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Arte com cinema

No segundo dia da ‘Semana’, após a apresentação do filme ‘Doutores da Alegria’, aconteceu o debate com Morgana Masetti, coordenadora do núcleo de formação e pesquisa do Grupo, e com Flavia Reis, coordenadora artística.

Angélica Fonseca, professora e pesquisadora da EPSJV, abriu o debate comentando sobre a intensidade de reflexão dos atores, que, além de ‘fazer o trabalho’, ‘pensam o trabalho’.

O filme mostra que o trabalho do ‘Doutores’ vai muito além de uma simples ‘palhaçada’.Respondendo às perguntas sobre como um trabalho de ‘alegria’ consegue ser inserido no contexto triste de doença, Flávia explicou que o Grupo trabalha com o ‘lado saudável’ da criança. Morgana completou dizendo que o importante para lidar com a dor é a construção de uma relação de qualidade. Ela reconheceu que o ator fica impactado pela dor, mas disse que o personagem do palhaço contorna o clima pesado, construindo a relação de alegria.

As debatedoras explicaram aos ouvintes que o trabalho dentro dos hospitais demanda formação e que precisa ser realizado de forma muito integrada com toda a equipe de profissionais de saúde. Isso porque, além do trabalho direto com as crianças doentes, o Objetivo do Grupo é ajudar na reestruturação institucional, o que envolve mudança de comportamento e humanização por parte da equipe. Segundo as debatedoras, atualmente o Grupo restringiu sua atuação em hospitais públicos, porque eles julgam que nesses espaços não há trabalho de humanização. O trabalho do ‘Doutores da Alegria’ é marcado pela ação incondicional de alegrar todo e qualquer paciente, independentemente do estado da doença. No filme, há o relato da atuação do Grupo até com pacientes inconscientes, internadas em UTIs. O Grupo lembrou, inclusive, uma ocasião em que uma criança tida como ‘inconsciente’ manifestou reação após a apresentação do ‘Doutores’.

O filme ‘Pro dia nascer feliz’ foi projetado em duas sessões, uma para os alunos que estudam durante o dia e outra para as turmas do turno da noite. Em ambas, o debate contou com a presença de Gabriela Weeks, assistente de direção e diretora de produção do documentário, e Deivison Douglas dos Reis, estudante de uma escola de Duque de Caxias (RJ), que foi um dos personagens do filme.

As discussões que aconteceram com os alunos dos cursos noturnos tocaram em alguns pontos polêmicos. O filme recebeu inclusive uma crítica por apresentar um “jogo de forças” entre alunos e professores — “duas vítimas” —, sem tratar do papel do Estado na situação da educação brasileira. Também gerou debate entre os alunos a pergunta provocativa de Cláudio Gomes, coordenador da mesa e professor-pesquisador da EPSJV, sobre o papel e os limites da educação nas mudanças sociais. Em seguida, a conversa foi orientada por uma frase repetida algumas vezes por Deivison. “Eu quero fazer diferença”, disse, gerando uma discussão sobre a relação entre atitudes individuais e ações políticas.

A exibição de ‘Narradores de Javé’, de Eliane Caffé, que aconteceu na manhã do terceiro dia do Arte e Trabalho, gerou reflexões sobre as formas de expressão e linguagem que o homem desenvolve diante das distintas situações em que se insere ou dos problemas com os quais se depara. O debate contou com a participação da escritora Nilma Lacerda e da bordadeira Marilú Dumont.

Autora de diversos livros como ‘As Fatias do Mundo’, ‘Pena de Ganso’ e ‘Histórias de Maloca Antiga’, Nilma Lacerda aproveitou o filme para explicar que a arte de escrever exige grande sensibilidade e esforço físico. Além disso, comentou a importância da escrita no desenvolvimento humano. “A vida e o modo de viver mudam. As histórias só não se perdem se forem escritas. A escrita é um bem simbólico da humanidade e, como tal, todos devem ter acesso”, defendeu. Ao ser questionada sobre a necessidade da formação em literatura para tornar-se escritor, Nilma explicou que, na verdade, o mais importante é ler muito e ter contato com outras formas de arte, como dança, música e pintura.“Tenham menos pudor, mas sejam rigorosos”, aconselhou.

Em seguida, a bordadeira Marilú Dumont — que faz parte de uma família que há três gerações preocupa-se em valorizar e difundir essa atividade (o Grupo Matizes Dumont) — contou a história do bordado no Brasil e no mundo. Segundo ela, a arte chegou ao país através dos colonizadores e, no início, restringia-se às mãos femininas, mas hoje já tomou diferentes funções, sendo utilizado até em ilustrações de livros (inclusive nas obras de Nilma Lacerda), e nas artes visuais.

Já a apresentação do ilustrador Rui de Oliveira, que também é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, fez uma viagem entre importantes obras da literatura brasileira e mundial, demonstrando, por meio das ilustrações, o fantástico mundo dos livros infantis e de apresentações direcionadas aos jovens e adultos. Enquanto projetava alguns de seus trabalhos, o ilustrador, que possui cerca de 120 livros publicados, comentava as técnicas utilizadas, ‘as dores e as delícias’ de trabalhar com essa arte.

Rui comentou as ilustrações feitas em obras de autores renomados como Cora Rónai, Caio Fernando Abreu, Ana Maria Machado, Monteiro Lobato, Shakespeare, Joaquín Gutierrez e irmãos Grimm. Além disso, falou da dificuldade de trabalhar para crianças porque, na opinião dele, elas não gostam de desenhos puramente infantis, mas sim daqueles as façam viajar, criar suas próprias histórias. “Nada irrita mais uma criança do que ser tratada como criança”, afirmou.

Para Rui, nem todo livro é ‘ilustrável’. “Existem momentos em que a literatura atinge tal abstração que uma imagem poderia vulgarizar. É o momento de somente o autor agir. E o ilustrador deve ter essa percepção. Nem sempre a literatura precisa de imagens, assim como há imagens que não precisam de palavras”, explicou. E completou: “Às vezes o escritor se frustra porque pensa com metáforas literárias, mas o ilustrador pensa com metáforas visuais. A imagem é um prisma e não um espelho. O ilustrador deve ser democrático, aberto às possíveis leituras do seu texto”.

Rui de Oliveira encerrou a apresentação mostrando projetos que serão publicados em breve, como ‘As aventuras do João Sem-Fim’, ‘Romance sem Palavras’ e ‘A Formosa Princesa Megalona (editado por ele mesmo, já que nenhuma editora aceitou fazer em silk-screen, como desejava). Por fim, contou que começou a desenhar diante de sua profunda insatisfação com a vida e com a adolescência melancólica. Ele disse que o desenho foi uma espécie de escape. “E de certa forma ainda é”, completou.

Durante toda a ‘Semana’, foram exibidos ainda os filmes ‘O Corte’, ‘Ou Tudo ou Nada’ e ‘Estamira’, sempre seguidos de discussões entre convidados e público.

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