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Saúde é luta

Aula pública promovida pela EPSJV discutiu a saúde dos trabalhadores ao longo dos anos, os desafios diários enfrentados por profissionais da saúde e as lutas travadas em busca de direitos
Bianca Bezerra - EPSJV/Fiocruz | 19/12/2019 14h19 - Atualizado em 01/07/2022 09h43
Foto: Bianca Bezerra

“Saúde é luta!”. Foi com essas palavras que a doutora em Saúde Pública e professora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC/UFRJ) Regina Simões Barbosa finalizou sua fala na aula pública integrada sobre ‘A Saúde dos Trabalhadores de Saúde: sofrimento, lutas e resistência”, promovida pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz). O evento, que ocorreu na última quarta-feira (18), no auditório da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz), comemorou a formatura dos cursos de Aperfeiçoamento em Educação Popular em Saúde, Qualificação Profissional no Cuidado à Pessoa Idosa e Qualificação Profissional em Saúde Mental, além de marcar o encerramento do ano letivo do Curso Técnico em Agente Comunitário de Saúde.

A professora trouxe para a discussão um contexto histórico sobre a saúde pública no país, abordando questões como o modelo de expansão do Sistema Único de Saúde (SUS), os avanços e retrocessos desse sistema, além da importância da luta e resistência da classe trabalhadora da área de saúde ao longo dos anos e da participação pioneira desses profissionais na construção de políticas públicas.

“Estamos vivendo um momento de desmonte e é preciso resistência e organização para enfrentá-lo”, explicou. Para ela, a última década representa tempos difíceis no cenário da saúde em todo o país. As dificuldades encontradas hoje pelos profissionais dessa área são fatores que favorecem o adoecimento, principalmente mental, dos trabalhadores. “A precarização dos vínculos e das carreiras, os salários e as jornadas de trabalho desiguais provocam uma competição entre os trabalhadores, que causa um assédio moral, sofrimento e insegurança no trabalho”, explica Regina.

A mesa foi conduzida pela professora-pesquisadora da EPSJV/Fiocruz, Mariana Nogueira, e contou também com a participação da presidente da Associação dos Cuidadores do Estado do Rio de Janeiro (Acierj), Ana Gilda Soares dos Santos.

“O SUS é universal e devemos lutar muito por ele”, refletiu Ana Gilda, que direcionou os olhares para suas histórias de participação ativa nos movimentos e atos em prol da categoria em que atua, e destacou como é importante que os trabalhadores ocupem os espaços públicos e lutem pelos seus direitos. “O lugar da gente é onde a gente quiser estar”, citou a cuidadora. Ana Gilda falou ainda sobre os desafios diários enfrentados pelos trabalhadores no âmbito da saúde pública. Dentre os problemas citados estariam os atrasos nos salários dos funcionários, a má gestão dos órgãos responsáveis e a falta de regulamentação de algumas categorias, como por exemplo, a de cuidadores de idosos.

Para finalizar, ressaltou a necessidade de uma maior qualificação dos agentes de saúde e incentivou os alunos e formandos da EPSJV presentes a buscarem uma educação permanente. “Eu acho muito importante essa educação permanente. Vocês precisam lotar outros espaços e estarem sempre buscando novos conhecimentos. Porque só quando nós estamos juntos assim é que nós conseguimos discutir e coletar experiências para avançar e pensar junto”, disse.

Já Mariana Nogueira, além de criticar a conjuntura da saúde pública, deu voz para a luta dos trabalhadores, que não é recente. Segundo ela, o papel desses agentes é fundamental para a sociedade e é preciso ter reconhecimento. Para Mariana, é necessário também continuar reivindicando uma maior ação do Estado no cumprimento de responsabilidades deferidas a ele. Com base nisso, um dos caminhos para contornar esse cenário seria a união dos trabalhadores. “É preciso lembrar que nós, enquanto sujeitos coletivos, somos muito mais do que uma soma de indivíduos resistentes. Somos uma soma de sujeitos políticos que entendem que, como educadores, mulheres e trabalhadores da área da saúde, vivenciamos as mesmas opressões e por isso precisamos nos unir para resistir coletivamente”, explicou Mariana.

Ainda durante a formatura, alunos e formandos expressaram palavras de gratidão, aprendizado e que semeiam esperança diante da luta diária travada por eles. “Esse ano está sendo atravessado pela precarização de diversos setores, inclusive o da saúde, e nós estamos sentindo na pele todo esse processo porque faz parte do nosso cotidiano. Temos aprendido aqui nesses cursos que nós temos direitos e precisamos nos posicionar porque entendemos que somos seres políticos e que fazemos política no nosso dia a dia. Que essa certificação de vocês hoje, e a nossa daqui a um ano e meio, não seja apenas um fim em si mesma, mas que sempre nos impulsione na busca pelo nosso direito de igualdade”, declarou uma das oradoras e aluna do Curso Técnico em Agente Comunitário de Saúde, Ana Iara Valeriano.