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Aborto e preconceito no cerne do debate

Alunos do Ensino Médio da EPSJV retratam as desigualdades e os preconceitos que impactam as vidas das mulheres e das populações negra e LGBT
Julia Neves - EPSJV/Fiocruz | 01/09/2017 14h15 - Atualizado em 01/07/2022 09h45

Uma geração livre de preconceitos e de intolerância. Jovens que decidiram aproveitar o espaço escolar para discutir os problemas sociais de forma democrática e coletiva. Divididos em três grupos, alunos do Ensino Médio da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) realizaram, no dia 31 de agosto, a primeira reunião dos coletivos Feminista, Negros e Negras e LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros). Os temas abordados permearam o aborto e o assédio, as relações étnico-sociais no Politécnico e a relação do indivíduo LGBT com a sociedade. Na busca pela conscientização dos alunos, os coletivos produziram e espalharam cartazes pela EPSJV com frases como: ‘Eu não mereço ser estuprada’ e ‘Não quero o seu elogio, mas sim o seu respeito’.

No coletivo Feminista, um grupo de alunas contou relatos de situações constrangedoras que sofrem nas ruas, como cantadas e falas machistas. Júlia Barcelos, aluna do 4º ano do Ensino Médio, da habilitação de Análises Clínicas, e integrante do Grêmio da EPSJV, convidou os presentes para uma reflexão acerca da violência que as mulheres têm sofrido cotidianamente. Para a estudante, o coletivo reúne formas de mulheres se apoiarem nos cotidianos. “É importante discutir o assédio e o machismo na Escola. Assédio é quando a palavra de um homem é mais ouvida que de uma mulher, quando nosso discurso é rebaixado e ilegitimado”, afirmou Júlia, que completou dizendo que é comum que homens e mulheres reproduzam o machismo quase que involuntariamente, porque isso já está enraizado na sociedade: “Como conscientizar os meninos na Escola e mudar esse ambiente para que ele seja menos machista?”.

Com a contribuição da professora de sociologia da EPSJV, Valéria Carvalho, o coletivo Negros e Negras discutiu a apropriação cultural, genocídio da população negra e a luta diária contra o racismo. “A cor da pele está matando pessoas. Se negro corre, a polícia já acha suspeito”, indignou-se Fernanda Lima, aluna do 2º do Ensino Médio da EPSJV, da habilitação de Análises Clínicas.

Um dos resultados esperados da reunião do coletivo Negros e Negras foi incorporar os estudantes na organização e mobilização nas atividades do Projeto Sankofa, que reúne professores da Escola e objetiva avançar, instituir e tornar mais orgânico os estudos, as pesquisas, as atividades escolares e extraescolares sobre as questões e relações étnico-raciais.

Para pensar na inserção social dos indivíduos LGBT na sociedade e na Escola, o coletivo LGBT trouxe depoimentos sobre homofobia, aceitação da família e da sociedade e a relação da religião com a sexualidade. “É importante dar apoio às pessoas que sofrem preconceito, precisamos discutir isso nas escolas. É muito difícil ser aceito no colégio e, principalmente, em casa. Respeitar o próximo independentemente de classe, gênero e raça também faz parte da educação”, ressaltou a aluna do 4º ano do Ensino Médio da EPSJV, da habilitação de Gerência em Saúde, Mayara Duarte.

“Se a pessoa gosta do mesmo sexo, qual o problema? Será que vai ser sempre um tabu para vida inteira? Todos merecem respeito: LGBT, negros e mulheres!”, defendeu Winderson Miranda, do coletivo Transparente — um grupo de artistas e militantes LGBT (que aposta na arte e na cultura como ferramentas de transformação social.

Além do Transparente, o encontro reuniu convidados que já participam de outros movimentos, como integrantes do Juntas, um grupo que discute questões relacionadas à mulher.

Como surgiu

A ideia de construir coletivos surgiu há alguns anos com os alunos do Grêmio da EPSJV, que viram a necessidade de criar espaços em que pudessem dialogar e trazer questões polêmicas da sociedade. A proposta é que os alunos transformem essas reuniões em encontros frequentes para que as discussões permaneçam em foco no cotidiano escolar e que novas ações de conscientização — grupo de estudos, peças teatrais e oficinas — sejam pensadas coletivamente.