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Inovar para o capital ou para o social?

Conferência opõe visão voltada ao aumento da competitividade no mercado à  visão que pretende ampliar benefícios sociais da inovação
André Antunes - EPSJV/Fiocruz | 28/05/2015 08h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h47

A relação entre inovação, empreendedorismo, produtividade e competitividade foi o foco da conferência “A importância da integração do Ensino, Pesquisa e Extensão para a promoção da inovação”, nesta quarta-feira, segundo dia do Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica, em Recife (PE). A conferência reuniu o secretário de Educação de Pernambuco, Frederico Costa Amâncio, o secretário de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação (Setec/MEC), Marcelo Feres, e o professor da Universidade de Barcelona, Oriol Homns.

O secretário de Educação de Pernambuco apresentou dados para argumentar sobre a relação entre desenvolvimento e inovação nos países com melhores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). Segundo ele, há uma significativa coincidência entre os países com IDH mais alto e os com maiores números de patentes registradas. Frederico Amâncio apontou ainda a relação entre o IDH e o ranking do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA, do inglês Programme for International Student Assessment) que avalia a qualidade da educação nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e desse com o índice de inovação global. Ou seja, quanto maior o IDH do país, mais bem avaliado ele é no PISA e mais alto ele figura no ranking de países com mais patentes. “Educação, inovação e empreendedorismo caminham juntos. Essa linha de trabalho é determinante dentro do processo de inovação porque uma melhor educação vai implicar em profissionais mais competitivos e ampliar o interesse dos jovens no processo de inovação”, afirmou Amâncio. Para ele, o processo educacional deve incentivar a inovação entre os jovens desde o ensino fundamental. Amâncio usou como exemplo um grupo de jovens de Pernambuco que foi vencedor da Imagine Cup, competição internacional promovida pela Microsoft, além de estudantes da Escola Técnica Cícero Dias, em Recife (PE), finalistas de uma competição na área de tecnologia patrocinada por empresas do Vale do Silício, como a Google.

Para Oriol Homns, da Universidade de Barcelona, a formação profissional é a que melhor pode formar pessoas para produzir produtos e serviços que as economias necessitam num mundo que muda de maneira muito rápida. Essas mudanças implicam uma transição da formação profissional; anteriormente ela estava voltada para ensinar um ofício a operários que não tiveram oportunidade ou dinheiro para estudar. “Hoje ela é a porta de entrada para o mercado de trabalho. A educação profissional forma os profissionais que a indústria e o serviço querem”, disse Homns. O aumento da concorrência e da competitividade em decorrência da globalização, continuou, implicam numa necessidade de se investir na inovação dos processos produtivos, sob o risco de perda de competitividade no mercado mundial. “Os países mais competitivos não são os que tem mais universitários, são os que tem mais profissionais de nível médio qualificados”, afirmou. Segundo ele, para que a formação profissional promova a inovação deve estar integrada ao que chamou de “ecossistema de inovação”, que engloba “capital humano” – formação profissional, universidades e empreendedores – “capital tecnológico”- pesquisa e desenvolvimento, centros tecnológicos – e “capital organizacional”- administração pública, capital de risco e empresas.

Já Marcelo Feres, secretário de Educação Profissional e Tecnológica do MEC, ressaltou a necessidade de entender a inovação para além da lógica da produtividade e da competitividade apenas. “A promoção da inovação certamente traz grandes oportunidades de aumentar competitividade e produtividade do país, no entanto, essa oportunidade não pode ficar restrita apenas a essa lógica, é preciso que ela se vincule a uma lógica de inclusão e acesso. Os benefícios da inovação não podem reproduzir uma lógica onde há cada vez mais concentração dos que tem acesso aos benefícios gerados enquanto uma massa não consegue ter acesso sequer às condições mínimas de vida”, argumentou. Feres lembrou que para muitos processos produtivos hoje não há necessidade de aumentar a produtividade. “Produzimos mais alimentos do que a humanidade necessita, por exemplo, mas temos problema de acesso. Isso não nega a relação com setor produtivo, mas é uma leitura equivocada no cenário mais amplo. A inovação pode trazer mais produtividade, como na agropecuária, por exemplo, mas pode trazer mazelas sociais profundas. É preciso um olhar mais amplo, em que a inovação esteja focada na melhoria da condição humana, da qualidade de vida”, defendeu, e concluiu: “É nesse sentido que defendo a inovação, sobretudo na dimensão da política pública, que nos permita avançar na direção de um mundo cada vez mais justo”.