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Escola Politécnica de Saúde completa 20 anos

Fachada do novo prédio da Escola Politécnica de Saúde
Fachada do novo prédio da Escola Politécnica de Saúde

Nesta sexta-feira (19/08) a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), uma unidade da Fiocruz, completa 20 anos. Desde o ano passado sediada em um novo prédio no campus de Manguinhos, a Escola é reconhecida pelos expressivos exemplos de sua atuação na educação profissional em saúde. A EPSJV coordena a Secretaria Técnica da RET-SUS, sedia a Estação de Trabalho Observatório dos Técnicos em Saúde, coordena e executa o Programa de Formação de Agentes Locais em Vigilância e Saúde em todo o território nacional, criou o Programa de Pós-graduação em Educação Profissional e está implantando a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) em Educação Profissional em Saúde, além de diversos projetos e programas de ensino médio integrado, iniciação científica e de ensino e pesquisa nas áreas de formação técnica em atenção, gestão, vigilância, informação e registros, manutenção de equipamentos e laboratório de saúde.

Em agosto de 1985, quando um grupo de professores ocupou meia dúzia de salas de um antigo prédio da Fiocruz, com o objetivo de formar técnicos na área da saúde, talvez não imaginasse que 20 anos após esse projeto estaria devidamente instalado em cinco mil metros quadrados de uma moderna construção. 'É como um filho seu: no começo da vida, você nunca sabe como vai ser exatamente, mas sonha alto, planeja e deseja tudo de melhor para ele'. O autor da frase, que traduz a expectativa com o futuro da EPSJV, é o sociólogo Arlindo Fábio Gómez de Sousa, um dos criadores da instituição e atual chefe de gabinete da Presidência da Fiocruz.

Além de ser um dos fundadores do antigo Politécnico de Saúde Joaquim Venâncio, como foi denominada a EPSJV naquele momento, Arlindo Fábio presenciou seu momento de criação. Foi numa conversa ocorrida num bar em Bonsucesso, na Zona Norte do Rio de Janeiro, que o professor Luiz Fernando Ferreira apresentou a idéia a ele e ao presidente da Fiocruz, o sanitarista Sergio Arouca. 'Queria dar oportunidade a meninos que estavam em colégio conhecerem e aprenderem como funcionam um laboratório e a pesquisa científica', recorda Ferreira. A partir da conversa no bar estava dado o pontapé inicial para o desenvolvimento da Escola, que além de proporcionar a democratização do conhecimento da técnica, da cultura e da ciência, como almejaram ses criadores, tornou-se, recentemente, centro colaborador da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a educação de técnicos em saúde.

A fonte de inspiração foi a trajetória do brilhante técnico de laboratório do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) Joaquim Venâncio. Braço direito do cientista Adolpho Lutz, Venâncio deu contribuições importantíssimas à pesquisa científica devido à sua capacidade de observar e aplicar seus conhecimentos empíricos.

Ampliação e desenvolvimento da atuação da Escola

Nos primeiros anos, três modalidades de cursos foram esboçadas. No programa, aulas voltadas ao pessoal já absorvido pela rede de saúde, oferecidas mediante convênios com instituições do setor; cursos aplicados segundo demanda dos próprios serviços de saúde; e outros regulamentados pelo sistema formal de ensino, com habilitações técnicas de segundo grau.

Alunos têm aula em laboratório, sob a supervisão de professor
Alunos têm aula em laboratório,
sob a supervisão de professor

Inicialmente dirigido por José Fernando Verani até 1986, o Politécnico tem suas atividades iniciadas por meio de duas frentes de trabalho: uma desenvolvida no âmbito estrito da instituição, com cursos de manutenção de equipamentos básicos de laboratório, de agente de saúde em alcoolismo, de auxiliar de creche e outra que se constituiu de ações conveniadas com várias instituições, em nível nacional e internacional. Como exemplo destas ações conveniadas estão o curso de formação de agentes de saúde pública, em parceira com Secretaria Estadual de Saúde e Higiene do Rio de Janeiro e a Unicef, e o curso de registros médicos e estatística de saúde, com a Secretaria Nacional de Programas Especiais de Saúde e a Organização Pan-americana de Saúde (Opas).

Em 1987 ocorreu na unidade um importante encontro para a construção de um novo projeto pedagógico, o seminário Choque teórico, que teve a participação de pensadores da educação como Gaudêncio Frigotto, Demerval Saviani, Miriam Jorge Warde, Nilda Alves e Zaia Brandão. A discussão entre estes intelectuais levou à conscientização da ampliação da Escola como um espaço de criação, de reflexão e de produção intelectual e material, voltado ao fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e ao desenvolvimento científico e tecnológico em saúde, considerando o trabalho como princípio educativo.

Sendo assim, após o período de sua formação, até 1993, quando encerra o mandato de Antenor Amâncio Filho, a EPSJV consolida-se como unidade técnico-científica da Fiocruz. Nesse momento de afirmação, a Escola adquire a missão de promover a educação profissional de nível básico e técnico em saúde, no âmbito nacional. Desde então, a Escola, sob a direção de Tânia Celeste Mattos Nunes em uma linha depois aprofundada pela gestão do atual diretor, André Malhão, vem oferecendo não só cursos como também a produção de currículos, formulação e disseminação de modelos educacionais e coordenação de programas de ensino em área estratégica para a saúde pública. No campo das publicações, a unidade também vem se destacando com a produção do periódico científico Trabalho, Educação e Saúde.

Outras grandes conquistas ligadas à atuação da EPSJV podem ser observadas em algumas das trajetórias de cerca de 12 mil alunos formados. No caso da ex-aluna Aline Trigueiro, formada em uma das primeiras turmas do ensino profissional, em 1989, a Escola teve importância crucial na escolha da profissão. 'Ter estudado no Politécnico fez a grande diferença na minha história de vida, principalmente quando considero a origem de classe da qual provenho. Na Escola eu obtive não somente o acesso ao conhecimento formal, mas também o acesso a uma educação cidadã, crítica e reflexiva sobre o mundo em que vivo e, além disso, o estímulo e o compromisso de tornar esse mundo algo melhor', disse Aline, em mensagem eletrônica enviada de Oxford, na Inglaterra, onde está atualmente desenvolvendo uma parte da pesquisa relacionada ao tema do seu doutorado em sociologia ambiental, em curso na UFRJ.

Novos desafios e antigos objetivos

André Malhão
André Malhão

Apesar da consolidação de vários projetos, a atual gestão da Escola Politécnica ainda busca novos desafios. 'É preciso aumentar o foco e a clareza de projetos como a assessoria e a consultoria às demais escolas técnicas, o fomento à pesquisa, e outros projetos que estão em curso, como a Biblioteca Virtual de Saúde, a Secretaria Técnica da Rede de Escolas Técnicas do Sistema Único de Saúde, a cooperação internacional nesta área e em especial o mestrado de educação profissional em saúde, em nível nacional', informa o diretor André Malhão, reeleito em abril deste ano.

Para Malhão, a principal diferença entre o Politécnico de 2005 e a instituição implantada na década de 80 reside no fato de que seu trabalho de apoio e consolidação da educação profissional deve ser compreendido nacionalmente e não apenas pela formação de técnicos de saúde em nível local. Enquanto em 1985 a intenção era fortalecer projetos que surgiam devido à transição para reabertura política, no momento atual o Politécnico almeja expandir seu espaço. No entanto, o diretor acredita que o objetivo da EPSJV continua sendo o mesmo de 20 anos atrás: a consolidação e fortalecimento de uma educação profissional em saúde politécnica, pública e estratégica.

Programação

A programação do dia 19 será iniciada às 14h, com a abertura da exposição Politécnico da Saúde: uma conquista da democracia, com fotos e textos sobre os momentos históricos que antecederam o surgimento da EPSJV. Durante a cerimônia de abertura haverá a posse dos novos coordenadores de laboratórios e dos representantes dos trabalhadores no Conselho Deliberativo da unidade. Também ocorrerão lançamentos editoriais e de novos sites institucionais da Escola.

Logo após, às 15h, será exibido um documentário produzido por ex-alunos sobre o Politécnico e, em seguida, um grupo de atuais estudantes encenará uma peça escrita por eles. A tarde comemorativa continuará com a apresentação de um sarau-homenagem à Escola, em que todos os presentes serão convidados a participar com diversas contribuições artísticas, como declamação de poesias e apresentação de esquetes teatrais e bandas musicais.

Para encerrar, o novo pátio circular, onde ficará a exposição, vai se transformar em pista de dança. O DJ tocará músicas representativas dos anos 80. A idéia é homenagear a década de surgimento da EPSJV e proporcionar a confraternização e a diversão para alunos, ex-alunos, trabalhadores, ex-trabalhadores e a todos que tiveram sua história ligada ao Politécnico.