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Encontro discute novos olhares sobre o idoso

Desinstitucionalização do modelo foi a principal bandeira levantada.
Sandra Pereira - EPSJV/Fiocruz | 18/11/2008 09h00 - Atualizado em 01/07/2022 09h47


A relação entre vida e morte norteou as discussões no II Encontro de Cuidadores em Saúde Mental da Cidade do Rio de Janeiro, realizado no auditório da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), no dia 13 de novembro. Ao abrir o debate, Daniel Groisman, coordenador do curso de Qualificação Profissional no Cuidado ao Idoso Dependente da EPSJV, provocou os presentes ao ler dois textos, publicados o Jornal do Brasil entre 1908 e 1909, que remetiam metaforicamente ao início e fim do ser humano, tendo como narrador um idoso, que, prestes a ser internado num asilo, discute se aquele espaço não seria nada mais do que um local onde se reúnem pessoas à espera da morte.



Também presentes no evento, Patrícia Albuquerque, coordenadora da gerência de Desinstitucionalização da secretaria de saúde do Rio (SMS) e Ruth Rocha, pesquisadora do Instituto Franco Basaglia (Uerj), dividiram a crítica à visão dominante do século passado segundo a qual o idoso não ocupa mais papel relevante na sociedade.



Apesar do tempo, Groisman assinalou que essa imagem ainda não foi ultrapassada. Pelo contrário: “Para alguns, inclusive muitos dos cuidadores, o asilo é quase um lugar fora do mundo, um lugar onde a velhice desamparada encontra caridade”, disse. A ruptura desse olhar sobre o idoso, segundo o pesquisador, só acontecerá se houver uma mudança estrutural, ou seja, a desinstitucionalização do modelo. “Hoje há apenas críticas à qualidade e não à política institucional”, falou, antes de fazer apresentação do curso de Qualificação Profissional no Cuidado ao Idoso Dependente oferecido pela EPSJV, que está na segunda turma. A instituição foi uma das seis escolas técnicas selecionadas pelo Ministério da Saúde, no ano passado, para participar da implantação do projeto-piloto do Programa Nacional de Formação de Cuidadores de Pessoas Idosas.



Para Patrícia Albuquerque, a maioria dos cuidadores não discute futuro com os idosos, postura que deve mudar segundo ela. A pesquisadora assinalou ainda alguns pontos extraídos de reuniões com cuidadores da rede municipal de saúde, que mostram a concepção equivocada do que é asilo. “Sexualidade, renda, capacidade de decisão são alguns temas levantados por alguns desses profissionais quando questionam os hábitos do idoso. Na opinião da pesquisadora, eles acreditam que, uma vez no asilo, a pessoa não pertenceria mais à dinâmica social, pois ali seus habitantes criam suas próprias normas.“Nossa tarefa é mostrar a quem vai trabalhar com esse público que o asilo não é um fim. Que todos ali têm direitos ao prazer e a gerenciar sua renda, por exemplo”, afirmou.



A diminuição do preconceito a essa população foi outro assunto lembrado pela representante da SMS. Para ela, a queda da discriminação se deve à atual fase do capitalismo. “Estamos num momento em que o consumo é a marca de valorização e status. Esse grupo social tem renda fixa que o permite consumir, amenizando possibilidade de discriminação”. Mas pondera: “Isso não quer dizer que o preconceito desapareceu, mas talvez tenha sido deslocado”.



A pesquisadora do Instituto Franco Basaglia, Ruth Rocha, direcionou sua apresentação para o respeito à diversidade. “Os cuidadores devem entender que o cliente deles tem personalidade, é uma pessoa ímpar”, disse. Segundo ela, a visão de que a diferença entre os indivíduos é um fator positivo ajuda o profissional a ter um entendimento contrário ao discurso das instituições tradicionais, segundo o qual a pessoa idosa está condenada a um destino inexorável do qual na há saída: a vida em branco.