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Aumento das taxas de suicídio entre adolescentes exige reflexão social e coletiva

Os dados mais atuais do Ministério da Saúde sobre os números de suicídios na população de 11 a 19 anos apontam para um crescimento expressivo das mortes autoinflingidas.

Informações compiladas e divulgadas pelo jornal Folha de S.Paulo mostram crescimento de mortes dessa natureza, que chegou a 45% nas faixas de 11 a 14 anos e a 49,3% entre quem tem idades de 15 a 19 anos.

Essa alta ocorreu no período de 2016 e 2021. São dados preliminares, mas que já mostram potencial de crescimento geral superior a 17% nos suicídios entre adolescentes.

Paulo Amarante, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), afirma que é preciso uma visão mais ampla do conceito de saúde para reverter esse cenário.

"A questão do suicídio não deve ser equacionada exclusivamente um problema de assistência à saúde. Ela deve ser refletida à luz de todo o processo de desenvolvimento social, de um projeto de nação e construção da sociedade", afirma Amarante.

Na avaliação do pesquisador, há pontos essenciais da vida em sociedade que precisam ser resgatados.

"Solidariedade, políticas públicas, promoção da vida, da educação, da escola, do trabalho, da cultura, do esporte, e fundamentalmente das relações interpessoais."

Os dados nacionais mais recentes confirmam uma variação para cima que já está presente no Brasil há duas décadas e que coloca o país apartado da tendência mundial de diminuição dos suicídios entre adolescentes.

Os cinco estados que mais registraram casos foram Roraima, Mato Grosso do Sul, Amazonas, Amapá e Acre. Entre as jovens a alta foi mais expressiva do que entre os garotos. Ainda assim, as taxas gerais continuam maiores entre eles.

Paulo Amarante observa que a valorização excessiva da individualidade também está na equação que traz resultados tão preocupantes para o Brasil.

"Uma sociedade cada vez mais voltada para o individualismo, para uma individualidade exacerbada em que farinha pouca é meu pirão primeiro, em que as pessoas olham para as outras como ameaça, é uma sociedade que está deteriorando as relações de reciprocidade, de solidariedade, de reconhecimento mútuo, de cooperação e que está se voltando muito mais para a competitividade e para o isolamento social."

Arte, coletividade e saúde mental

Paulo Amarante é um dos coordenadores do projeto Estratégias culturais como alternativas de inclusão social de populações vulnerabilizadas no campo das políticas públicas sobre saúde mental: Estudo de caso na comunidade de Manguinhos, sobre ações criadas e desenvolvidas pelas próprias comunidades e que compõem uma verdadeira rede coletiva de manutenção do bem-estar social.

O estudo foi conduzido pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Laps/ENSP/Fiocruz) e coordenado pela Fiocruz em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a Queen Mary University of London (QMUL).

Em comum, as ações comunitárias têm, além da raiz local, o apreço essencial pela coletividade. Na visão de Amarante, essa potência coletiva é caminho para a proteção da saúde mental. O poder público, segundo o pesquisador, precisa atuar no fortalecimento e no incentivo desses movimentos.

"Se o suicídio está aumentando em uma comunidade é sinal de que alguma coisa está ocorrendo nessa sociedade. Não é só a pessoa que, individualmente, têm transtornos mentais, que devem ser identificados e tratados. Nós temos que pensar em que valores e princípios estão sendo desenvolvidos e consolidados em uma sociedade e que estão produzindo desqualificação das relações dos sujeitos com a vida", finaliza

Edição: Thalita Pires

Por: Juliana Passos e Nara Lacerda, do Brasil de Fato

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Repórter SUS