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Formação em Saúde no Pré-Abrascão

Pesquisadores discutiram a relações entre Educação Permanente e Educação Interprofissional na saúde
Portal EPSJV - EPSJV/Fiocruz | 26/07/2018 11h34 - Atualizado em 01/07/2022 09h45

‘A formação em Saúde: diálogos e conexões entre Educação Permanente e Educação Interprofissional’ foi tema da mesa que encerrou o 2º Simpósio Internacional Trabalho e Educação na Saúde, realizado nos dias 24 e 25 de julho, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).O evento fez parte das atividades preliminares do 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão). Sob coordenação da diretora do Departamento de Gestão da Educação na Saúde (Deges/Ministério da Saúde), Cláudia Brandão, o debate reuniu José Rodrigues, consultor internacional da Organização Pan-americana da Saúde (Opas/OMS), Mario Rovere, médico-sanitarista e consultor da Opas/OMS, e Ana Luiza de Oliveira, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

José Rodrigues falou sobre como o tema da Educação Interprofissional (EI) está sendo incorporado às políticas de educação na saúde e como essa abordagem vem sendo discutida no âmbito da Opas/OMS. Segundo ele, a EI em saúde é uma abordagem educacional que traz em seu escopo o desenvolvimento de competências para o trabalho em equipe, onde dois ou mais membros atuam juntos com propósito explícito do desenvolvimento de competências para o trabalho em equipe. “Esse é o grande diferencial da Educação Interprofissional: ser um estilo educacional com abordagem pedagógica para o desenvolvimento proposital de competências e habilidades para as práticas colaborativas para o trabalho em equipe”, definiu.

Essa estratégia, de acordo com Rodrigues, é vista como comprovada evidência de que a EI pode contribuir para melhorias dos sistemas de saúde ao formar profissionais mais aptos para o trabalho em equipe. “Com isso, há redução de custos na atenção à saúde, além de melhorias do cuidado na atenção e na segurança do paciente”, destacou.

Sobre as conexões entre a EI e a Educação Permanente em Saúde, Rodrigues apontou que a Opas/OMS tem estimulado os países a pensar no porquê de formar para o trabalho em equipe no âmbito da saúde. “É de grande valia mencionar que hoje os profissionais se formam separados para, na prática, atuarem juntos. Nas práticas de Educação Permanente em Saúde, que conta com diversos profissionais atuando de forma compartilhada, não há nada mais oportuno que o desenvolvimento de competências e habilidades do cotidiano do trabalho em saúde no desenvolvimento de modelos de formação que se utilize a EI”, afirmou o consultor, que completou: “É mesmo um modelo competente e de grande utilidade para superar esse isolamento que acontece na graduação”.

Rovere destacou que os regimes políticos no Brasil, assim como na América Latina como um todo, têm colocado o ajuste fiscal acima das políticas sociais. No caso da Argentina, ele afirma que o orçamento para a saúde é muito pequeno e 80% dos médicos vêm das universidades públicas e gratuitas. "Essa situação tem gerado um impacto também no Brasil, porque universidades argentinas estariam se colocando como os principais formadores de médicos para o Brasil", afirmou.

Sobre a lógica da privatização, Rovere atentou para a nova terminologia ter se naturalizado. O discurso usado é que o privado é visto como a vítima porque foi privado pelo estado. "Mas quando pensamos na relação do público e privado nos estados e municípios, percebemos que o privado é líquido, se move, não tem territórios. Não se pode colocar no mesmo nível a situação da política pública e a situação da extensão do setor privado", explicou.

Rovere ressaltou a dificuldades de formação com a 'Uberização' da força de trabalho em saúde, que para ele, é o contrário da ideia da Educação Permanente. "Como fazer Educação Permanente com pessoas que não têm estabilidade?", questionou, acrescentando que o Brasil tem um enorme território para a Educação Permanente em Saúde: "Não tem nenhum outro país com a institucionalidade da Educação Permanente como o Brasil. E essa institucionalidade tem ainda a possibilidade de crescer, não nos termos orçamentários, mas nos termos das parcerias. Ainda tem muita possibilidade de acrescentar parcerias para a Educação Permanente, na medida em que se consegue discutir os paradigmas do tema".

Ana Luiza apresentou a experiência da implementação de uma Escola de Medicina no Sertão Nordestino brasileiro, que segundo ela, foi construída num contexto de seca de Caicó, na região do Seridó, no interior do Rio Grande do Norte. “É em um Nordeste de seca e, onde apenas 27% dos médicos atendem 80% da população, onde verificamos uma grande escassez de profissional, dificuldades de fixação profissional e uma necessidade de redução das desigualdades regionais, que se cria a Escola Multicampi de Ciência Médica”, contou.

Criada há quatro anos, a Escola de Medicina, atualmente, tem cinco turmas de medicina, cinco programas de residência, sendo duas multiprofissionais, além de um Mestrado Profissional em Educação, Trabalho e Inovação em Medicina. Apesar de pouco tempo de existência, Ana Luiza apontou alguns resultados locais: “Existe um fortalecimento das equipes de saúde da família, do vínculo e da participação da comunidade em práticas colaborativas, o desenvolvimento da responsabilidade social”. Como dificuldades e desafios, a professora destacou a necessidade de um planejamento e gestão da saúde na perspectiva estatal, além da busca por uma maior integração com os programas de residência multiprofissional e a possibilidade de existência de núcleos de formação permanente, que não existem na região.