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Saberes populares na saúde e para além dela

Da educação popular ao respeito à  religião, evento discutiu a importância da troca de experiências com a população.
Viviane Tavares - EPSJV/Fiocruz | 17/04/2014 08h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h47

As mesas-redondas ‘Educação permanente em saúde: estratégias e desafios da formação no cotidiano dos serviços' e ‘Educação popular e diálogos com a participação, a gestão, o trabalho e a formação na saúde', que aconteceram no dia 11 de abril, no 11º Congresso Internacional da Rede Unida, tinham uma linha de coerência comum: o respeito aos saberes populares.

Na mesa sobre educação permanente em saúde, a pesquisadora do Centro de Saúde e Interculturalidade da Universidade de Bolonha, Brígida Marta, falou sobre sua experiência em considerar as questões territoriais na formulação das políticas publicas. "A nossa proposta foi de organizar as estratégias a partir das necessidades reais, com autonomia e o empoderamento da população", explicou Brígida. Na mesma mesa, o coordenador da Formação Profissional na província de Santa Fé, Daniel Teppaz, defendeu ainda que a gestão das políticas não pode alienar as pessoas. "As pessoas têm que liderar processos, trabalhando com a ordem transversal. A gestão junto à população tem o desafio de mudar o rumo das coisas sem paralisar os serviços", ressaltou.

A mesa de educação popular debateu duas realidades inovadoras em relação à temática: a da Bolívia e do Equador. Vivian Camacho, especialista em Interculturalidade e Saúde do Ministério da Saúde da Bolívia, mostrou que as ações de saúde bolivianas estão diretamente ligadas aos povos tradicionais. "Hoje, os funcionários do Ministério da Saúde tem que falar a língua materna, assim como considerar as tradições dos nossos povos. É a primeira vez que temos um presidente indígena no mundo, e a Bolívia tem dado um passo importante nessa história latino-americana", destacou. Entre os exemplos citados por Vivian, estão a consideração da folha de coca como algo sagrado, assim como a formação de médicos incas, que levam em consideração os elementos da natureza na hora do cuidado. "A prática que estamos começando a combater é esse círculo vicioso de consumo de saúde hegemônico atual, que impõe a forma de viver através do consumo como a melhor saída e que diz que a sabedoria originária dos povos não é suficiente", informou.

A coordenadora do mestrado e diplomação de Educação Popular da Multiversidade Franscicana da América Latina, Pilar Ubilla, informou que o processo no Uruguai começou por meio das indagações. "Começamos a nos perguntar e perguntar aos outros, e ir à teoria para consultar outras coisas também. Esse tipo de troca não pode se reduzir a escrever um livro ou publicar um artigo em revista, ela precisa ser agregada à prática. Antes de tudo, precisamos reconhecer a educação popular como projeto político, com um novo paradigma de saber", acrescentou.

A professora Vera Dantas, do grupo Cirandas da Vida, da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza (CE) explicou o trabalho do grupo e como as ações são articuladas com as questões cotidianas. "Em Fortaleza, a violência é uma das principais questões, além disso, a remoção também é um assunto presente. Não podemos falar de acesso à saúde sem englobarmos essas temáticas", explicou. Ela lembrou ainda de duas importantes causas de luta: a aprovação da Política Nacional de Educação Popular e a comemoração do ano internacional da agricultura camponesa indígena em 2014. "Já temos uma aprovação de uma política no campo da saúde, mas precisamos de uma que perpasse todos os setores", defendeu.