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Seminário começa com balanço do movimento estudantil

Primeiro dia de atividades do seminário comemorativo dos 25 anos da EPSJV também contou com homenagem aos trabalhadores, exibição de vídeo e atividades culturais
Leila Leal - EPSJV/Fiocruz | 17/08/2010 08h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h47


Debate sobre Movimento EstudantilOs estudantes e trabalhadores da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) foram os protagonistas do primeiro dia do Seminário Trabalho, Educação e Saúde – 25 anos de Formação Politécnica no SUS, comemorativo de seu aniversário. A primeira mesa-redonda do evento iniciado ontem (16/8) analisou os últimos 25 anos no movimento estudantil e problematizou a atual conjuntura da organização da juventude, sobretudo dos estudantes de nível médio. O dia, que ainda foi marcado por uma homenagem aos trabalhadores da EPSJV e pela exibição do vídeo ‘Utopia do Politécnico’, produzido pelo Núcleo de Tecnologias Educacionais da Escola (Nuted/EPSJV) e que trata da formação politécnica sob o ponto de vista dos estudantes, foi encerrado com um sarau dos alunos e uma exposição de fotos sobre a EPSJV.



 



Antes da mesa-redonda sobre o movimento estudantil, a mesa de abertura da semana deu o tom das atividades que se seguirão até a próxima quinta-feira (19/8): a comemoração da trajetória de 25 anos de luta pela saúde e pela educação públicas somada ao balanço das conquistas e desafios futuros nas áreas de atuação da escola, norteados pela perspectiva de transformação social. Composta por Isabel Brasil, diretora da EPSJV/Fiocruz, Maurício Monken, vice-diretor de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico, Márcia Valéria Morosini, vice-diretora de Ensino e Informação, Clarice Ferreira, representante do Grêmio Estudantil dos cursos técnicos integrados ao ensino médio, Estevão Garcia, representante dos estudantes de pós-graduação, e Telma Frutuoso, representante dos trabalhadores da EPSJV, a mesa de abertura foi marcada pela reafirmação dos pilares que embasaram a construção da Escola: a formação de técnicos em saúde a partir de uma perspectiva crítica. “Estamos provando que é possível ensinar saúde pública para jovens. O nosso diferencial é a formação ampla, que vai para além do currículo de sala de aula. Representamos um projeto crítico no campo da educação profissional em saúde”, apontou Clarice Ferreira.



 



Lutas específicas e gerais: politizando o debate



 



A mesa-redonda ‘Movimento estudantil no Brasil: balanço dos últimos 25 anos’, foi composta por Ramón Chaves, estudante do 3° ano do curso técnico de Gerência em Saúde, Mariana Siracusa, do 3° ano curso técnico de Análises Clínicas, Jorge Luís Silva, do 2° ano curso técnico de Gerência em Saúde, e Isabel Brasil. Iniciada uma análise histórica do movimento estudantil e sua intervenção em diferentes conjunturas do país nas últimas décadas, a mesa tratou especialmente da avaliação das atuais perspectivas e desafios do movimento estudantil secundarista, desde sua atuação mais específica nas escolas e no dia-a-dia dos estudantes até sua intervenção em temas mais amplos, através da atuação conjunta com outros movimentos sociais.



 



Isabel Brasil lembrou em sua fala que a conjuntura dos anos 1980, década de fundação da EPSJV, era marcada pelo processo de reconstrução do movimento estudantil secundarista após os anos de repressão mais intensa da ditadura civil-militar aos movimentos organizados da sociedade. A diretora da EPSJV destacou que essa reconstrução, iniciada na segunda metade dos anos 1970, partia das escolas em que existiam os chamados ‘centros cívicos’, espaços ocupados pelos estudantes para a construção de suas mobilizações em favor da criação de grêmios estudantis livres e autônomos – que só foram plenamente reconquistados em 1985. Segundo Isabel, esse processo foi fundamental para a consolidação do movimento estudantil secundarista no Brasil. Pensando nas perspectivas de luta do movimento estudantil atualmente, ela lançou duas questões para o debate: a problematização da relação com as organizações e partidos políticos, historicamente presente no movimento estudantil, e a necessidade de apontamento dos problemas, pautas e questões que mobilizam os estudantes na atual conjuntura.



 



A primeira intervenção dos estudantes começou com uma provocação. Jorge Luís perguntou aos estudantes presentes sobre sua experiência com o movimento estudantil e a participação em passeatas. Muitos questionaram a forma de organização dos atos públicos, a falta de clareza dos estudantes em relação ao que está sendo reivindicado e às propostas dos partidos políticos que participam das manifestações, além da falta de uma preparação anterior nas escolas. As críticas dos estudantes da EPSJV também consideraram a ausência de perspectiva de construção das mobilizações em conjunto com os trabalhadores. A partir dos problemas apontados, muitos estudantes parabenizaram a atuação do Grêmio Estudantil da EPSJV por realizar atividades preparatórias às manifestações e destacar a necessidade de os estudantes se unificarem a outros movimentos sociais.



 



Mariana Siracusa, que reforçou a crítica à ausência de entidades representativas municipais e nacionais dos estudantes no dia-a-dia das escolas para a construção das mobilizações junto aos grêmios, falou sobre as lutas mais recentes do Grêmio da EPSJV. “A função de um grêmio é transformar as questões cotidianas em lutas políticas mais gerais, partindo de problemas específicos para questionar temas mais amplos”, disse. Segundo ela, a atual conjuntura de desarticulação do movimento estudantil dificulta que isso seja feito. Apontando a necessidade de envolvimento coletivo para a superação desses problemas, Mariana destacou as oportunidades de reflexão construídas na EPSJV: “Que escola para suas atividades por uma semana para fazer um seminário como esse, que problematiza questões do mundo? Aqui temos espaço para fazermos discussões muito importantes”, avaliou.



 



Já Ramón Chaves apontou em sua intervenção a necessidade de avaliação crítica da realidade para a superação dos problemas que estão colocados atualmente no movimento estudantil. “Pra nós, que vivemos a realidade do movimento estudantil, é muito fácil falar sobre ele e até mesmo criticar. O difícil é analisá-lo a partir de um método que não separe a teoria da prática. Não basta identificarmos os problemas, temos que conseguir transformar essa situação”, disse. Segundo o estudante, o movimento estudantil secundarista precisa avançar, hoje, no ‘trabalho de base’ nas escolas: organizar discussões junto aos estudantes e preparar as mobilizações com debates políticos. Ramón destacou ainda a experiência de construção dos indivíduos como sujeitos críticos, vivida na EPSJV também a partir das atividades de pesquisa: “A noção de pesquisa como um princípio educativo, que constitui esta Escola, é um grande diferencial. Isso nos dá a oportunidade de investigarmos a realidade e não apenas a reproduzirmos, o que faz muita diferença para nossa intervenção na sociedade”, disse. Lembrando que a realidade é permeada por contradições, que se expressam de várias formas na sociedade, o estudante apontou que esse processo também se reflete na EPSJV: “Aqui também temos contradições, que são inerentes à realidade. E isso não é uma coisa ruim. Temos que atuar  a partir dessas contradições para transformar a realidade”.



 



As intervenções da platéia destacaram a importância da organização e da mobilização estudantil na atual conjuntura. A atividade foi encerrada com uma homenagem aos integrantes da mesa e com a entrega de uma placa ao Grêmio Estudantil da EPSJV. As atividades do Seminário Trabalho, Educação e Saúde – 25 anos de Formação Politécnica no SUS continuam nesta terça-feira, com transmissão em tempo real e cobertura no site da EPSJV. Acompanhe!



 



Veja as fotos do sarau