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Saúde na América Latina

A saúde na América Latina  é tão plural  como os países que compõem este recorte continental, aponta professor da UFPE.
Viviane Tavares - EPSJV/Fiocruz | 17/11/2013 09h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h46

O  que  é  a  América  Latina?.  Com  essa  pergunta,  o  professor  da  Universidade  Federal  de Pernambuco  (UFPE)  Paulo  Henrique  Martins  começou  sua  explanação  na  palestra  'O  cenário político e social da América Latina: implicações para a saúde', no dia 15 de outubro, durante o VI Congresso  Brasileiro  de  Ciênciais  Sociais  e  Humanas  em  Saúde,  organizado  pela  Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).  Tão logo indagou, o professor respondeu à pergunta: o que os países têm em comum é uma história de muita dor e de lutas por direitos coletivos e humanos.

Paulo  Henrique  Martins  explicou que  há  quatro  padrões  de  desenvolvimento  prevalecentes  na América Latina: o desenvolvimento por desafios  econômicos­finaceiros,  com subalternização do social  ao  consumo,  que  ele  aponta  que  é  o  caso  do Brasil?  o  padrão  por  desafios  econômicos­ financeiros  com indexação dos direitos republicanos, que são os  casos do Chile  e Costa Rica? o padrão  de  desenvolvimento  por  direitos  coletivos solidários  com  apoio  econômicos  plurais,  que são os casos da Bolivia e do Equador? e o padrão por direitos igualitários com apoio em políticas econômicas coletivistas, como Cuba.

O professor, que apresentou cenários de diversos países, disse o Brasil tem de decidir qual é a sua identidade, se quer assumir sua origem como europeia ou a de mestiço, esta última portanto, com suas realidades distintas. “O Brasil precisa olhar para sua realidade. O que é o desenvolvimento hoje? O que vemos se desenvolver é um padrão de poder, e o Brasil está com padrões de desenvolvimeno mais trágicos”, analisou.

Referências

Paulo Henrique destacou que Cuba sempre foi referência de saúde para o mundo e os índices continuam mantendo o páis neste patamar: a cobertura da saúde pública é de 100%, a expectativa de vida é de 80 anos, mortalidade infantil de 4%. “Não podemos jogar Cuba fora. Precisamos fortalecer cada vez mais este país que foi o único que conseguiu romper com os poderes oligárquicos tão presentes na América Latina”, clamou .

O professor apontou também a Costa Rica como um país que tem seguido trajetória semelhante em termos de bons resultados na saúde pública. “Costa Rica sempre foi um país pobre, e isso pode tê-lo transformado em uma república mais solidária e menos desigual. Eles abriram mão do exército e a burguesia e o campesinato têm um pacto”, relatou o professor.

Caso Chile e Bolívia

Segundo ele, nos últimos 25 anos o Chile vivenciou a expansão do sistema privado de saúde, ao mesmo tempo em que o contexto neoliberal se efetivou no país. Mas, de acordo com o professor da UFPE, a cultura do  consumo  ainda não preveleceu,  e  a  cultura  cívica, fundamentada na defesa do básico para a vida social, ainda é forte no país. “Apesar do avanço do neoliberalismo, os chilenos ainda têm um fundo moral, cívico e político que defende direitos comuns, e ainda está representado, mas  pode desaparecer em pouco tempo”, analisou Paulo Henrique, que exemplificou: “No ano passado, eles tiveram  uma mobilização muito  grande  dos estudantes  em defesa  da educação  pública,  e a classe média apoiou essa luta”.

O caso da Bolívia, na avaliação do palestrante, é quase oposto ao do Chile. No país tem crescido o conceito do bem viver, que é a defesa dos direitos coletivos à vida, reorganizando as relações entre o homem e a natureza. “O cuidado é considerado um direito, a água, enfim, o foco central do país são os direitos coletivos”, explicou.

Crianças da América Central

O professor mostrou dados sobre a desnutrição infantil nos países da América Central. O primeiro lugar é reservado à Costa Rica, com 2,7%, seguido de Nicarágua, com 19, 3%. As piores posições foram a da Guatemala com 51, 9% das crianças e  Honduras, com 27, 1%.

Caso Brasil

De acordo com o professor da UFPE, tradicionalmente a história da proteção à saúde no Brasil revela duas características: é positivista autoritária, buscando tutelar a população desassistida  por  considerá-­la  incapaz;  e  liberal  mercantil,  privilegiando  o  indivíduo  que  pode comprar planos  de  saúde  e  consumir  as  mercadorias  do  capitalismo  médico.  “Somos  muito autoritários  em  tudo,  e  reproduzimos  isso desde  a  sala  de  aula,  lá  já  tratamos  os  alunos  como incapacitados, e o SUS não é outra lógica, além disso nos basearmos em programas assistencialistas”, explicou.