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Combate à dengue como negócio

Fábrica de mosquito transgênico é inaugurada e pressão aumenta para a comercialização do mosquito.
Viviane Tavares - EPSJV/Fiocruz | 31/07/2014 08h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h46

Foi inaugurada, no dia 29 de julho, a fábrica da empresa britânica Oxitec, responsável por produzir exemplares de aedes aegypti geneticamente modificados. Assim como noticiado pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) em maio deste ano, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) autorizou o método de mutação genética, mas a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não autorizou a comercialização. Se for aprovada na Anvisa, o Brasil será o único país a usar esses insetos transgênicos em escala comercial.

Os testes já foram realizados em locais como Panamá e Ilhas Cayman, mas os mosquitos não foram liberados para serem comercializados. Nos Estados Unidos, a pesquisa não chegou nem a ser autorizada. No Brasil, os municípios de Juazeiro e Jacobina, na Bahia, receberam a pesquisa, que começou no ano passado. A cidade de Jacobina, logo depois da experiência, decretou estado de emergência em relação ao aumento de casos de dengue. E agora no mês de julho, renovou o decreto de situação de emergência em face da epidemia da doença.

Em nota, a Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA) afirma que outra preocupação dos ecologistas é que não há segurança de que as larvas não sobrevivam, pois mesmo em condições ideais, 3% delas sobrevivem e, segundo a nota, a empresa que produz o mosquito sabe disso. No texto, eles informam sobre a pesquisa do engenheiro químico e professor da Escuela de Ingeniería Universidad do Chile, Camilo Rodriguez, que há quatro anos estuda os efeitos da tetraciclina, um antibiótico largamente utilizado, principalmente pela indústria pecuária, e que faz com que a larva do aedes aegypti sobreviva. "Segundo o estudioso, como o antibiótico pode estar no meio ambiente, a larva pode facilmente entrar em contato com essa substância. É impossível fazer pesquisas independentes sobre esse assunto, pois o mosquito é patenteado pela empresa que produz toda a literatura que temos a respeito, isso por si só já deveria ser motivo de desconfiança", aponta o comunicado.

Entre as ações realizadas para evitar que essa liberação seja dada pela Anvisa, a AS-PTA, Third World Network, RALLT e GeneWatch UK solicitam que a Agência demande da Oxitec-Moscamed a publicação dos resultados de seus experimentos em uma revista científica e suspenda os testes com a população e a comercialização dos mosquitos "até que seus efeitos sobre a incidência da dengue sejam devidamente avaliados e que seja colocado em prática um programa efetivo de monitoramento", informa a AS-PTA.

O agrônomo e representante da AS-PTA, Gabriel Fernandes, aponta que os problemas relacionados a esta aprovação podem trazer consequências à saúde da população. "Na pesquisa, eles avaliam o que acontece com o mosquito, a dispersão, a sobrevivência, até onde eles voam e se tem redução da população. Eles foram até aí. Os dados que esta empresa apresentou à CTNBio não falam em redução da dengue. E tem pesquisadores da própria CTNBio, que visitaram a região e afirmam que os experimentos com os mosquitos não são conclusivos", explica e completa: "A CTNBio deveria rever sua decisão levando em consideração a realidade vista em Jacobina e solicitar estudos sobre os efeitos dessas liberações na população local" , diz.

Como aponta a matéria publicada na Folha de São Paulo na edição de 30 de julho de 2014, enquanto espera a autorização da Anvisa, a empresa negocia com parceiros governamentais. "Já tivemos reuniões com cerca de 20 municípios para apresentar a técnica. É bem possível que façamos convênios de pesquisa com alguns deles nos próximos meses, até cidades do estado de São Paulo", afirmou o diretor global de desenvolvimento da Oxitec do Brasil, Glen Slade, ao jornal.

Veja mais detalhes em:

Boletim 679 da AS-PTA

 

 

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