos dos participantes da pesquisa sobre as questões que se relacionam à saúde da população LGBT no campo. A ideia é que essa fase aconteça em agosto, juntamente com o curso de formação.

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A obra, que reúne 106 verbetes, foi elaborada em parceria com a editora Expressão Popular e o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra