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EaD: Em que contextos? Em que medida?

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Ana Beatriz de Noronha - EPSJV/Fiocruz | 03/02/2011 09h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h46

Por sua própria natureza, de processo educativo no qual professor e estudante estão separados no espaço e geralmente também no tempo, a Educação a Distância (EaD) só pode existir na presença dos meios técnicos da comunicação. Sua história, no entanto, tem uma razão bastante específica, desde os seus primórdios: a necessidade de disseminar conhecimentos para um número crescente de pessoas.

Para alguns, como Cláudia Landim, em seu livro ‘Educação a Distância: algumas considerações’, ou Francisco Lobo Neto, pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, (EPSJV/Fiocruz), ela teria começado no século XVIII, mais precisamente em 1728, quando o jornal A Gazeta de Boston publicou o anúncio de um professor oferecendo um curso de taquigrafia por correspondência.

A partir daí, várias outras iniciativas surgiram, aliando os avanços proporcionados pelo desenvolvimento das tecnologias da comunicação a outros inúmeros fatores, como, por exemplo, o barateamento das tarifas postais, a popularização do rádio, cuja primeira ‘estação-estúdio’ foi criada em 1916, e a necessidade de capacitar em larga escala trabalhadores para a reconstrução social e econômica dos países europeus e dos Estados Unidos após a II Guerra Mundial.

Nesse sentido, os norte-americanos Michael Moore e Greg Kearsley, no livro ‘Distance Education: A Systems View’, dividem a história da EaD em três ciclos evolutivos, lembrando, no entanto, que, entre os ciclos, novos meios não substituem os anteriores, mas vão se incorporando aos demais para permitir a criação de novos modelos.

Segundo eles, o primeiro ciclo vai até 1970 e é marcado pelo estudo por correspondência, tendo como principal meio de comunicação os materiais impressos, geralmente um guia de estudo, com tarefas ou outros exercícios enviados pelo correio. O segundo, de 1970 a 1990, quando surgem as primeiras Universidades Abertas e começam a serem implementados cursos que utilizam, além do material impresso, transmissões por televisão aberta, rádio e fitas de áudio e vídeo, com interação por telefone, satélite e TV a cabo. Por fim, o terceiro ciclo, a partir de 1990, cuja marca são as redes de conferência por computador e as estações de trabalho multimídia.

E se há sempre algumas dúvidas quanto ao início da história moderna da EaD, uma das certezas é que gradativamente a modalidade vira objeto de interesse de especialistas e autoridades de educação. Em 1883, ao autorizar o Chatauqua Institute a conferir diplomas em cursos por correspondência, o estado de Nova Iorque dá credibilidade acadêmica ao ensino a distância.

Em 1938, é realizada, na cidade de Vitória, no Canadá, a Primeira Conferência Internacional sobre Educação por Correspondência e, aos poucos, com a ajuda das tecnologias de informação e comunicação (TIC), inúmeras iniciativas de EaD começam a ser implantadas em todo o mundo. Em nível secundário, é possível destacar a Hermods­NKI Skolen, na Suécia; a Rádio ECCA, na llhas Canárias; a Air Correspondence High School, na Coréia do Sul; a Telesecundária, no México; e a National Extension College, no Reino Unido. Em nível universitário, algumas das mais conhecidas são: a Open University, no Reino Unido; a FernUniversität, na Alemanha; a Indira Gandhi National Open University, na Índia; a Universidade Estatal a Distância, na Costa Rica; a Universidade Nacional Aberta, da Venezuela; Universidade Nacional de Educação a Distância, da Espanha; o Sistema de Educação a Distância, da Colômbia; a Universidade de Athabasca, no Canadá.

Mas... se, entre os especialistas, não há dúvidas de que a EaD depende da existência dos meios técnicos da comunicação, também há a certeza de que ela não pode se resumir a eles. Se a inovação pedagógica não acompanhar a inovação técnica, corre-se o risco, como diz Maria Luiza Belloni, de se aumentar o fosso entre os modos de ensinar, baseadas na cultura da escrita e da imprensa, e os novos modos de aprender, desenvolvidos pelas crianças e adolescentes ‘nativos’ da era digital, no contato com as novas mídias.