2º Seminário Audiovisual da EPSJV discute Ciência e Cinema

A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) promoveu, no dia 28 de junho, o 2º Seminário Audiovisual e Educação. O encontro buscou articular o conhecimento científico com as práticas pedagógicas já realizadas por professores e pesquisadores de diversas instituições do país. O evento aconteceu um dia depois da 9ª Mostra Audiovisual Estudantil Joaquim Venâncio, realizada nos dias 26 e 27 de junho, também na EPSJV.

Ciência e cinema

Para tratar do tema ‘Cinema na construção do conhecimento’, o antropólogo e professor da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás (UFG), José Ribeiro, apresentou a experiência do projeto ‘Salto a Melgaço do Marajó, entre o Minho e o Amazonas’, coordenado por ele, em conjunto com Denise Cardoso e Alessandro Campos, coordenadora e vice-coordenador, respectivamente, do grupo de pesquisa em Antropologia Visual e da Imagem, da Universidade Federal do Pará (UFPA). O projeto, que teve início em 2016, objetivou aproximar as cidades de Melgaço do Minho, em Portugal, e Melgaço, que faz parte do arquipélago do Marajó, no estado do Pará, no Brasil, a partir de mostras de cinema e oficinas de audiovisual participativas com crianças e jovens.

Em 2019, foram realizadas oficinas de produção audiovisual com as crianças moradores do município de Melgaço (PA), juntamente com a Mostra de Cinema Juvenil, onde foram produzidos curtas-metragens dirigidos, filmados e roteirizados pelos próprios participantes das oficinas. “A ideia era criar uma atividade para mobilizar as crianças que vivem em uma das cidades com menor Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil e que não tem nada para fazer durante as férias senão tomar banho no rio”, afirmou. Ribeiro ressaltou que, a partir dessa experiência, foi possível compreender aspectos da identidade local, utilizando-se de técnicas de fotografia e produção fílmica e outras expressões de artes visuais.

Sobre a forma como o cinema pode ser inserido no espaço escolar, ele apontou a necessidade de se pensar em atividades integradas no currículo. “Assim podemos estimular a produção audiovisual de forma interdisciplinar, colocar os alunos em processos de curadoria e avaliação das produções. Precisamos pensar na formação a partir de novas formas, estéticas e tecnologias”.

Trabalhos

Na parte da tarde do seminário, houve a apresentação de trabalhos. A professora Etiene David falou sobre como ela inseriu o projeto ‘Animando na Escola’ na Unidade Municipal de Educação Infantil Professor Írio Molinari, em Niterói (RJ). Desenvolvido pela Assessoria de Mídias e Novas Tecnologias, da Prefeitura de Niterói, o projeto visa à produção de curtas de animação nas unidades da rede municipal. “Dentro do que estamos trabalhando com os alunos, escolhemos um tema. No caso do ano passado, observei um grande interesse dos alunos da educação infantil pela história ‘Os Três Porquinhos’ quando falávamos sobre tipos de moradia”, contou a professora, explicando que através de livros, vídeos e músicas são retirados os elementos para a montagem do filme. Ela destacou a participação coletiva durante todo o processo: “As crianças participam de toda a produção do roteiro, confecção do cenário e processo de fotografia”. Os curtas das escolas participantes são exibidos durante uma mostra no Cinema Reserva Cultural, em Niterói.

Os professores João Paulo Barreto Dias e Marcus Vinicius Moreira apresentaram o ‘Capturanga: Criação de imagens e sons com jovens em conflito com a lei do Degase [Departamento Geral de Ações Socioeducativas]’, um projeto que oferece cursos de audiovisual e stop motion aos jovens do Degase na Coordenação de Cultura, Esporte e Lazer (Cecel), no Rio de Janeiro (RJ). “Enquanto educador de audiovisual, o professor é um pouco refém no sentido metodológico. Estou numa sala e não posso sair com esses alunos para criar fora desse ambiente. As possibilidades de narrativas acabam entrando em uma espécie de fronteira imposta a mim e aos educandos”, afirmou Dias, ressaltando a necessidade de recorrer a dispositivos: “Fizemos filtros artesanais com garrafas pet ou gaze envolvendo a lente da câmera para termos películas específicas no filme. Além disso, todo o som usado no filme foi produzido em sala de aula ou retirado de arquivos”.

Moreira falou sobre a necessidade de desconstruir as temáticas trazidas pelos alunos: “A primeira temática que aparece é sempre voltada à violência. Então a gente tem que mostrar outras realidades e tentar despertar a afetividade e o sensível, diversificando a realidade que eles vivem de pessoas enclausuradas”.

Mostra

Nos dias 26 e 27 de junho, aconteceu a 9ª Mostra Audiovisual Estudantil Joaquim Venâncio, na EPSJV. Neste ano, 50 vídeos foram inscritos e 27 selecionados para a exibição, incluindo produções dos estados do Rio de Janeiro, Tocantins, Rio Grande do Norte e também da Argentina. Entre as temáticas dos filmes estavam o feminismo, o preconceito racial e o bullying. Foram exibidos, por exemplo, os curtas “Volta que deu errado”, produzido pelos alunos do ensino médio da EPSJV, na disciplina de Audiovisual, e “Nada Além da Noite” e “Adé de Erê”, dos ex-alunos da Escola Politécnica, Leonardo Maciel e Thais Ayomide, respectivamente. A apresentação dos curtas foi seguida de uma roda de conversa, mediada pelo coletivo de Negrxs do Politécnico, com a participação da atriz Léa Garcia. A programação também contou com um concurso de Cosplay, quando alguns alunos se apresentaram vestidos de algum personagem e realizaram uma cena de algum filme, clipe ou comercial.

Criada em 2011, a Mostra já recebeu mais de 300 filmes e exibiu cerca de 200 vídeos de diversas partes do Brasil e de outros países como Itália, Espanha, Portugal e Argentina.