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Protestos de movimentos sociais marcam ato em defesa do SUS na abertura da 15ª CNS

Militantes de movimentos sociais protestaram contra a mineração e contra os agrotóxicos durante a marcha, que reuniu 10 mil pessoas em frente ao Congresso Nacional.
André Antunes - EPSJV/Fiocruz | 03/12/2015 09h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h46
Vestindo panos pretos sobre a boca e coletes pretos com caveiras brancas desenhadas, um grupo de mulheres forma um círculo no gramado em frente ao Congresso Nacional, em Brasília.  Algumas delas seguram bonecos naquela posição tradicional das mães que amamentam seus filhos. No rosto, os bonecos trazem a mesma caveira branca que estampa seus coletes. Algumas empunham cartazes com dizeres como ‘O leite materno está contaminado com veneno’ e ‘Alto consumo de agrotóxicos=má formação fetal’. Essa foi a forma encontrada por militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), durante a Marcha em Defesa do SUS, que abriu a 15ª Conferência Nacional de Saúde, contra o uso massivo de agrotóxicos pelo modelo agroexportador brasileiro, responsável por inúmeros agravos a saúde da população, entre eles a contaminação do leite materno de mulheres que foram expostas à pulverização aérea de agrotóxicos em plantações de soja em estados como o Mato Grosso. “O agronegócio tem representado pra nós uma forma de morte, que não é só pra quem está no campo e quem é trabalhador e trabalhadora do campo, mas também para o ambiente e toda a sociedade brasileira”, denuncia Mercedes Queiroz, da direção nacional do MST. “Por isso essa intervenção, para denunciar que o leite materno com o qual estamos amamentando nossos filhos e filhas está contaminado por agrotóxicos”, completa.
 
Enquanto o ato, que reuniu 10 mil pessoas, de diversas entidades ligadas à saúde, centrais sindicais e movimentos sociais, seguia pela Esplanada dos Ministérios, outra intervenção teve como cenário a fachada do Ministério das Minas e Energia, que foi alvo de inúmeras bexigas de lama atiradas por manifestantes. Era um protesto contra a falta de medidas tomadas pelo governo para punir as empresas Vale e Samarco, envolvidas no maior desastre ambiental da história do Brasil, o rompimento de uma barragem de rejeitos da mineração em Mariana, Minas Gerais. “O ato foi em solidariedade a Mariana e também a todas as populações que foram atingidas por essa forma de exploração mineral aqui no Brasil. Queremos fortalecer a mobilização das populações que estão na área atingida, de Minas ao Espírito Santo, para garantir pelo menos o direito à água para beber, peixe para pescar, e para que seja de fato feita justiça”, destacou Mercedes Queiroz.

Durante a marcha, sobrou também para outros ministérios identificados pelos manifestantes como alguns dos principais obstáculos ao SUS atualmente. Em frente ao Ministério da Agricultura, o alvo foi a ministra Kátia Abreu, ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNA), que foi convidada pelos manifestantes para tomar um copo de agrotóxicos, “pra ver se não faz mal”. No Ministério da Fazenda, os protestos foram direcionados às políticas de ajuste fiscal, que significou um corte de recursos para a saúde da ordem de R$ 11 bilhões.

Ampliar as fontes de financiamento da saúde foi uma das reivindicações mais presentes durante o ato, puxadas principalmente por integrantes da Frente em Defesa do SUS, que reúne as entidades que integram o movimento Saúde+10, que reivindica 10% das receitas correntes brutas da União para a saúde. O movimento defende a votação do PLP 321/2013 que amplia o repasse de verbas para a saúde. “É uma briga importante, é preciso aumentar os recursos do sistema para que possamos garantir que todos os brasileiros tenham acesso à saúde”, afirmou o ex-ministro da Saúde, Arthur Chioro, durante a manifestação. A Frente defende ainda propostas de criação de novas fontes de financiamento para o SUS, como a taxação das movimentações financeiras, nos moldes da CPMF e das grandes fortunas.

Já Maria Valéria Correa, reitora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e integrante da Frente Nacional contra a Privatização da Saúde, salientou que é preciso garantir que os recursos públicos sejam destinados para o sistema público de saúde, e atacou as formas de privatização da gestão que vem sendo ampliadas, como as OSs e Oscips. “A gente defende sim mais recursos, 10% do PIB pra saúde como a 14ª Conferência Nacional de Saúde defendeu, mas exclusivamente para o setor público e estatal. Fora as parcerias público-privadas, fora Ebserh, fora as OS e fora as fundações estatais de direito privado!”, protestou Maria Valéria.