O que é a América Latina?. Com essa pergunta, o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Paulo Henrique Martins começou sua explanação na palestra 'O cenário político e social da América Latina: implicações para a saúde', no dia 15 de outubro, durante o VI Congresso Brasileiro de Ciênciais Sociais e Humanas em Saúde, organizado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). Tão logo indagou, o professor respondeu à pergunta: o que os países têm em comum é uma história de muita dor e de lutas por direitos coletivos e humanos.
Paulo Henrique Martins explicou que há quatro padrões de desenvolvimento prevalecentes na América Latina: o desenvolvimento por desafios econômicosfinaceiros, com subalternização do social ao consumo, que ele aponta que é o caso do Brasil? o padrão por desafios econômicos financeiros com indexação dos direitos republicanos, que são os casos do Chile e Costa Rica? o padrão de desenvolvimento por direitos coletivos solidários com apoio econômicos plurais, que são os casos da Bolivia e do Equador? e o padrão por direitos igualitários com apoio em políticas econômicas coletivistas, como Cuba.
O professor, que apresentou cenários de diversos países, disse o Brasil tem de decidir qual é a sua identidade, se quer assumir sua origem como europeia ou a de mestiço, esta última portanto, com suas realidades distintas. “O Brasil precisa olhar para sua realidade. O que é o desenvolvimento hoje? O que vemos se desenvolver é um padrão de poder, e o Brasil está com padrões de desenvolvimeno mais trágicos”, analisou.
Referências
Paulo Henrique destacou que Cuba sempre foi referência de saúde para o mundo e os índices continuam mantendo o páis neste patamar: a cobertura da saúde pública é de 100%, a expectativa de vida é de 80 anos, mortalidade infantil de 4%. “Não podemos jogar Cuba fora. Precisamos fortalecer cada vez mais este país que foi o único que conseguiu romper com os poderes oligárquicos tão presentes na América Latina”, clamou .
O professor apontou também a Costa Rica como um país que tem seguido trajetória semelhante em termos de bons resultados na saúde pública. “Costa Rica sempre foi um país pobre, e isso pode tê-lo transformado em uma república mais solidária e menos desigual. Eles abriram mão do exército e a burguesia e o campesinato têm um pacto”, relatou o professor.
Caso Chile e Bolívia
Segundo ele, nos últimos 25 anos o Chile vivenciou a expansão do sistema privado de saúde, ao mesmo tempo em que o contexto neoliberal se efetivou no país. Mas, de acordo com o professor da UFPE, a cultura do consumo ainda não preveleceu, e a cultura cívica, fundamentada na defesa do básico para a vida social, ainda é forte no país. “Apesar do avanço do neoliberalismo, os chilenos ainda têm um fundo moral, cívico e político que defende direitos comuns, e ainda está representado, mas pode desaparecer em pouco tempo”, analisou Paulo Henrique, que exemplificou: “No ano passado, eles tiveram uma mobilização muito grande dos estudantes em defesa da educação pública, e a classe média apoiou essa luta”.
O caso da Bolívia, na avaliação do palestrante, é quase oposto ao do Chile. No país tem crescido o conceito do bem viver, que é a defesa dos direitos coletivos à vida, reorganizando as relações entre o homem e a natureza. “O cuidado é considerado um direito, a água, enfim, o foco central do país são os direitos coletivos”, explicou.
Crianças da América Central
O professor mostrou dados sobre a desnutrição infantil nos países da América Central. O primeiro lugar é reservado à Costa Rica, com 2,7%, seguido de Nicarágua, com 19, 3%. As piores posições foram a da Guatemala com 51, 9% das crianças e Honduras, com 27, 1%.
Caso Brasil
De acordo com o professor da UFPE, tradicionalmente a história da proteção à saúde no Brasil revela duas características: é positivista autoritária, buscando tutelar a população desassistida por considerá-la incapaz; e liberal mercantil, privilegiando o indivíduo que pode comprar planos de saúde e consumir as mercadorias do capitalismo médico. “Somos muito autoritários em tudo, e reproduzimos isso desde a sala de aula, lá já tratamos os alunos como incapacitados, e o SUS não é outra lógica, além disso nos basearmos em programas assistencialistas”, explicou.